30 novembro 2005
Celso Furtado
“Forçar um país que ainda não atendeu às necessidades mínimas de grande parte de sua população a paralisar os setores mais modernos de sua economia, a congelar os investimentos em áreas básicas como saúde e educação, para que se cumpram metas de ajustamento da balança de pagamentos impostas pelos beneficiários de altas taxas de juros, é algo que escapa a qualquer racionalidade. Compreende-se que esses beneficiários defendam seus interesses. O que não se compreende é que nós mesmos não defendamos, com idêntico empenho, o direito de desenvolver nosso país”.
“Forçar um país que ainda não atendeu às necessidades mínimas de grande parte de sua população a paralisar os setores mais modernos de sua economia, a congelar os investimentos em áreas básicas como saúde e educação, para que se cumpram metas de ajustamento da balança de pagamentos impostas pelos beneficiários de altas taxas de juros, é algo que escapa a qualquer racionalidade. Compreende-se que esses beneficiários defendam seus interesses. O que não se compreende é que nós mesmos não defendamos, com idêntico empenho, o direito de desenvolver nosso país”.
29 novembro 2005
A dama de ferro
Luís Nassif
29/11/2005
Ontem, foi selado o fim da era Malan-Palocci na economia. Ao decidir manter o superávit primário em 4,25%, Luiz Inácio Lula da Silva tomou sua primeira decisão desde que assumiu o governo. Desceu do muro e acatou os argumentos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Do lado de Dilma, terá que responder implantando imediatamente sistemas de avaliação dos gastos públicos. Do lado de Palocci -ou de quem o suceder-, acabou o último pretexto para os juros altos. Antes, aumentavam-se os juros, porque se compensava com aumento de impostos. Depois, continuou a aumentar porque se podia elevar impunemente o superávit. Esse caminho também se fechou.Agora, só resta baixar de fato os juros.
Luís Nassif
29/11/2005
Ontem, foi selado o fim da era Malan-Palocci na economia. Ao decidir manter o superávit primário em 4,25%, Luiz Inácio Lula da Silva tomou sua primeira decisão desde que assumiu o governo. Desceu do muro e acatou os argumentos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Do lado de Dilma, terá que responder implantando imediatamente sistemas de avaliação dos gastos públicos. Do lado de Palocci -ou de quem o suceder-, acabou o último pretexto para os juros altos. Antes, aumentavam-se os juros, porque se compensava com aumento de impostos. Depois, continuou a aumentar porque se podia elevar impunemente o superávit. Esse caminho também se fechou.Agora, só resta baixar de fato os juros.
Reinventar o social
Mangabeira Unger
29/11/2005
Nesses 25 anos de mediocridade imposta, passou a vigorar no Brasil uma idéia perversa do social, recomendada por nossos tutores estrangeiros. O social não teria por tarefa capacitar a maioria assalariada do país. Seria espécie de caridade destinada a atenuar o sofrimento dos mais pobres enquanto o país segue a cartilha da confiança financeira e da imitação institucional a que se renderam seus quadros dirigentes.
Proponho reorientação radical. Em todos os campos, garantir o básico de oportunidades para todos -um primeiro trilho. E combinar essa universalização de oportunidades com um segundo trilho, de oportunidades especiais para os mais talentosos e esforçados.
Mangabeira Unger
29/11/2005
Nesses 25 anos de mediocridade imposta, passou a vigorar no Brasil uma idéia perversa do social, recomendada por nossos tutores estrangeiros. O social não teria por tarefa capacitar a maioria assalariada do país. Seria espécie de caridade destinada a atenuar o sofrimento dos mais pobres enquanto o país segue a cartilha da confiança financeira e da imitação institucional a que se renderam seus quadros dirigentes.
Proponho reorientação radical. Em todos os campos, garantir o básico de oportunidades para todos -um primeiro trilho. E combinar essa universalização de oportunidades com um segundo trilho, de oportunidades especiais para os mais talentosos e esforçados.
28 novembro 2005
Burocracia e ambigüidade
João Sayad
28/11/2005
Os Estados Unidos são protestantes. Vivem entre ondas de fundamentalismo e pragmatismo. O Brasil é católico. Deveria ser pragmático. Entretanto, subdesenvolvido, é vítima freqüente do fundamentalismo importado.
Pragmatismo é o nome da filosofia americana que define a verdade como aquilo que é útil e funciona. Quem vê o mundo de longe, a partir do laboratório ou de Washington acaba viciado em fundamentalismo.
No Brasil, ainda há economistas que defendem mobilidade maior do capital. Há duas semanas, foi proposta a manutenção por dez anos de um superávit primário de 5% -que, atualmente, já é de 6,6% do PIB. Campeão do fundamentalismo é o Banco Central na forma como administra o regime de metas de inflação e câmbio flutuante. O pragmatismo exige eterna vigilância.
A política econômica que dá certo é desenhada por uma combinação equilibrada de economistas cheios de princípios e de burocratas cautelosos. Como a boa cozinha, depende pouco da receita e muito do capricho do cozinheiro que tempera a comida devagarzinho, experimentando com a colher na panela. Tente fazer pastel de queijo lendo apenas o livro de receitas.
