31 agosto 2006

 


  • "Não sei se conseguiremos fazer tudo o que precisa ser feito. Possivelmente, tenho dúvidas. Não será por falta de esforço, de compromisso e lealdade aos princípios que nos fizeram chegar à Presidência que não vamos cumprir. Se não cumprirmos é por que haverá fatores extraterrestres."

    Lula
    31/08/2006

 

Um encontro com o presidente Lula
Paulo Nogueira Batista Júnior
31/08/2006

Na quinta-feira passada, o ministro Guido Mantega me telefonou transmitindo convite do presidente Lula para encontro com um grupo de intelectuais. Agradeci, mas perguntei: "A presenç
a caracteriza apoio ao candidato?". "Não", disse ele, "é apenas uma troca de idéias."

Procurei ser delicado, mas não pude deixar de destoar um pouco.

"Mas, no campo econômico, o governo foi uma decepção. As políticas foram exageradamente restritivas e, como resultado, o crescimento foi medíocre. O Banco Central tem sido especialmente rígido. Poucos sabem, mas a nossa inflação é hoje ligeiramente inferior à dos EUA! É também inferior à média da inflação nos mercados emergentes. Não obstante, a nossa taxa de juro básica continua em torno de 10% reais, quando a média nos principais países desenvolvidos e emergentes vem oscilando entre 1% e 1,5%."

Como o presidente parecia ouvir atentamente, resolvi ir um pouco mais longe: "Permita-me dizer que já existe no seu governo uma espécie de modelo do que pode ser feito na área econômica. O senhor nomeou para a cúpula do Itamaraty duas pessoas do ramo, Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães -isso o senhor tem agora na Fazenda com Guido Mantega. Sob a orientação da Presidência, e em articulação com seu assessor Marco Aurélio Garcia, o Itamaraty foi sendo renovado aos poucos com o afastamento gradativo de pessoas ligadas ao "antigo regime" dos principais cargos em Brasília e da maioria das embaixadas importantes. Com isso, criaram-se as condições para executar uma nova política externa. O mesmo precisa ser feito na área econômica, que continuou excessivamente sujeita a influências estrangeiras e do sistema financeiro".

Terminei com uma pequena provocação: "Não podemos continuar como estamos: entra governo, sai governo, e a diretoria do BC sempre dominada por pessoas do sistema financeiro ou ansiosas para desenvolver uma carreira brilhante nesse sistema. Espero que, num eventual segundo mandato seu, o Brasil entre em campo no BC e no resto da área econômica com menos jogadores escalados pelo lado adversário".


Da boca para fora
Jânio de Freitas
31/08/2006

Na exaltada reação às referências do "programa" de Lula ao seu governo, Fernando Henrique fez a observação correta de que "não adianta dizer que o sistema é culpado. O sistema tem muitos erros, mas moral é conduta, é pessoal, é individual. Quem falha tem que ser punido porque falhou." Poderia desenvolver a observação, com muita utilidade. Preferiu outra via: "Quando há desvio ou alguma coisa equivocada, ele [Lula, claro] passa a mão na cabeça e diz que o companheiro errou. Não. O senhor errou, porque não puniu o companheiro. Isso precisa ser dito e cobrado".

Como precisa ser dito e cobrado, também, que isso mesmo foi feito no governo Fernando Henrique. Flagrado e gravado ao fazer tráfico de influência em benefício de empresa estrangeira, dentro mesmo do Planalto, o embaixador Júlio Cesar Santos recebeu na cabeça a mão protetora do presidente e, ainda mais, o presente de uma embaixada em Roma. Os que avançaram no "limite da responsabilidade", para manipular privatizações, e tantos outros, saíram incólumes do risco de CPIs, por ação direta da Presidência.

A sinceridade melhorou um pouco, mas em mão única.


Cadê a política?
Roberto Jefferson
31/08/2006

É a opinião de muitos que esta é a eleição presidencial mais chata e vazia vista nas últimas duas décadas.


Numa eleição onde as campanhas estão, por assim dizer, uniformes, o que parece ter sumido é a própria política. Será que alguém consegue encontrá-la neste próximo mês?


Exportando empregos - parte III
Cristiane Brasil
31/08/2006


Provavelmente, nos próximos anos, a Volkswagem fará a transferência de suas fábricas do Brasil para a China. No fundo, o Brasil está sofrendo um processo retroativo. Estamos voltando no tempo e, com a manutenção dessa política externa, em breve estaremos somente exportando commodities. Dessa vez ao invés de sermos uma colônia dos EUA, como no passado recente, passaremos a ser um mercado colônia dos chineses, que levarão nossa matéria prima e nos devolverão produtos com valor agregado. Simplesmente trocamos de colonizadores.

30 agosto 2006

 

  • “Diria que a reunião dos intelectuais com Lula foi uma espécie de encontro mediúnico. Quem falou foi o Lula, pela boca dos intelectuais. Os presentes racionalizaram o discurso do presidente. Aí eu me lembro de Sartre, para diferenciar o filósofo do ideólogo. O filósofo é aquele que critica, que analisa, que se informa, que coloca matizes, que procura a diferença. O ideólogo é aquele que repete as palavras de ordem. Tem a função de tentar racionalizar o que é irracional.”

  • “Quando você pega o José Genoino, o Delúbio Soares, o José Dirceu e o Antonio Palocci é como se eles estivessem pagando com o próprio sangue a sobrevivência do Lula.”


    Roberto Romano
    30/08/2006

 

O legado do PSDB
Fernando Rodrigues
30/08/2006

O PSDB não é um partido. Já foi uma tese acadêmica e hoje se resume a alguns interesses eleitorais pessoais -os mais conhecidos sendo o do paulista José Serra e o do mineiro Aécio Neves.

Em certa medida, esse estado de desagregação do PSDB é um espelho do restante dos outros partidos políticos brasileiros. Em 2010, assistiremos a uma luta sangrenta no PT pelo espólio de Lula. Nas outras siglas, o cenário é de desolação.

Tudo para dizer que o PSDB está prestes a ser derrotado na eleição presidencial, mas, pelo menos, contribui ficando como um "caso para estudo" sobre como não deve ser constituído um partido político.

29 agosto 2006

 

  • "Me dói ver agora o próprio presidente da República dizer: 'não, todos são iguais'. Iguais não. Eu não sou igual a ele! Eu não sou igual a ele! Eu não sou igual a ele!"
  • "Eu o acompanhei nas greves quando havia ditadura. Eu queria ter sido igual a ele naquele tempo. Mas ele mudou. Ele hoje prega e faz tudo que combateu.”


    FHC
    29/08/2006

 

Mapa astral
28/08/2006
Sérgio Costa

Recém-rebaixado à categoria de planeta-anão no Sistema Solar, Plutão é regente do signo de Lula: Escorpião. A desqualificação, segundo especialistas, atingiu o astro quando transitava no meio do céu do presidente, a influenciar sua vida profissional.

Escrito nos astros ou coincidência, o rebaixamento de Plutão casou com uma mudança de ânimos na campanha. Lula, até então com atitude olímpica na liderança, resolveu dar uma espanada geral. Ele, que só tinha batido em Serra - ato falho?-, no fim da semana partiu para cima do real adversário Alckmin com críticas à educação em São Paulo e ainda saiu em defesa do aliado Marcelo Crivella no Rio ao atirar em Cabral Filho, ligando-o ao casal Garotinho.

Se a transformação do astro em planeta-anão influenciou a vida profissional de Lula, que andou declarando até o sonho de ser economista como antídoto ao elogio de ignorância a ele atribuída, atingiu também a de Alckmin. Os dois passaram a falar mais grosso e mais alto ao mesmo tempo. Por incrível que pareça, o ex-governador também é de Escorpião.


Descoberta, afinal, a utilidade dos intelectuais
Josias de Souza
29/08/2006

Descobriu-se, finalmente, para que servem os intelectuais: eles são as lavadeiras da República, os faxineiros da realpolitik. Dedicam-se a limpar a biografia de governantes que, no dizer casual-escatológico de Paulo Betti, viram-se forçados a “botar a mão na merda”.

O fato é que, a despeito do cocô, das más companhias e do jogo bruto, os intelectuais limparam toda réstia de nódoa que ainda pudesse haver no prontuário da era Lula. Lavaram, engomaram e passaram a ferro os escândalos. De quebra, emitiram um certificado de garantia à ética petista válido por pelo menos mais quatro anos. Em manifesto no qual se penduraram 213 assinaturas, a intelectualidade reclama apoio a Lula.

Mudam os faxineiros, mas o sabão é sempre o mesmo. Nos dias que correm, recorre-se à beira do tanque metafórico da intelectualidade ao mesmo tipo de sabão usado há bem pouco, por exemplo, por José Arthur Giannotti. Também ele justificou, sob espuma retórica, as incursões do amigo FHC pelo universo da amoralidade.

28 agosto 2006

 

Classe média, a grande ausente do debate eleitoral
Roberto Jefferson
28/08/2006

Há uns 15 dias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou "dramatização" nas campanhas eleitorais, ou seja, está faltando emoção. O que jaz no subconsciente de FHC, contudo, está explicitado nos programas eleitorais: Alckmin é o Lula sem barba; e Lula, o Alckmin barbudo. O PT e o PSDB são iguais, irmãos siameses. Têm os mesmos financiadores, a mesma política compensatória do FMI e o mesmo discurso socialista com práticas capitalistas.

