30 março 2006

 


Além de pirata, com vírus
Clóvis Rossi
30/03/2006


O ex-ministro tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros chegou perto, mas não disse tudo, quando afirmou que o PT está usando "software pirata", em alusão à política econômica, cópia da que vigorou no período final do tucanato.Faltou dizer que, além de pirata, o "software" tem vírus, o vírus da covardia, como no governo FHC.

29 março 2006

 


  • "Naquele momento, eu não estava cantando, não estava dançando. Eu me manifestei com meu corpo todo".

    Angela Guadagnin
    28/03/2006

28 março 2006

 


  • "Palocci foi fundamental para conduzir a economia com segurança para o estágio atual. Agora, com a indicação de Guido Mantega como seu substituto, esperamos que a linha seja de continuidade da responsabilidade fiscal, liberdade cambial e política de metas de inflação."

Nota da Febraban
28/03/2006

  • “[as políticas adotadas na gestão do ex-ministro foram cruciais para a obtenção de um] "desejável grau de estabilidade macroeconômica". [Essa estabilidade foi fundamental para a] "encorajadora performance de crescimento do Brasil, que se refletiu na indicação de que há progressos na redução da pobreza".

    Rodrigo de Rato

    Diretor-Gerente do FMI

    28/03/2006

 

Um mestre do mimetismo
28/03/2006
Luís Nassif

Durante três anos e alguns meses, Antonio Palocci viveu um papel que nada tinha a ver com sua história: o de ministro da Fazenda. E foi um ator fantástico, transmitindo tranqüilidade e segurança, mesmo quando não conseguia transmitir sabedoria. Tornou-se um expoente do mimetismo cabeça-de-planilha, incorporando rapidamente todos os clichês e lugares-comuns que sustentam esse discurso.

Ajudou a dar sobrevida e sustentação a uma política implacável de concentração de renda, de aumento do endividamento público e de gestão de despesa na boca do caixa. Com sua falta de preparo, conseguiu prejudicar até a ortodoxia racional do Tesouro, atropelada pelo primarismo obcecado do Banco Central.

 

Atalhos e caminhos
RobertoMangabeira Unger
28/03/2006


Pode o próprio presidente, por força das circunstâncias, abraçar, em segundo mandato, a alternativa de que o Brasil precisa? Afinal, não foi por convicção -foi por medo (agravado por falta de idéias sobre outro rumo)- que ele se rendeu. Pode, mas é improvável: a rendição já foi muito longe. Está inscrita naquilo que é mais difícil de mudar: a personalidade. Pode o interesse da oposição tucana em falar, ainda que com pouca credibilidade, em nome da reação republicana servir como ponto de partida para propor nova trajetória aos brasileiros? Pode, mas é improvável: foi por convicção (reforçada por falta de idéias sobre outro rumo) -não por medo- que os tucanos e seus aliados prepararam a ruína do país.

E, se não conseguirmos providenciar a candidatura desejada ou transformar a natureza das candidaturas postas, nem por isso esmoreceremos. Fechados os atalhos, trilharemos, os inconformados e os esperançosos, o caminho longo e penoso: construindo ideário, movimento e partido para dar alternativa ao Brasil. Quando menos se esperar, a nação fará do caminho atalho.


25 março 2006

 




  • “Como é possível uma economia que está no céu e um ministro da Fazenda que está no inferno?”

    Palocci
    24/03/2006

 

A expressão corporal da decadência
Marcos Augusto Gonçalves
25/03/2006

A decadência moral do PT e do Congresso encontrou anteontem sua expressão corporal na dança improvisada pela deputada Angela Guadagnin (PT-SP) para festejar mais um nocaute da ética na política brasileira. Um striptease da avultada parlamentar não seria mais chocante.

Afinal, o que se comemorou foi o resultado de um vexaminoso pacto em favor da impunidade que nossos supostos representantes firmaram para salvar a pele de corruptos. A mensagem não poderia ser pior. A bailarina deveria ser banida da política, assim como todos aqueles que, sustentados pela sociedade, fazem da vida pública um negócio sujo para ganhar projeção e dinheiro.

 

A republiqueta de Lula
Clóvis Rossi
25/03/2005

A sanha com que o governo Lula se atira sobre o caseiro Francenildo não é apenas coisa de gânsters, como diz o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato. É também coisa de republiqueta bananeira, dessas em que todo o aparelho de Estado está a serviço não do público, mas dos ocupantes de turno do poder. Os Somozas faziam a mesmíssima coisa. No Brasil, só faltam o poder absoluto e as violências que o acompanham, porque o resto, especialmente o deboche, está presente.


Eu, que achava que a corrupção e a desfaçatez do governo Collor seriam imbatíveis para todo o sempre, começo a desconfiar que estava completamente equivocado.Não sei, ninguém sabe, se a corrupção é maior agora, com Collor ou no governo Fernando Henrique. Ninguém investiga a sério, a não ser caseiros. Mas não me lembro de nenhum "collorido" ter bancado Carmen Miranda de republiqueta no plenário, como fez Ângela Guadagnin, obviamente do PT.