João Sayad
28/11/2005
Os Estados Unidos são protestantes. Vivem entre ondas de fundamentalismo e pragmatismo. O Brasil é católico. Deveria ser pragmático. Entretanto, subdesenvolvido, é vítima freqüente do fundamentalismo importado.
Pragmatismo é o nome da filosofia americana que define a verdade como aquilo que é útil e funciona. Quem vê o mundo de longe, a partir do laboratório ou de Washington acaba viciado em fundamentalismo.
No Brasil, ainda há economistas que defendem mobilidade maior do capital. Há duas semanas, foi proposta a manutenção por dez anos de um superávit primário de 5% -que, atualmente, já é de 6,6% do PIB. Campeão do fundamentalismo é o Banco Central na forma como administra o regime de metas de inflação e câmbio flutuante. O pragmatismo exige eterna vigilância.
A política econômica que dá certo é desenhada por uma combinação equilibrada de economistas cheios de princípios e de burocratas cautelosos. Como a boa cozinha, depende pouco da receita e muito do capricho do cozinheiro que tempera a comida devagarzinho, experimentando com a colher na panela. Tente fazer pastel de queijo lendo apenas o livro de receitas.
23 novembro 2005
É chegada a hora!
Nélson Rocha Augusto
23/11/2005
A análise da eficácia da política monetária como um instrumento de combate à inflação é particularmente complexa no Brasil. Não existe paralelo em outros países conhecidos no mundo que possuam um volume de crédito tão baixo quanto no Brasil. Apenas um terço desse montante é crédito livre, portanto, sensível à elevação da taxa de juros.
Temos convivido também com uma estrutura de taxa de juros negativamente inclinada, o que faz com que a taxa de juros futura seja menor que a presente. Para controlar a liquidez, a autoridade monetária, cumprindo as determinações do Comitê de Política Monetária, recorrentemente toma dinheiro no curto prazo, pagando taxas altas e, conseqüentemente, aumentando o prêmio pago ao agente que se posiciona no curto prazo, em detrimento daquele que alonga sua posição.
Ou seja, remunera-se melhor o investidor que está com recursos investidos no curto prazo, sujeito a menor risco e maior liquidez, do que o que está no longo prazo -o que é, no mínimo, uma inversão.
O Brasil encontra-se hoje com uma sólida estrutura na balança de pagamentos, o real está apreciado, há excelente nível de reservas internacionais, elevado nível de confiança na economia, redução na percepção de risco, crédito externo, crescimento na taxa de investimento, capacidade instalada para expandir a oferta mesmo no curto prazo, uma política fiscal em equilíbrio, o volume de crédito na economia ainda baixo, inflação dentro da meta e com excelente perspectiva para 2006 e, finalmente, nosso patamar de taxa de juros muito elevado.
Certamente, há muita coisa ainda a ser feita para que o Brasil se mantenha na trilha de crescimento sustentado por um longo período de tempo, mas, graças à conjugação de todos os fatores que procuramos salientar, é chegada a hora de reduzirmos, de maneira relevante e perene, a taxa de juros no Brasil, até para preservar o que já foi conquistado.
Nélson Rocha Augusto
23/11/2005
A análise da eficácia da política monetária como um instrumento de combate à inflação é particularmente complexa no Brasil. Não existe paralelo em outros países conhecidos no mundo que possuam um volume de crédito tão baixo quanto no Brasil. Apenas um terço desse montante é crédito livre, portanto, sensível à elevação da taxa de juros.
Temos convivido também com uma estrutura de taxa de juros negativamente inclinada, o que faz com que a taxa de juros futura seja menor que a presente. Para controlar a liquidez, a autoridade monetária, cumprindo as determinações do Comitê de Política Monetária, recorrentemente toma dinheiro no curto prazo, pagando taxas altas e, conseqüentemente, aumentando o prêmio pago ao agente que se posiciona no curto prazo, em detrimento daquele que alonga sua posição.
Ou seja, remunera-se melhor o investidor que está com recursos investidos no curto prazo, sujeito a menor risco e maior liquidez, do que o que está no longo prazo -o que é, no mínimo, uma inversão.
O Brasil encontra-se hoje com uma sólida estrutura na balança de pagamentos, o real está apreciado, há excelente nível de reservas internacionais, elevado nível de confiança na economia, redução na percepção de risco, crédito externo, crescimento na taxa de investimento, capacidade instalada para expandir a oferta mesmo no curto prazo, uma política fiscal em equilíbrio, o volume de crédito na economia ainda baixo, inflação dentro da meta e com excelente perspectiva para 2006 e, finalmente, nosso patamar de taxa de juros muito elevado.
Certamente, há muita coisa ainda a ser feita para que o Brasil se mantenha na trilha de crescimento sustentado por um longo período de tempo, mas, graças à conjugação de todos os fatores que procuramos salientar, é chegada a hora de reduzirmos, de maneira relevante e perene, a taxa de juros no Brasil, até para preservar o que já foi conquistado.
22 novembro 2005
Darcy Ribeiro
"O Povo Brasileiro"
"Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre marcados pelo exercício da brutalidade sobre aqueles homens, mulheres e crianças. Esta é a mais terrível de nossas heranças. Mas nossa crescente indignação contra esta herança maldita nos dará forças para, amanhã, conter os possessos e criar aqui, neste país, uma sociedade solidária."