Como acender ideologicamente o debate se tudo é igual, se não se dispõe de antagonismos? Como empolgar a sociedade se todo mundo já sabe que o maestro dessa orquestra política é o mercado financeiro?

Não há nada de novo sob o sol. A redemocratização não semeou esperança, porque todos se curvaram ante o poder dos banqueiros.

Já a classe média encolheu pela metade nos últimos 20 anos. Falta massa crítica porque a classe média se afastou do debate eleitoral, porque está deixando de existir. O Brasil corre o risco de se transformar em uma China - lá não tem classe média, só os burocratas do partido e os novos empresários.

É esta a falta de drama. O PSDB não sai da periferia do PT: é o mesmo discurso, a mesma prática; o discurso social com o acumpliciamento do capitalismo selvagem.
Alckmin está começando a despertar para esse discurso. Já que o PSDB o abandonou, ele que faça o discurso dramático à classe média que foi rebaixada. Que fale em ascensão social, propriedade privada. Falta o grande representante do povo, que é a classe média, até agora alijada. Aqui está o vácuo. Se Alckmin fizer esse discurso, põe o Lula no segundo turno.

27 agosto 2006

 

  • "Não dá para fazer política sem sujar as mãos",

    Paulo Betti
  • "Não estou preocupado com a ética do PT.
    O partido fez o jogo que tem que fazer para governar

    Wagner Tiso,

    27/08/2008
    (em reunião de artistas com Lula)

26 agosto 2006

 

Heloísa afirma ser a única capaz de derrotar Lula
26/08/2006

Nessa conta, a candidata também incluiu os movimentos sociais. Para ela, foi uma "aberração" a forma como eles foram utilizados na defesa do governo Lula. "Imagina se isso acontecesse -mensalão, sanguessuga- no governo passado. Eu não sairia das ruas. Todo dia faria mobilização: fora isso, fora aquilo", afirmou ela.

E completou: "Toda a estrutura do movimento social foi paralisada. Ela foi incorporada ao aparelho de Estado, à máquina pública. Houve claramente uma atenuação das tensões que pudessem resistir."

 

Para FHC, falta 'energia' a Alckmin para deter Lula
Josias de Souza
26/08/2006

O blog ouviu duas pessoas que conversaram com FHC nas últimas 72 horas. Descobriu que o ex-presidente descrê da capacidade de Alckmin de prevalecer sobre Lula. Todos os raciocínios desfiados por ele conduzem à impressão de que já jogou a toalha. Afirma, por exemplo, que falta “energia” a Alckmin para estabelecer o contraditório com Lula.

Para complicar, FHC avalia que sobra no adversário o vigor que escasseia no candidato de seu partido. Sem o “necessário contraponto”, Lula estaria conseguindo difundir livremente a idéia de que todos os partidos e todos os políticos “são iguais” na perversão. A tese, acredita FHC, já foi passivamente comprada pelo eleitorado. Daí a consolidação do favoritismo de Lula, a despeito de todos os “escândalos” que marcaram a gestão petista.

O que falta à análise de FHC é uma boa dose de autocrítica. O discurso da “indiferenciação” esgrimido por Lula encontra eco no eleitorado em parte por conta das práticas e costumes que vicejaram também sob a era FHC.

O mesmo balcão de negócios no Congresso. A mesma partilha de ministérios, rateados sem cerimônia entre representantes de partidos adeptos da fisiologia. E escândalos em quantidade nada negligenciável: Sudam, Sudene, compra de votos da emenda da reeleição, privatizações trançadas “no limite da irresponsabilidade”... A comparação joga água no moinho que “absolve” Lula e o petismo de seus pecados.

 

Gustavo Franco e as importações
Luís Nassif
25/08/20006

No lançamento de seu último livro, ontem em São Paulo, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, fez duas declarações no mínimo polêmicas –apesar do livro abordar temas não tem polêmicos.

1. Para combater a apreciação do real, o Brasil tem que aumentar as importações. Em 1994, Gustavo não apenas afirmou, como praticou. Com o real apreciado, abriu indiscriminadamente as importações. Arrebentou com a indústria brasileira e o real continuou apreciado.

2. Diz que, com a atual chuva de dólares, não há muito o que o Banco Central fazer para evitar a apreciação do real. Em recente polêmica com Marcos Garcia, da PUC-Rio, Gustavo diz exatamente o contrário: que acadêmicos costumam subestimar o poder de fogo do BC.

Gustavo é valente, inteligente. Sö que todo pensamento dele tem que passar por um viés ideológico fatal.

25 agosto 2006

 

Restou um caudilho
Clóvis Rossi
25/08/2006

Luiz Inácio Lula da Silva acaba de atingir o melhor índice de aprovação de um governante, na série histórica do Datafolha, batendo o recorde anterior, de Fernando Henrique Cardoso (52% para Lula contra os 47% que FHC chegou a obter uma vez). Aloizio Mercadante é o líder no Senado do governo que tem o recorde de aprovação. Logo, ele também deve estar roçando níveis pelo menos parecidos, certo? Errado, como todo mundo sabe. Mercadante tem apenas 18% das intenções de voto, na disputa pelo governo de São Paulo, separado de José Serra, o líder, por 30 pontos percentuais, mais do que a diferença que Lula obtém sobre Geraldo Alckmin.

No conjunto do país, o PT lidera apenas em Sergipe, no Piauí e no Acre, Estados que somam meros 3% do eleitorado e, ademais, são extremamente periféricos geográfica e politicamente.

Mas, em 2002, a identificação Lula/PT era indiscutível. Hoje, o PT minguou, Lula cresceu, sai o petismo, fica o "lulismo", o personalismo caudilhesco velho de séculos na América Latina.

 

O futuro
Jânio de Freitas
25/08/2006

O projeto da série Carochinha, apresentado solenemente pelo ministro Tarso Genro ao populoso e hipotético Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, planeja os índices econômicos para os três próximos mandatos presidenciais, mas nem com os métodos de Dona Baratinha ousa prometer crescimento para o Brasil de mais de 6% ao ano, e só a partir de 2008. Os países do grupo do Brasil, entre os "emergentes", há anos já crescem em torno de 9%, aí incluída a Argentina de Kirchner. E com juros que a imaginação lulista só prevê, por aqui, para 2010.

Neste novo volume da série Carochinha merecia figurar sentença inovadora de Alckmin, quer dizer, Geraldo, proferida como síntese do seu pensamento econômico em palestra agora para militares, no Clube de Aeronáutica. "O Brasil", receita ele, "precisa crescer para recuperar a capacidade de investimento". Foi derrubada a secular idéia de que primeiro se precisasse de investimento, para produzir a conseqüência do crescimento. Em alguma próxima palestra Geraldo, quer dizer, Alckmin, explicará como o crescimento se dará sem o investimento, que não será causa, mas conseqüência em seu governo, se eleito.

 

Plano para pôr o Brasil a serviço da Fiesp
J. Carlos de Assis
25/08/2006

O plano da Fiesp, entregue a Lula, repete a cantilena que vem sendo pregada dogmaticamente por Delfim Netto há tempos, e que contém uma dose cavalar de regressividade sob a capa progressista. O elemento simpático é a proposta de uma redução da taxa básica real de juros para 3%. Nisso estamos todos de acordo. Para se chegar a isso, porém, o caminho da Fiesp é o da preservação de um alto superávit primário para redução da dívida pública. A taxa básica não seria uma opção discricionária do Banco Central. Será o resultado da queda da dívida!

É difícil saber a quem a Fiesp quer enganar, se a Lula, se ao povo ou se a si mesma. A taxa básica de juros é uma decisão discricionária do Banco Central. Se fosse o resultado de forças de mercado, não era necessário existir banco central, pois praticamente sua única função atual nas economias capitalistas é fixar a taxa básica de juros. Claro, o BC pode levar em conta outros fatores, como, principalmente, a situação cambial para fixar a taxa básica de juros. Isso, porém, nada tem a ver com nível absoluto ou relativo da dívida pública.

Essa idéia de vincular a taxa básica de juros à dívida pública é um fetiche oriundo de uma teoria totalmente desmoralizada em seu próprio pais de origem, os Estados Unidos, e que aqui nossos formuladores insistem em levar a sério. Essa teoria diz que o sujeito que tem uma fortuna em dinheiro líquido não investe em títulos públicos se a dívida ultrapassar determinada relação com o PIB – a qual nunca é claramente especificada. Na Europa, essa relação foi fixada, pelo Tratado de Maastricht, em 60% do PIB. No nosso caso, como somos negros e mulatos, é menos.

Na verdade, nem há muito a descobrir. O instrumento para reduzir a relação dívida/PIB e promover o déficit nominal zero é o corte de gastos públicos não financeiros. Nos últimos dez anos, esses gastos têm oscilado não mais que um ponto percentual para cima e para baixo, em torno de 17% do PIB. A rigor, não há o que cortar, na medida em que os serviços públicos do País estão em total descalabro, e os salários dos servidores só foram revistos no governo Lula. Assim mesmo, a Fiesp insiste nessa banalidade, que não resiste a sequer uma vista superficial no orçamento.