24 março 2006

 


  • "[A ação do governo federal contra o caseiro Francenildo dos Santos Costa] é coisa de gângster, de sindicato do crime. Não é possível que persista essa retaliação a essa pessoa que teve a coragem de testemunhar contra a segunda figura mais importante da República"

    Roberto Busato

    23/03/2006
    (Presidente da OAB)

23 março 2006

 

  • H4A00000
    (código da máquina na qual foi emitido o extrato do caseiro Francenildo Santos Costa, que teve seu sigilo bancário ilegalmente violado na CEF)

 

Mais um lance bisonho
Paulo Nogueira Batista Jr.
23/03/2006

Parafraseando Fernando Pessoa, falei na semana passada dos "brasileiros estrangeiros" que desgovernam o Brasil. Bem. Essa turma não sossega mesmo. A mais recente (talvez última) proposta dos assessores do ministro Palocci é a redução unilateral das tarifas de importação sobre produtos industriais. A julgar pelo que veio a público, eles esperam que a abertura do mercado interno às importações apresse a queda da inflação e estimule o Banco Central a reduzir os juros mais rapidamente.A sugestão tem sofrido críticas de vários lados, inclusive de outros ministérios. E com razão. Trata-se de mais um lance bisonho da equipe econômica do governo.

Boa parte da indústria nacional atravessa fase de grande dificuldade. Muitas empresas lutam para sobreviver. Algumas estão transferindo suas atividades produtivas para outros países. O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, Rodrigo da Rocha Loures, não exagerou quando escreveu, em carta publicada pela Folha no domingo passado: "A indústria nacional está fragilizada, sufocada pela atual política econômica de juros elevados, pela tributação exorbitante, pelo câmbio sobrevalorizado e pela redução dos investimentos em infra-estrutura. O atual modelo tem contribuído para um processo contínuo e crônico -que agora chega a ser agudo- de desindustrialização precoce da nossa economia. (...) Dessa maneira, seguimos por caminho seguro de servidão consentida."

 

Juros, inflação e dívida pública
J. Carlos de Assis
23/03/2006

Existe uma idéia disseminada de que as taxas de juros básicas são altas porque este é o custo que os bancos impõem para financiar a dívida pública. É um fetiche. A taxa de juros básicas é alta porque assim determina o Banco Central, que faz reuniões regulares para fixá-la. Entretanto, pouca gente no mercado financeiro está disposta a acabar com essa empulhação. Para o “sistema”, é mais conveniente culpar o mercado que o Banco Central pelas taxas altas. O mercado é impessoal, enquanto o Banco Central tem carne e osso.

Voltemos, porém, ao ponto inicial. Se a taxa de juros sobe e desce ao arbítrio do Banco Central, ela determina o aumento da dívida pública, e não o contrário. Aliás, isso é óbvio. Depois do Plano Collor a dívida, por força do congelamento de ativos, havia caído pra 12% do PIB. Com o início da escalada de taxa de juros determinada pelo então ministro Marcílio Marques Moreira, a dívida cresce acentuadamente. No início do Governo FHC já estava em 30% do PIB. No fim, continuando a escalada dos juros, em quase 60%.

Hoje, a dívida mobiliária pública está em torno de um trilhão de reais. Os que acham que a taxa de juros que a remunera está num patamar elevado porque é o que o mercado exige para financiá-la simplesmente não sabem como funciona o mercado monetário. O grosso dessa dívida é financiado por saldos de caixa de grandes empresas e reservas bancárias. Eles não teriam onde pôr o dinheiro se a taxa caísse substancialmente. Afinal de contas, trata-se de aplicação à vista, moeda remunerada. Acaso o mercado privado seria uma alternativa melhor?

 

Brasil perde posição na economia mundial
Tribuna da Imprensa - 23/3/2006

O Brasil está perdendo importância na economia mundial. Esta é a constatação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo nota econômica emitida pela entidade, nos últimos 10 anos o País cresceu em média 2,2% ao ano, enquanto o restante do mundo teve uma expansão de 3,8%. Com isso, entre 1996 e 2005 o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 22,4%, bem menos que a média mundial de 45,6%.

A nota da CNI alerta que o fraco desempenho da economia afetou a população. Na última década, o PIB per capita do Brasil aumentou 0,7% ao ano, ante a média mundial de 2,6%.

Segundo o estudo, se o Brasil mantiver o atual ritmo de crescimento, levará um século para conseguir dobrar a renda per capita e chegar próximo à atual renda da Coréia do Sul ou de Portugal. Para o economista da CNI, Paulo Mol, se as condições de crescimento da última década forem mantidas, "o futuro do Brasil será ruim", prevê.

 

Política econômica vira alvo em evento do governo
Sergio Leo
Valor Econômico - 23/03/2006

O seminário promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social também atacou as resistências, no governo, contra políticas de proteção e estímulo oficial à indústria e aos produtores nacionais. O ataque era previsível, pelo convite ao economista Ha-Joon Chang, famoso pelo livro "Chutando a escada", em que acusa os países ricos de terem se desenvolvido usando as mesmas políticas que agora condenam para os países em desenvolvimento.