Isso não é um plano para o Brasil. É um plano para a Avenida Paulista.

24 agosto 2006

 

Os reis da bufunfa
24/08/2006
Paulo Nogueira Batista Júnior

Por exemplo: os bancos sustentam que uma das grandes causas do elevado "spread" bancário (a diferença entre as taxas que os bancos cobram nos empréstimos e as que pagam a seus depositantes) é o volume de depósitos que eles têm de recolher ao Banco Central. Sugerem a redução desses depósitos compulsórios como forma de baixar os juros finais para as pessoas físicas e jurídicas.

Não há garantia de que os recursos liberados pela diminuição dos compulsórios se destinem a empréstimos adicionais. Uma parte considerável, até preponderante, pode alimentar a compra de títulos federais, remunerados às onerosas taxas praticadas no Brasil.

O resultado pode ser, por exemplo, um pequeno acréscimo do volume de crédito e uma queda também pequena dos juros para os tomadores. Por outro lado, aumentaria o custo médio da dívida pública, em razão da substituição de compulsórios não-remunerados ou relativamente baratos por títulos que pagam taxas elevadas. Em qualquer hipótese, os únicos beneficiários claros de uma diminuição dos compulsórios seriam os bancos, que trocariam ativos não remunerados ou mal remunerados por títulos governamentais com juros altos ou, alternativamente, por empréstimos a empresas e pessoas físicas a juros ainda maiores.

Sem a pretensão de ser exaustivo (o meu espaço está acabando), mencionaria as seguintes: a) utilização firme dos bancos públicos (BB,CEF, BNDES) para aumentar a oferta de crédito e a concorrência no mercado; b) reforma do Copom e do CMN para diminuir a influência do sistema bancário sobre a política monetária e a regulamentação financeira; c) redução da taxa básica de juro fixada pelo BC para níveis civilizados; d) implementação adequada do cadastro positivo de tomadores de crédito; e) revisão do papel do Cade na defesa da concorrência no mercado bancário.

 

UM BILHETE APENAS, A HELOISA HELENA:
César Maia
24/08/2006

Aquele seu -nem um nem outro- no debate da Band, pegou bem. Por que sua TV abandonou esta linha? Isso lhe daria pelo menos mais dois pontos e daria caminho para os que não sabem se votam ou anulam.

 

Fora da política não há salvação
Fábio Konder Comparato
24/08/2006

Neste período crescente náusea eleitoral, cometeríamos um erro funesto se virássemos as costas à política para nos dedicarmos unicamente aos nossos afazeres particulares. Esse absenteísmo é a pior forma de fazer política, pois representa o apoio incondicional ao statu quo oligárquico. Mas como vencer o desalento que nos invade?

O advento do capitalismo financeiro, fundado na usura ou em operações de pura especulação, acentuou de modo drástico essa tendência ao reduzir substancialmente as atividades industriais, não só no mundo desenvolvido mas também, precocemente, em grandes países subdesenvolvidos, como o nosso. As únicas exceções subsistentes (por quanto tempo?) estão na Ásia. Escusado dizer que o resultado imediato da desindustrialização é o desemprego em massa, cujos índices médios globais crescem sem cessar.

Só em nosso país, há, atualmente, 8 milhões de trabalhadores sem emprego. Exatamente por isso, hoje, o melhor recurso para ganhar eleições é a política assistencialista.

A política, no dizer de um grande sociólogo brasileiro, ou melhor, essa forma decadente de fazer política, digo eu, se tornou de fato irrelevante. Não esqueçamos que, durante o império, quando a escravidão antes aproximava do que afastava o partido conservador do partido liberal (daí o célebre dito: "Não há nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder"), tivemos a mesma sensação de desimportância da política.

Não há nada mais semelhante à coligação PSDB-PFL no poder do que o PT no governo. Que fazer?

A função eminente dos novos partidos já não será, então, a luta para alcançar o poder, mas, sim, o trabalho de educar e organizar o povo para que ele se ponha de pé e passe a exercer diretamente as funções que ninguém tem o direito de assumir em seu nome: a de decidir o seu destino e o futuro do país.

De outro lado, urge desbloquear e alargar, na ordem jurídica, o uso dos instrumentos de democracia direta e participativa -o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular, os orçamentos participativos-, sem os quais não existe verdadeira soberania popular.

23 agosto 2006

 

  • "Você culparia Cristo pela traição de Judas?"

    Marcelo Crivella
    ( candidato a governador do Estado do Rio
    pelo PRB - Partido Republicano Brasileiro -
    ao defender que Lula não sabia do mensalão)

    Crivella faltou a 86% das votações no Senado em 2006

 

Petista com questão pertinente? Achei um
Reinaldo Azevedo
23/08/2006

Um eleitor do PT posta um comentário com uma questão pertinente. E é educado. Assim pode. Respeitando as regras da casa. Basicamente, diz o seguinte: se 52% acham o governo Lula bom ou ótimo, será que essa gente toda está equivocada? Ele sugere que a campanha de Alckmin não está errada, mas que é impossível mesmo ganhar. Tá. Respondo porque é pertinente. É claro que há razões econômicas — embora tenham prazo para acabar, mas pouco importa para o tema — que explicam o sucesso de Lula nas urnas. Só que esse não é um critério absoluto. É apenas uma das variáveis. Ou jamais haveria alternância de poder nas democracias à esteira de governos virtuosos — e Lula nem chega a ser exemplo de virtude, não é mesmo?

Aliás, meu bom petista, a armadilha econômica é justamente aquela que os que defendem o atual modelo macroeconômico criaram para Alckmin. Lembro-me de quando Maílson da Nóbrega saudou a derrota de Serra na disputa interna pela vaga do PSDB. Disse ele: as eleições estão decididas, pouco importa quem vença. Maílson é um liberal como eu sou? Claro que não. Ele está se lixando para os valores do liberalismo. Quer o que considera um bom ambiente de negócios. E isso Lula garante em sentido amplo, geral e irrestrito. O topo da pirâmide, topo mesmo, vai muito bem e não quer mudar. Os bancos estão com Lula. A base da pirâmide, em razão do assistencialismo, virou clientela. O petista tem razão numa coisa: é difícil vencer essa equação.

 

Petista com questão pertinente? Achei um
Reinaldo Azevedo
23/08/2006

Um eleitor do PT posta um comentário com uma questão pertinente. E é educado. Assim pode. Respeitando as regras da casa. Basicamente, diz o seguinte: se 52% acham o governo Lula bom ou ótimo, será que essa gente toda está equivocada? Ele sugere que a campanha de Alckmin não está errada, mas que é impossível mesmo ganhar. Tá. Respondo porque é pertinente. É claro que há razões econômicas — embora tenham prazo para acabar, mas pouco importa para o tema — que explicam o sucesso de Lula nas urnas. Só que esse não é um critério absoluto. É apenas uma das variáveis. Ou jamais haveria alternância de poder nas democracias à esteira de governos virtuosos — e Lula nem chega a ser exemplo de virtude, não é mesmo?

Aliás, meu bom petista, a armadilha econômica é justamente aquela que os que defendem o atual modelo macroeconômico criaram para Alckmin. Lembro-me de quando Maílson da Nóbrega saudou a derrota de Serra na disputa interna pela vaga do PSDB. Disse ele: as eleições estão decididas, pouco importa quem vença. Maílson é um liberal como eu sou? Claro que não. Ele está se lixando para os valores do liberalismo. Quer o que considera um bom ambiente de negócios. E isso Lula garante em sentido amplo, geral e irrestrito. O topo da pirâmide, topo mesmo, vai muito bem e não quer mudar. Os bancos estão com Lula. A base da pirâmide, em razão do assistencialismo, virou clientela. O petista tem razão numa coisa: é difícil vencer essa equação.

 

Um presidente convicto de um futuro melhor
J. Carlos de Assis
23/08/2006

Lula está absolutamente convencido de que seu segundo mandato estabelecerá um diferencial em relação a tudo que se viu na história pregressa brasileira.

Tenho sido um crítico sistemático da política econômica do governo - mesmo porque a política econômica do governo, em seu sentido mais abrangente, tem sido sistematicamente neoliberal -, mas é difícil não se deixar envolver pela convicção do Presidente de que estamos prontos para começar uma nova era. Ele quer isso. E, dadas as circunstâncias eleitorais, é ótimo que ele o queira.

A onda da opinião pública está indo na direção oposta ao que prega Geraldo Alckmin, que é uma espécie de regressão pura e simples ao neoliberalismo puro de Fernando Henrique. Isso parece que o povo não quer. Prefere repetir Lula.

Heloísa Helena é uma alternativa da emoção, não da razão. Em que sentido ela é importante? Ela é uma espécie de consciência critica anti-neoliberal extraída das costelas do PT. Funciona como aquele escravo que ia ao pé da carruagem do general vitorioso na marcha triunfal pelas ruas de Roma, repetindo para ele a mesma frase: Lembras-te de que és mortal! É preciso que alguém diga isso a Lula, quando estiver no ápice de sua glória. Não te esqueças do imperativo de uma mudança profunda na política econômica, para que todas as suas propostas para outras áreas se realizem!

O que anima em relação a Lula é que ele próprio anuncia uma arrancada desenvolvimentista.

O que importa é conquistar o poder para usá-lo na direção correta, que é a direção da retomada.

22 agosto 2006

 

A questão é Lula
Reinaldo Azevedo
22/08/2006

Tanto a lógica mais elementar como a história recente evidenciam que ou se desgasta a imagem de Lula ou é impossível ganhar — insisto: eu não quero apenas disputar o segundo turno. Pensem na eleição passada, de Marta Suplicy. Seu governo era bem visto por uma larga fatia dos paulistanos. Mas sua imagem pessoal se desgastou, por motivos que, listados aqui, desviariam o foco. E, claro, havia um adversário muito forte, que soube explorar as fraquezas da administração e apresentar propostas substantivas.

Ora, segundo o Ibope, o governo Lula é aprovado por 57% dos entrevistados, e 41% o consideram ótimo ou bom; para outros 37%, é regular. Só 22% o vêem como péssimo. A força da candidatura do PT chama-se Lula. Tanto os petistas sabem disso, que o partido desapareceu do programa eleitoral; o vermelho sumiu; a estrela se tornou verde-amarela; a imagem do Babalorixá é objeto de disputa judicial em Pernambuco: até o candidato do PFL ao governo do Estado quer usá-la no horário eleitoral. Ou esse prestígio pessoal é abalado, ou nada feito. E, quando falo em ser abalado, não estou a sugerir que se opte pela baixaria.

Nada a ver?
Wladimir Pomar
21/08;2006

Depois que a senadora Heloísa Helena declarou que programa estratégico nada tem ver com programa de propostas eleitorais, e adotou uma linha de campanha economicista, pergunto-me como ficam aqueles que romperam com o PT, por achar que esse partido rebaixou seu programa estratégico às ingerências de táticas eleitorais.

Tanto vitórias quanto derrotas táticas podem representar avanços estratégicos se favorecerem o acúmulo das forças populares e o desgaste da direita. Ou podem representar retrocessos estratégicos, se desgastarem as forças populares e favorecerem a acumulação de forças da direita. Tomemos o caso das táticas para conquistar o apoio estratégico das camadas pobres. Essa maioria da população brasileira tem servido, há muito, de massa de manobra, ou mesmo bucha de canhão, para as classes dominantes de cada época histórica.

Em 1989, com a tática de não ter medo de ser feliz, pela primeira vez na disputa presidencial, uma parte dessas camadas deixou de lado o preconceito que nutria a respeito de seus próprios integrantes, ainda por cima chamados de socialistas, e votou Lula-Presidente. Deslocou-se da hegemonia mantida sobre ela por aquelas classes. Em 1994 e 1998, mesmo essa parte voltou à antiga influência, elegendo FHC. Em 2002, já meio escaldada e em meio à divisão da burguesia, migrou novamente para a esperança petista.

Porém, o deslocamento mais consistente só veio a ocorrer durante o governo Lula, devido aos programas sociais executados pelo governo. Não fosse isso, não teria sobrado caco do governo e do PT, bombardeados quase um ano inteiro, pelos dois flancos, sob a acusação de corruptos e traidores. Esse deslocamento é um dos méritos do governo Lula, mesmo que se reconheça que ele não significou uma tomada de consciência daquelas camadas, nem a elevação de seu nível de organização e capacitação para participar ativamente da vida democrática e fazer valer seus interesses.

Só o fato de ter ocorrido tal deslocamento já representa uma importante vitória tática. Com ela, criam-se as condições mínimas para que esse grande setor social brasileiro tome consciência de seus interesses, se organize e participe da vida política, mudando a correlação de forças. O que certamente será perdido, se Lula for derrotado. Ainda mais, com a ajuda dos que pensam que tal derrota representará um avanço no caminho do socialismo. Tática e estratégia: nada a ver?

21 agosto 2006

 

Cartel, juros e "spreads" bancários
21/08/2006
Marcos Cintra

A ficha caiu! Finalmente, economistas, consultores, jornalistas e técnicos do governo se convenceram de que o setor bancário é um cartel.

Há três anos, a falta de competição de preços entre os bancos não era tida como fator determinante dos escorchantes juros cobrados dos tomadores de crédito no Brasil. O problema era atribuído quase que exclusivamente aos altos patamares da taxa Selic. Em 2 de julho de 2003 o jornal "O Estado de S.Paulo" publicou o artigo "It's the spread, stupid", em que afirmei que a Selic era uma faceta importante, mas o aspecto fundamental para explicar os altos juros no Brasil residia no "spread" bancário.

A intenção daquele artigo foi destacar a atuação oligopólica dos bancos no país como geradora do "spread" superior a dez vezes a média dos praticados em outras economias emergentes.

É inadmissível que o setor continue captando recursos a 15% ao ano e cobrando juros que na média chegam a 38% no desconto de duplicatas, 51% no "hot money", 32% no capital de giro, 62% no crédito pessoal e 145% no cheque especial. Aplicando os maiores "spreads" do planeta e cobrando tarifas exorbitantes que cobrem 130% de suas folhas de pagamentos, os bancos no Brasil registram, de acordo com o consultor financeiro Carlos Coradi, lucratividade média de 24,7%, um pouco menos que os 26,9% dos eficientes bancos suíços. Vale lembrar que os dois maiores bancos privados brasileiros tiveram no ano passado rentabilidade superior a 30%.

O poder dos bancos precisa ser enfrentado. Uma forma do governo fazê-lo é não permitir que a CEF e o Banco do Brasil sejam peças do cartel, tornando-os um referencial para a concorrência no setor. Ademais, há que extirpar a promiscuidade que reina entre o setor bancário e o Banco Central, além de rever a legislação antitruste e o papel do Cade na preservação da concorrência no segmento financeiro.


Revisitando a questão do "spread" bancário
Gustavo Loyola
21/08/2006

Não resta dúvida que o "spread" bancário médio no Brasil é elevado tanto em termos absolutos quanto comparativamente a outros países emergentes.

A pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos, como comparar rentabilidade média

O que se deve evitar é que tais comparações deságüem em conclusões apressadas, tais como as que ignoram o papel negativo desempenhado pela existência de direcionamento obrigatório de crédito (financiamentos habitacionais e crédito rural, por exemplo) e as que superestimam o problema da "inexistência" de competição no mercado bancário brasileiro.

Aliás, a pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos tais como a comparação nua e crua entre as rentabilidades médias sobre o patrimônio líquido obtidas por instituições bancárias de países, cujos bancos centrais praticam taxas de juros básicas distintas

No Brasil, por exemplo, os bancos auferiram uma rentabilidade de 4,67% ao ano sobre a taxa Selic, enquanto nos EUA os bancos ganharam em média 8,96% ao ano sobre a taxa dos "FED funds".

19 agosto 2006

 

CARA SENADORA HELOISA HELENA
César Maia
18/08/2006

Sabia que seu crescimento entre os evangélicos é significativo? Talvez por seu "quase não maquiar". Pelas pernas sempre cobertas. Por seu "quase terninho branco". Pelo seu jeito "obreira" ou "pastora" de ser. Lembro que, outro dia, você dizia que seu socialismo você aprendeu na Bíblia. Uma sugestão. Fale isso mais vezes e use personagens e referências como exemplos. Entre os evangélicos você está passando para segundo e pode ser mais rápido.

 

Os "spreads" bancários
Luís Nassif
19/08/2006

Medidas tomadas pelo Banco Central nos últimos anos para baixar os “spreads” bancários:

1. Sistema de Pagamentos Brasileiro.
2. A nova Lei de Falências.
3. Liberdade cambial praticamente absoluta.
4. Concentração do sistema bancário, para permitir ganho de escala.
5. Inclusão dos créditos do FCVS utilizados no PROER no cálculo das exigibilidades dos financiamentos ao Sistema Financeiro da Habitação.

E o tal do “spread” ainda não baixou.

 

A PARTE E O TODO: EU EM CAIXA ALTA
Reinaldo Azevedo
19/08/2006

Insisto: eu espero, torço mesmo, para que o quadro eleitoral nacional se inverta. Mas também quero dizer que acho isso improvável. Um grupo político — no caso, as oposições — não comete tantos e sucessivos erros impunemente. A realidade cobra a sua fatura.- Errou quando não percebeu que Lula deveria ter sido apeado do poder — e havia motivos para tanto;

- Errou quando blindou Palocci na suposição de que se manteria uma economia estável, com um Lula fraco, que seria derrubado por um sopro;

- Errou quando tinha um candidato favorito, José Serra, que passou a ser atacado por líderes do grupo, como o próprio Alckmin e Aécio Neves. Em dezembro, Serra ganhava de Lula de lavada. Alckmin chamava aqueles números de “recall”. Em mais de uma entrevista, insistiu na necessidade de ele permanecer na Prefeitura. Imaginem só...

- Errou quando não puniu os seus dois únicos membros colhidos no valerioduto — num crime, de fato, pé-de-chinelo na comparação com os 40 quadrilheiros. E daí?;

- Errou quando, mesmo estando Serra tecnicamente empatado com Lula, e Alckmin com a metade dos votos (o número que tem hoje), desprezou quem tinha o dobro para ficar com quem tinha a metade;

- Erra agora, quando se assiste à mesma campanha seja para o governo do Estado, seja para a Presidência: Serra vence no primeiro turno, mas Lula também.

18 agosto 2006

 

'É preciso repensar valores do capitalismo'
Valor Econômico
17/08/2006

O economista André Lara Resende está convencido de que é fundamental "repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa". "Acredito que este é o grande impasse de nosso tempo: a incompatibilidade entre o sistema mais eficiente na geração de riqueza e a valorização da vida pública e da cidadania, indispensáveis para dar sentido à riqueza material", disse Resende no discurso de agradecimento ao prêmio Economista do Ano, em cerimônia realizada na noite de terça-feira.

Hoje, porém, sua visão é outra: "Constato que a superação da inflação crônica não é condição de suficiência para a retomada do crescimento, e também já não tenho certeza de que o mero crescimento seja condição para a superação do subdesenvolvimento."

O que espanta, segundo ele, é que esse progresso material não foi acompanhado por uma "percepção de melhora na qualidade de vida" - pelo contrário, como indicariam a crise da segurança, a superpopulação dos grandes centros urbanos e o descrédito da política.

Para explicar esses problemas, que não são exclusivamente brasileiros - México e Argentina também vivem situação semelhante -, Resende passou a analisar o moderno capitalismo de massa e sua incompatibilidade com a vida pública e a cidadania. Segundo ele, "o moderno capitalismo de massa revelou-se imbatível como sistema de produção de riqueza. Sua superioridade foi de tal forma esmagadora que não parece haver, hoje, alternativa para a organização da economia", disse. O problema é que o sistema não é capaz de resolver "de forma automática a questão das desigualdades e da exclusão social", o que dependeria "essencialmente da vida pública, da política e da cidadania".

A questão é que a desvalorização da política tem "raízes profundas" na própria modernidade, devido a características como a valorização do trabalho e da vida privada: "Se não existe alternativa à altura do capitalismo para a criação de riqueza, se este capitalismo é incapaz de sanar a questão da desigualdade, que depende essencialmente da valorização da dívida pública, e a desvalorização da política tem suas raízes justamente no desenvolvimento da mentalidade capitalista moderna, estamos diante de um desafio monumental." Nesse cenário, superar essa incompatibilidade é decisivo para superar o subdesenvolvimento e transformar os países em "sociedades mais democráticas e equânimes." O imperativo, então, "é repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa".

 

O Brasil de André – 4
Luís Nassif
18/08/2006

O ponto focal desse desastre foi a decisão tomada, na partida do Real, de flutuar o câmbio para baixo. Nas discussões preliminares, todas as conseqüências negativas tinham sido identificadas pelos economistas do Real. Todas, do risco do excesso de dólares apreciando o real, do custo fiscal das reservas cambiais excessivas, da necessidade de conter o capital gafanhoto.

Nada foi feito para prevenir os desastres anunciados. André participou diretamente da decisão de apreciar o câmbio, que matou a grande oportunidade de crescimento do país no século. E foi beneficiário direto desse erro. No final de 1994 seu banco estava vendido em quase US$ 1 bilhão no mercado futuro de câmbio. E ele continuava participando diretamente das formulações da equipe econômica.

Nos anos seguintes, tornou-se personagem típico do romance "O Encilhamento", do Visconde de Taunay. Comprou carros de corrida, viajou para Londres transportando cavalos em avião.

Agora, vem com essas considerações de cunho filosófico-político, como se essa deterioração do país nada tivesse a ver com as decisões econômicas?

Deveria se contentar em continuar apenas milionário.

 

Introdução à burrice monetária brasileira
17/08/2006
J. Carlos de Assis

Quando um pais faz superávit comercial, significa que vendeu mais do que comprou em bens e serviços. Esse saldo em dólar fica com o Banco Central. O Banco Central se obriga a entregar o valor correspondente em reais aos exportadores, que os usam para pagar salários e distribuir lucros. Isso teria um efeito expansivo sobre a economia, porque o fluxo de moeda aumentaria relativamente à produção interna, tendo em vista a parte física desta que foi exportada. Contudo, o Banco Central, com medo do efeito monetário expansivo sobre a inflação, enxuga o saldo externo convertido em reais através de uma política contracionista – isto é, lançando novos títulos no mercado, a taxas atraentes.

De fato, para enxugar a moeda, ele tem que manter elevada a taxa de juros. Taxas de juros altas atraem inversões externas especulativas, e quase só elas, pois o mercado interno está retraído pelo desemprego e baixa renda do trabalho. Como são inversões especulativas, elas não vêm mesmo aumentar nossa produção, mas para ficar rolando no over, ganhando juros sobre juros, sem qualquer contrapartida de investimento produtivo. Assim, o efeito monetário final do aumento da exportação é o desestímulo à produção pelo enxugamento do saldo monetário oriundo do superávit comercial.

O que fizeram, no passado, paises estruturalmente superavitários no balanço de pagamentos, como Japão e Alemanha, e, hoje, os gigantes emergentes, China e Índia? Separaram ou separam, pelo controle de capitais, o mercado monetário interno do externo. Eles não esterilizaram, ou não esterilizam o saldo externo. Usaram-no e usam-no para expandir a economia real. O caso da China é pedagógico. Ela tem reservas hoje superiores ao seu produto interno bruto.

17 agosto 2006

 

  • “Eu sei que o Congresso é podre quando o presidente é podre."

    Heloísa Helena
    16/08/2006
    (discurso em São Luís)

 

  • "Nosso desafio é esse: é ter palavras que magnetizem, eletrizem, e que o povo sinta a palavra verdadeira e tenha, portanto, reciprocidade e dê o voto. O voto não vai ser dado por cartazes, propaganda apenas. Tem que confiar."

  • "Hoje há nojo no Brasil. As pessoas têm de ter asco da podridão do país."

    FHC
    09/08/2006

    (ao admitir falhas na campanha do PSDB)

 

  • “Música para nossos ouvidos"

    Márcio Cypriano
    16/08/2006
    (Presidente da Febraban,
    comentando reunião de banqueiros com Alckmin)

 

  • “[o PT] nunca foi contra lucro de banco."

    Paulo Bernardo
    16/08/2006

 

O poder dos bancos no Brasil
Paulo Nogueira Batista Júnior
17/08/2006

Ontem, recebi notícias das barbaridades que estão acontecendo nos bastidores de um dos grandes bancos brasileiros. O meu sangue ferveu. Resolvi, então, fazer no artigo de hoje algumas considerações sobre essas instituições. Nas economias modernas, os bancos sempre são poderosos. No Brasil, entretanto, o poder dos bancos é extraordinário e já constitui há muito tempo uma agressão ao interesse público.

Os balanços dos principais bancos privados e públicos, divulgados nos últimos dias, mostraram lucros muito volumosos, que chegam a ser estarrecedores. Enquanto a maior parte da economia brasileira patina na mediocridade, enquanto a maior parte dos brasileiros vegeta na pobreza ou na miséria, os grandes conglomerados bancários expõem resultados exuberantes. Exuberantes, não. Nas circunstâncias do país, não é exagero usar uma palavra mais forte: indecentes.

O poder econômico dos bancos é sustentado por ampla rede de influência política e ideológica. O comando do Banco Central, por exemplo, mantém há muito tempo uma relação promíscua com o sistema financeiro. O famigerado Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) é uma espécie de comitê executivo da Febraban (Federação dos Bancos Brasileiros). Entra governo, sai governo e o quadro não muda: a diretoria do Banco Central é sempre dominada por pessoas que vêm do sistema financeiro ou que para lá desejam ir.

 

A depravação financeira por trás do lucro bancário
J. Carlos de Assis
16/08/2006

No momento em que a taxa de desemprego volta a subir e a taxa de subemprego continua em níveis recordes, é patético tomar conhecimento de que o lucro médio dos bancos brasileiros ficou em 24,7% no primeiro semestre. Em quatro anos, nossos bancos dobram seu capital. É um negócio não produtivo melhor do que petróleo. Contudo, não haveria muito o que reclamar dentro de estritas regras capitalistas, não fosse o lucro bancário brasileiro diretamente proporcional à contração imposta na economia pela política monetária e fiscal.

O lucro bancário brasileiro tem duas fontes principais: taxas de juros básicos sobre a dívida pública, seja esta detida diretamente ou intermediada por eles, e a taxa de juros de empréstimos aos setores privado e público. Ambas as taxas são escandalosos.

Do ponto de vista do funcionamento da economia, porém, o grande inibidor do desenvolvimento brasileiro é a política monetária expressa em taxas básicas de juros extremamente elevadas. A professora Maria da Conceição Tavares e eu apelidamos a base do sistema monetário brasileiro de “moeda financeira” ou de “moeda remunerada”. Não tem paralelo no mundo. A dívida pública é virtualmente líquida, mas rende juros. Isso é uma contradição. O que deve render juros é poupança financeira. Depósito à vista não poderia render juros, a não ser juros simbólicos.
No Brasil, é o próprio Estado que garante liquidez diária aos títulos públicos, independentemente do prazo nominal do papel. Isso é um contra-senso. O juro é o prêmio cobrado para deixar indisponível o capital por determinado tempo. Esse tempo é contado da data do empréstimo para o futuro. Com a “moeda financeira”, ocorre o oposto. Conta-se o prazo para trás. O dinheiro está sempre disponível para seu dono. E quem toma emprestado, que é o Estado, se obriga a devolvê-lo em qualquer tempo, pagando a taxa de juros pelo prazo decorrido.

16 agosto 2006

 

  • “Não estou convencido da vitória de Lula. Penso ser falsa a expectativa gerada sobre a invencibilidade do candidato petista. Se Lula vencer o governo será um desastre. O PT vai encolher, o que restar dele se afastará de Lula, que ficará refém do pior do PMDB e do que sobrar da sua base aliada. Os compromissos não serão programáticos, mas de interesses menores, pagos em espécie.”

    Roberto Jefferson
    15/08/2006

 


Ela vem aí
Roberto Jefferson
15/08/2006

E é da indignação do povo esquecido que vem brotando com muita força, nos últimos dias, a candidatura de Heloísa Helena como resposta à manipulação produzida pela mídia e o grande capital.

Quem anda nas ruas como eu, fazendo campanha como eu, conversando com o povo como eu, percebe que Heloísa Helena vem aí. De nada adiantará a mídia de aluguel, alugada aos rentistas, tentar chamá-la de "Collor de saias", coisa que na eleição passada foi feita com Ciro Gomes, rotulando-o de "Collor cearense", ou de "nordestino raivoso".

Heloísa Helena vem aí. Sem um partido forte, mas no braço do povo. O voto nela não é ideológico, não é socialista nem capitalista. É o voto de protesto. É o voto da ética. É o voto de quem não aceita a traição feita pelo PT trocando o verbo pela verba. Heloísa foi expulsa de lá por orquestração do Planalto feita por Lula e José Dirceu, quando não aceitou trair seu verbo empenhado em favor de aposentados e pensionistas, em favor das verbas do capital.

15 agosto 2006

 

  • "O presidente nunca ouve nada, não vê nada, provavelmente não sabia que teria debate"

    José Maria Eymael
    (Candidato do PSDC,sobre a ausência de Lula no debate da Rede Bandeirantes)

14 agosto 2006

 

"Estrelas" petistas fogem de holofotes
Folha de São Paulo
14/08/2006

Antes considerados vitrines do Partido dos Trabalhadores e figuras constantes na mídia, alguns dos principais candidatos petistas hoje usam a estratégia da vitimização, fogem dos holofotes da imprensa e são escanteados pelo próprio partido.Fazem parte dessa lista o ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), homem forte do governo Lula durante quase 40 meses, o ex-presidente nacional do partido José Genoino, o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha e os deputados José Mentor e Professor Luizinho. Todos são candidatos a deputado federal.

Palocci, que chegou a ser cogitado como sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva, participou até agora apenas de um evento político: um jantar em Ribeirão Preto do qual a imprensa foi proibida de participar.


Armadilha do câmbio
Luiz Carlos Bresser-Pereira
14/08/2006

Se a taxa de câmbio de um país se mantiver apreciada, sua economia em pouco tempo experimentará investimentos voltados para a importação, déficit em conta corrente e, um pouco mais adiante, crise de balanço de pagamentos; se essa taxa se estabilizar em um nível relativamente depreciado ou competitivo, será o fator decisivo do desenvolvimento econômico. Não são apenas os países asiáticos dinâmicos de hoje que nos ensinam isso; no pós-guerra, a Alemanha, a Itália e o Japão também alcançaram altas taxas de crescimento porque lograram manter sua taxa de câmbio relativamente depreciada.


No Brasil, porém, o que vemos é uma forte tendência de a taxa de câmbio se apreciar. Embora aqui essa tendência seja mais acentuada, ela é comum a todos os países em desenvolvimento que aceitam a "estratégia" de crescimento com poupança externa.

O que fazer diante da apreciação do real? Nada, como sugere a ortodoxia convencional, "porque o mercado afinal resolverá o problema"?

Nada, "porque a taxa de câmbio real não poderia ser administrada no longo prazo", não obstante a experiência internacional demonstre a falsidade desse pressuposto fundamentalista de mercado? Ou nada precisaria ser feito porque a política de juros que essa ortodoxia vem impondo ao Brasil há tantos anos, além de facilitar o populismo cambial, é uma armadilha que impede que o governo aja sobre a taxa de câmbio?

A última é a verdadeira resposta. A alta taxa de juros impede a administração da taxa de câmbio.
Para administrá-la, os governos dispõem de dois instrumentos: a compra de reservas e sua esterilização, e, quando esse mecanismo não é suficiente, o controle da entrada de capitais.

O Banco Central já comprou cerca de US$ 70 bilhões, mas essas compras são insuficientes: o governo precisaria comprar mais. Entretanto, diferentemente do que ocorre com os países asiáticos dinâmicos, o governo não pode comprar mais porque, se o fizer, acabará de quebrar o Estado brasileiro. Um país asiático paga 1% ou 2% de juros reais para financiar a compra de reservas -o mesmo preço que recebe ao aplicar suas reservas no exterior-, enquanto o Estado brasileiro paga 12%.

Fica, dessa forma, clara a armadilha do juro alto e do câmbio baixo que hoje assola a economia brasileira, como, no passado, a alta inflação o fazia. A diferença está em que a alta inflação era um mal visível para todos, enquanto juro alto e câmbio baixo são males mais discretos. A alta inflação, entretanto, só terminou quando o governo, apoiado na sociedade, adotou uma estratégia original e firme para debelá-la; agora, a mesma autonomia e a mesma determinação então demonstradas são necessárias.


 

  • ”Se faço a economia crescer 6% ou 8% ao ano e direciono os gastos do governo para os mais pobres, essa é a forma correta de acoplar crescimento econômico com desenvolvimento social. Mas não é isso o que está acontecendo. Se olharmos a melhoria de renda no Brasil hoje, 70% dela é devido ao câmbio, via o canal dos alimentos, que pesam 70%, 80% no consumo dos mais pobres. Em outras palavras: com o mesmo salário nominal e com o salário mínimo crescendo em termos reais, você teve um poder de compra 60% maior nos alimentos. É isso que mudou na renda. Não é o Bolsa-Família. É o Bolsa-Família com o câmbio.“

    Luiz Carlos Mendonça de Barros

    14/08/2006

13 agosto 2006

 

  • " Não tem diferença do ponto de vista do modelo econômico.
    Eu acho que a eleição do Lula ou do Alckmin é igual.”

  • “É claro que os juros podem e devem baixar.
    Agora, como? Isso é problema do governo, não meu.”

    Olavo Setúbal
    13/08/2006

 

Reação da elite ao governo é um "paradoxo"
Folha de São Paulo
13/08/2006

Principal representante do setor empresarial no governo petista, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) classifica como um "paradoxo" a reação da elite brasileira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua opinião, o setor produtivo está faturando como "nunca", gostaria que as "coisas fossem iguais" no próximo ano, mas com um "comando diferente" do atual. Furlan atribui parte dessa contradição à "avalanche de notícia ruim, corrupção disso, daquilo".

47% do eleitorado diz ter posição política de direita
Folha de São Paulo
13/08/2006

Pesquisa Datafolha revela que 47% do eleitorado brasileiro se define com sendo de "direita". Outros 23% de "centro" e apenas 30% de "esquerda".Apesar de menos da metade se definir como de "direita", é esmagadora a maioria que adota posições geralmente associadas ao conservadorismo, como a condenação ao aborto, às drogas e a defesa de medidas mais duras de combate ao crime.A pesquisa mostra que são contra a descriminalização da maconha 79%. Do aborto, 63%. Outros 84% defendem a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e 51% querem a instituição da pena de morte.

Os percentuais gerais acima não diferem muito mesmo isoladamente em cada um dos grupos de eleitores ("direita", "centro" e "esquerda"). Exemplo: entre os que se dizem de "esquerda", 87% (mais do que a média) são favoráveis à redução da maioridade penal.


Os bilhões do reino
Jânio de Freitas
13/08/2006
A reincidência da roubalheira com gastos públicos propostos ao Orçamento por parlamentares (as chamadas emendas), como foi a dos "anões" flagrados nos anos 90, não se limita às ambulâncias dos sanguessugas. Foi só mexer um pouco nas emendas desse esquema e logo apareceu outro tipo de golpe contra verbas orçamentárias: o deputado Fernando Gabeira -a cuja persistência por uma CPI já se deve a indiciação de 72 parlamentares, e haverá mais- está denunciando, agora, o uso de emendas da corrupção a pretexto da compra de computadores e veículos, para o programa de "inclusão digital". É uma descoberta a mais, porém ainda distante do que se passa no Orçamento.Há mais de 15 anos, desde iniciado o governo Collor, não se lançam projetos de grandes obras públicas, o que levou as empreiteiras maiores e patrocinadoras de fraudes nas concorrências, e portanto de corrupção, a se voltarem para atividades como mineração, petroquímica, exportação, até coleta de lixo. A aprovação das verbas orçamentárias para grandes obras levava à distribuição de suborno alto a inúmeros deputados e senadores. Houve os que chegassem a ter a campanha eleitoral bancada. Com o fim dos grandes projetos, a alternativa da corrupção orçamentária foi multiplicar o uso de verbas para o assistencialismo, caso das ambulâncias, e as obras de menor porte. Alvo mais fácil e mais numeroso: as prefeituras, mais de cinco mil.

 

Política macroeconômica e eleições
Yoshiaki Nakano
13/08/2006

Por exemplo, quando o governo permite uma apreciação cambial, reduz a remuneração do setor exportador em detrimento dos importadores (beneficia exportadores e trabalhadores no exterior). Além disso, o especulador financeiro que aplicar em ativos denominados em reais, além dos elevados juros, vai se beneficiar da apreciação cambial. É óbvio que eles terão todo o interesse em justificar a apreciação cambial, pois estarão ampliando seus ganhos. Cabe ao governo defender o interesse da maioria da população.

Da mesma forma, quando o BC pratica a política de juros mais alta do planeta, o governo transfere diretamente tributos pagos pela população para os detentores de títulos públicos, isto é, para o setor financeiro e os rentistas que vivem de juros. Indiretamente, comprimindo a demanda e mantendo o desemprego elevado, reduz a parcela dos salários que cabe aos trabalhadores. É por isso que a participação dos salários na renda nacional é hoje cerca de dez pontos percentuais menor do que no início da década de 90, quando se inicia a política de juros elevados e de aumento da carga tributária.

As sociedades podem ser consideradas democráticas se tiverem mecanismos institucionais que permitam à maioria da população determinar, ainda que indiretamente, os objetivos da política macroeconômica.

11 agosto 2006

 




  • "Foi afastado. Foi afastado. Eu o afastei.
    Afastei o Zé Dirceu, afastei o Palocci, afastei outros funcionários que estavam envolvidos e vou continuar afastando."

  • “a única coisa que cai é o salário, digo, é a inflação”

    Lula
    10/08/2008
    (em entrevista ao Jornal Nacional)

 

A doença chama-se hemocromatose
Luiz Carlos Mendonça de Barros
11/08/2006

Encontrei no campo da medicina uma doença que representa de forma mais correta os problemas provocados pelo excesso de dólares. Ela se chama hemocromatose e é a patologia que ocorre em um organismo que absorve muito mais ferro do que precisa para viver normalmente. O excesso absorvido fica depositado em órgãos como o coração, os rins e, principalmente, o fígado. Com o passar do tempo, esses órgãos vão ficando "enferrujados", e seu funcionamento, cada vez mais prejudicado. No limite, provocam a morte do paciente. Mas a doença atinge essa situação limite somente depois de muitos anos, décadas seria melhor dizer, sem o tratamento necessário.

Os primeiros sintomas criados por uma moeda excessivamente valorizada já começam a aparecer no Brasil. Se olharmos a taxa de crescimento dos setores produtivos mais afetados pela nossa moeda valorizada e compará-la com a de outros, principalmente os ligados à extração mineral, esse fenômeno fica evidente. A racionalidade de empresas e consumidores está direcionando para as importações um volume crescente de compras que eram realizadas no mercado interno. Por isso, as importações de certos itens, como bens de consumo e componentes industriais, estão crescendo a taxas elevadas. Além disso, na tentativa de competir com as empresas do exterior, os produtores nacionais estão abaixando seus preços e, por isso, reduzindo a rentabilidade de suas operações. Esse fenômeno ajuda no combate à inflação, mas, quando combinado com baixo crescimento, acaba por desestimular os investimentos para aumento de capacidade produtiva.

Ainda na tentativa de compensar os preços mais baixos das importações, as empresas brasileiras estão aumentando a rotatividade de seus funcionários, na busca de compensar com salários mais baixos a perda de rentabilidade em suas operações.

Esse comportamento é grave, na medida em que os setores mais afetados pela valorização cambial e pelo baixo crescimento da economia são justamente os que mais empregam.

10 agosto 2006

 

Danusa Leão
Folha de São Paulo
10/08/2006

Em alguns momentos a candidata foi aquela que conhecemos: agressiva e violenta, aquela que dá medo. O mesmo tipo de medo que Lula passava, antes de ter se tornado "Lulinha paz e amor".

Mas duvido que, se eleita, HH vá frustrar quem votou nela e virar outra pessoa, como aconteceu com Lula. Porque Heloísa Helena é mulher, e mulheres costumam ser confiáveis. Sorrisos, sim, para não assustar os eleitores. Mas há uma fera escondida por trás desses sorrisos.

Anatomofisiologia da eleição
Sergio Costa
10/08/2006

Qualquer previsão sobre HH e Alckmin seria precipitada agora. Mesmo com a primeira crescendo e atingindo um patamar em que terá de ser levada mais a sério. Quanto ao tucano, listam-se aos montes motivos pelos quais não decola. Dos ataques do PCC ao fogo amigo do PSDB. Talvez seu mal seja não se chamar Fernando ou... José.
Até outubro, HH pode se consolidar como fenômeno e Alckmin entrar em sintonia com o que se esperava dele. Algum desses escândalos pode grudar em Lula. Poder, pode tudo. Mas, pelo andar da carruagem, o sapo virou príncipe, o príncipe virou sapo e ainda tem uma rã aí com boa estrutura anatomofisiológica pronta para saltar.

09 agosto 2006

 

Economia vive o melhor momento, diz André Esteves
Jornal do Commercio do Rio
09/08/2006

Apesar de pouco afeito à aparição pública, o matemático André Esteves, que há dois meses vendeu o Pactual - maior banco de investimentos brasileiro - para o grupo suíço UBS por cerca de US$ 3 bilhões, foi o homenageado do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) presidido pelo empresário João Doria Junior, em café da manhã, ontem, em São Paulo. Principal executivo (CEO) do UBS Pactual para a América Latina, Esteves avaliou que a economia brasileira encontra-se no melhor momento de seus 500 anos de história. "A combinação de fatores econômicos continua sendo única e isso faz parte da evolução da sociedade brasileira: inflação sob controle, câmbio flutuante, balança comercial forte e até na seara fiscal, onde existem tantas críticas, este governo tem entregue superávits fiscais significativos", afirmou.


Empresários agora apostam em vitória de Alckmin
Jornal do Commercio do Rio
09/08/2006

Pela primeira vez desde que começou a ser apurada, em outubro de 2005, a pesquisa sobre as eleições para presidente da República feita junto a lideranças empresariais apontou a vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas deste ano. Dos 120 executivos presentes ontem ao 5º Seminário do Lide, 64% disseram apostar na vitória do candidato tucano, sendo que 97% deles informaram que pretendem votar em Alckmin.

08 agosto 2006

 

Lucro semestral do Bradesco supera R$ 3 bi
Fabrício Vieira
08/08/2006

O Bradesco bateu o Itaú no primeiro semestre. O maior banco privado do país alcançou lucro líquido recorde de R$ 3,132 bilhões no período -cifra nunca antes registrada em um primeiro semestre por um banco nacional. O Itaú teve lucro de R$ 2,958 bilhões no período.A continuidade da expansão do crédito, especialmente para a pessoa física, foi fundamental para o aumento de 19,5% -em comparação a igual período de 2005- no lucro do Bradesco.


Brasil é campeão em spread bancário
João Caminoto
Estado de São Paulo
08/08/2006

Um extenso estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS) sobre sistemas bancários em países emergentes divulgado ontem afirma que o Brasil "talvez seja o caso mais extremo de spreads altos" cobrados sobre os empréstimos, em torno de 40%. Os spreads resultam da diferença entre custos da captação do dinheiro pelos bancos e as taxas cobradas na concessão de empréstimos. O segundo maior spread constatado pelo BIS -que se baseou em números do Fundo Monetário Internacional (FMI) do fim de 2004 - é o dos bancos do Peru, em torno de 10%.

Em contraste, o estudo do BIS, conhecido como o banco central dos bancos centrais, mostra que há uma série de países emergentes, como Argentina, Chile, China, Coréia do Sul e Malásia, onde os spreads são inferiores a 5%, e comparáveis aos cobrados nos países ricos.

07 agosto 2006

 

Distribuições normais
João Sayad
07/08/2006

Somos 190 milhões de brasileiros. Produzimos R$ 2 trilhões por ano. A renda média de cada família é de R$ 4.000 por mês. Na realidade, a maioria dos brasileiros ganha R$ 300 ou menos por mês. Já somos duas espécies diferentes -os ricos e os pobres- que vivem no Brasil em lugares diferentes e não casam entre si. A média é um mito.
O último Copom concluiu que os juros nominais caíram muito, embora os juros reais tenham subido. Será que vão parar de reduzir os juros? Continuaremos a crescer pouco e a empregar pouco. Pequenas empresas sobreviverão sonegando impostos. A agricultura continuará em crise. Os dois países ficarão mais distantes: o país "corporate" na Vila Olímpia, e o PCC, nas zonas sul e leste. No futuro, em alguma eleição, aqui também, vencerá o Hizbollah.

06 agosto 2006

 

Antonoi Pacclio
Elio Gaspari
06/08/2006

Tem gente que gosta de macromentiras. Antonio Palocci é um caso especial de apaixonado por micromentiras: nunca esteve na mansão dos caipiras, não viajou no avião do empresário amigo, assim como não ajudou a detonar o sigilo do caseiro Francenildo. A última de Palocci foi dar à Justiça Eleitoral um número errado de CPF (081.532.288-70). O seu é 062.605.448-63. Sabe-se lá o que houve, mas Palocci atribuiu-a a "um erro de digitação". Ele tem o resto da vida para explicar como uma pessoa pode errar a ordem de 10 em 11 algarismos de um número.

04 agosto 2006

 

Arejando o debate econômico
Luiz Carlos Mendonça de Barros
04/08/2006

Nesse encontro, fiz uma observação que me parece importante passar para o leitor da Folha. Disse que, além da oportunidade que uma eleição presidencial abre para esse debate, uma outra devia ser levantada: pela primeira vez, em muitas décadas, o presidente a ser eleito vai encontrar uma economia livre de alguns problemas estruturais que perseguiram seus antecessores por várias décadas.

A prevalecer o ritmo atual de acumulação de reservas internacionais, a dívida externa líquida (pública e privada) estará praticamente eliminada em dois ou três anos. Mesmo considerando a esperada desaceleração da economia mundial e as ondas de volatilidade que podem acontecer, o risco de um choque cambial impactar a inflação como no passado é hoje muito menor.

Do lado dos mitos, o principal é sem dúvida o de que não podemos viver com juros reais inferiores a 10% ao ano sem que a inflação volte a subir. Uma política econômica inteligente certamente será capaz de enterrá-lo definitivamente, inclusive usando o apetite dos investidores estrangeiros por títulos brasileiros denominados em reais como instrumento para trazer de forma sustentada os juros internos a níveis bem mais baixos.


Crescimento econômico maior não garante emprego para todos
Agência Carta Maior
03/08/2006

Nesse período, o contingente de trabalhadores assalariados sem carteira assinada mais do que dobrou, chegando a 1,1 milhão, e o de autônomos cresceu quase 60%, superando a marca de 1,6 milhão. Em 1990, o trabalho informal representava 30% das ocupações na Grande São Paulo. Foi a mais de 40%, em 2000, e essa proporção não se alterou substancialmente nem nos últimos cinco anos, quando o desemprego parou de acelerar e o volume de contratações com carteira assinada voltou a superar o de demissões, com o setor formal da economia absorvendo mais trabalhadores do que as ocupações precárias. Hoje, são mais de 3 milhões de ocupados na economia informal da maior metrópole do país. Somados a cerca de 1,6 milhão de desempregados, eles superam o contingente de assalariados do setor formal (3,5 milhões na iniciativa privada e 660 mil no serviço público).

02 agosto 2006

 


A inferioridade brasileira, uma conveniente convicção da elite
Carlos Lessa
02/08/2006

Nossa elite reafirma, periodicamente, a inferioridade brasileira. São poucos os momentos em que elogia o país. Fala bem de nossa paisagem. Apresenta a feijoada, com orgulho, ao visitante. Exalta a escola de samba, admite nossa excepcional musicalidade e se veste de verde e amarelo no campeonato mundial de futebol. Muito pouco mais escapa. Para a elite, os problemas brasileiros não se derivam de seu comportamento. É preguiçosa em aprofundar a discussão para identificar-lhes as raízes. Como Pôncio Pilatos, lava as mãos em relação a eles. O membro da elite gosta de repetir que "o Brasil é assim mesmo?", que "nada aqui funciona". Com sua experiência turística, inveja Nova Iorque e Miami. Seu avô fazia o mesmo com Paris e Londres. Estes são os lugares da perfeição, daí "no exterior tudo é limpo"; "o povo é bem educado" e "as coisas funcionam".

O diagnóstico da elite, quando não atribui explicitamente a culpa a variáveis étnico-sociais, se reveste, hipocritamente, de uma proposta saneadora e ambígua: "é necessário educar o povo". O general Figueiredo já disse que muitos recrutas não sabiam o que era pasta de dentes.

Quando focaliza a conjuntura, atribui dificuldades à incompetência dos governantes do momento, ou da corrupção inerente ao político, como gênero. Nossa elite deplora a corrupção. Considera-a endêmica. Diz que condena a famosa Lei do Gerson, segundo a qual sempre é possível dar um jeito e levar vantagem. Contudo, se tiver segurança em apagar com propina a notificação - ou seja, a certeza da impunidade fiscal - suborna o guarda de trânsito, gosta de sonegar impostos, recorre sem pudor ao "sabe-com-quem-está-falando" e exibe alguma carteira de prestígio. Considera a lei "para os outros" e busca resolver seus problemas com auxílio de sua caderneta de contatos.

A elite apóia, em matéria político-econômica, as recomendações neoliberais. Nos últimos anos, ao consolidar a idéia de que o governo gasta muito, gasta mal e desperdiça recursos, fez prosperar a impunidade moral na sonegação, quase transformada em gesto cívico. Concorda em comprimir os absurdos gastos públicos com o custeio da máquina, salários de funcionários em administração e políticas sociais. É favorável a reduzir a insuportável carga tributária. Permanece em silêncio quanto ao gigantesco serviço de dívida pública, com juros reais repugnantes (os mais elevados do planeta) - afinal, é necessário controlar a inflação. Não diz nem condena a prática empresarial de empurrar os preços para cima. Não alardeia o próprio protagonismo em sustentar e prosperar com a inflação: quem desfruta dos juros da dívida pública é a fração mais rica da elite, ou 20 mil famílias que, em 2006, dividirão pelo menos 80% de cerca de 160 bilhões de reais.

 

Dez teses em favor do controle de capitais (3)
J. Carlos de Assis
02/08/2006

Vejamos uma questão prática. Estão aplicados atualmente no over recursos acima de R$ 1 trilhão. Imagine-se que metade disso são saldos de caixa (moeda financeira), usados pelas empresas em seus negócios correntes em real. A outra metade estaria, em tese, livre para todo tipo de aplicação: numa crise, como são títulos públicos à vista, os donos poderiam liquidá-los em 24 horas; na virada de um dia para a noite 220 bilhões de dólares tentariam voar para o exterior, provocando uma gigantesca crise cambial, tudo por conta da tal liberdade de capitais.

Na verdade, só não corremos esse risco porque as taxas internas de juros são tão altas que os aplicadores preferem deixar o dinheiro rendendo aqui a mandá-lo para fora, mesmo com toda a tentação da dolarização. Isso dá a idéia exata da função do controle de capitais: é para dar margem de liberdade à política econômica, sobretudo em relação à queda da taxa de juros. Por aí se vê também que a política de juros altos não é necessariamente para combater a inflação. É, sobretudo, para “proteger” o balanço de pagamentos do risco de fuga de capitais “livres”.

 

Dez teses em favor do controle de capitais (4)
J. Carlos de Assis

Vejamos isso no caso brasileiro atual. Os capitalistas dispõem aqui de ativos financeiros virtualmente líquidos que rendem juros. Isso é uma contradição nos termos: liquidez significa ativo na forma monetária por excelência, e moeda, sendo líquida, não pode render juros. Todo mundo que faz depósito de poupança sabe que tem de deixar o dinheiro indisponível por algum tempo para ter direito a juros. Nesse sentido, juros é o preço pago pela indisponibilidade da moeda. O que é indisponível para quem aplica é disponível para quem toma, resultando em investimento.

Liquidez com juros é uma forma absurda no sistema capitalista. É dinheiro que rende dinheiro sem passar pelo processo produtivo. Em termos keynesianos, é uma espécie de “preferência pela liquidez” induzida pela alta taxa de juros, não propriamente para a especulação, mas para benefício certo garantido pelo Estado. É uma forma espúria de imobilizar o capital no circuito especulativo, sem qualquer relação com a economia real. Em suma, é o preço que se paga, no Brasil, por não ter controle de movimento de capitais na saída.

01 agosto 2006

 


Palavra mal-empregada
Jânio de Freitas
01/08/2006


Com FHC, era esquecer o que escreveu. Com Lula, é esquecer o que disse. Ao eleitor, resta esquecer o que sonhou.

 

Dez teses em favor do controle de capitais (2)
J. Carlos de Assis
01/08/2006

Pessoas que ganham muito dinheiro com a liberação do movimento de capitais costumam dizer que o controle de capitais é um tremendo anacronismo que não se justifica numa economia globalizada. Ouvi isso de um presidente do Bank of América, numa das reuniões do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social a que assisti como convidado do ministro Tarso Genro. Esse banqueiro não apenas tentou desqualificar as propostas de controle, como mandou uma carta para Lula no sentido de dissuadi-lo de qualquer veleidade nesse sentido.

Obviamente, nenhum grande magnata financeiro interno ou internacional que acumula lucros no Brasil vai dizer que é contra o controle de capitais porque isso o impediria de dolarizar instantaneamente seus ativos internos, na hipótese de uma crise, ou mesmo no curso normal do funcionamento de economia. Ele precisa de uma justificativa de caráter geral para defender seus interesses pessoais. E é aí que entra a ideologia, em geral fornecida por acadêmicos de poucos escrúpulos.

O caso brasileiro é típico. De um ponto de vista institucional, ainda não temos liberdade completa do fluxo de capitais. Mas a temos na prática, através de expedientes como a CC5, do Banco Central. A consequência disso é que o Banco Central não pode reduzir significativamente a taxa de juros, pois, se o fizer, haverá fuga de capitais. Por outro lado, sendo a taxa de juros muito alta, é preciso fazer superávits primários estratosféricos. Assim, por causa da liberação de capitais, toda a política econômica fica amarrada.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?