Se o Japão do século passado seguisse a teoria liberal e as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), não haveria hoje a competitiva indústria automobilística japonesa, lembrou o economista. O Banco Mundial recusou ajuda à Coréia para construir uma siderúrgica, com o argumento de que o país não tinha nenhuma vantagem comparativa na produção de aço, relatou Chang, ao comentar que, atualmente, a Posco coreana é a quinta maior siderúrgica do mundo e uma das mais eficientes.

22 março 2006

 




  • “O que tem o Palocci? Ele está firme.”
  • “Hoje, não estou bem, a situação está mau.”

    Lula
    21/03/2006

 

O destino comum de Palocci e dos falcões
J. Carlos de Assis
22/03/2006

O desemprego generalizado da juventude, por sua vez, não tem nada a ver com uma fatalidade tecnológica ou de destino. É o resultado direto da política econômica neoliberal. É terrível que alguém saído das classes mais afetadas pela crise social, como o presidente Lula, veja no ministro responsável por essa política insana o grande responsável pela credibilidade internacional do Brasil. Na verdade, a credibilidade externa conquistada por Palocci tem sido o resultado da total degradação social interna do Brasil pelo alto desemprego.


E temos tanta má sorte a esse respeito que nem valerá muito a pena que Palocci venha a ser brevemente demitido. Será por questões morais e criminais, não em razão de sua deletéria política econômica. Em seu lugar, virá outro neoliberal, um Murilo Portugal da vida, para continua com a mesma política insana – até que o Presidente acorde. É como na outra ponta da vida brasileira, entre os miseráveis soldadinhos do tráfico: um cai, outro logo ocupa o lugar

21 março 2006

 

O que levantaria o Brasil?
Roberto Mangabeira Unger
21/03/2006

O que levantaria o Brasil do fosso de mediocridade e de tristeza em que se encontra? Há três conjuntos de iniciativas que, combinadas, mudariam radicalmente nosso país, instrumentalizando a energia frustrada dos brasileiros.


A primeira linha de ação é tirar a camisa-de-força de uma política econômica que agrada rentistas e financistas, mas que agride os interesses do trabalho e da produção.

A segunda diretriz é a construção no Brasil de democracia de alta energia.

A terceira série de iniciativas é a menos compreendida, porém a que mais se adapta ao que somos. É necessária para podermos assumir personalidade distinta dentro da humanidade. Tem a ver com o desenvolvimento das formas de ensino e de produção que libertem nosso potencial, imenso e reprimido, para construir e para criar.

Onde encontraremos apoios e aliados para projeto nacional com esses fundamentos? Não os encontraremos em classe política apequenada e vidrada em discursos importados. Só o conseguiremos abrindo caminho para falar à nação -para esclarecê-la, para inspirá-la e para convocá-la a levantar-se contra a ordem ruinosa que lhe impuseram.

 

Neutro
João Sayad
20/03/2006

No Brasil, na semana passada, foram definidos os candidatos à Presidência da República. O presidente é candidato à reeleição com apoio condicional dos críticos do seu partido à política econômica. O candidato tucano é apoiado pelos economistas-reformistas do PSDB, que anunciam outro choque de capitalismo. Os petistas de carteirinha e os social-democratas do PSDB foram ultrapassados pelos partidos a que pertencem. O sistema político brasileiro produziu duas candidaturas neutras.


Não será difícil votar no dia das eleições. O resultado já está determinado. O país continua neutro.

20 março 2006

 

Homens novos, homens de barro
Vinicius Torres Freire
20/03/2006

Mas Alckmin e Lula são o futuro sem ilusões do Brasil. Lula encarnou de fato a classe operária e lhe deu poder. Seu governo é cheio de sindicalistas, a rude classe média baixa ou classe baixa alta das fábricas e similares. Os intelectuais do petismo debandaram, foram marginalizados ou pulverizados pela realidade da disputa política. Alckmin levaria a autêntica e em parte tosca e rica classe média paulista, afora as agregadas, ao poder. São os homens novos.

O embate entre Alckmin e Lula parece a pantomima brasileira do fim das ideologias. Parece o desfile nu e cru das classes, sem o enredo e as fantasias que intelectuais carnavalescos lhes pespegavam. Falta agora o partido miserável das cidades, ora representado apenas por PCC, Comando Vermelho e quejandos.

Mas o Brasil é isso aí.

19 março 2006

 


  • “[Palocci possui uma] combinação rara de qualidades: raciocínio científico decorrente de sua formação médica, capacidade de absorção de situações complexas, habilidade política, serenidade e persistência.”

    Henrique Meirelles
    17/03/2006

  • “Eu devo muito, devo muito, mas muito de tudo que nós fizemos a um homem chamado Antonio Palocci. Muito"

    Lula

    17/03/2006

 

A caverna de Brasília
Jânio de Freitas
16/03/2006


À parte permanência ou saída, o revelante é identificar a que negócios se dedicam os integrantes desse grupo que trocam milhares de telefonemas com o gabinete do ministro da Fazenda. É descobrir que utilidade poderiam ter tantos telefonemas para os negócios do grupo. Perguntas não faltam. Nem a evidência de que suas respostas contêm graves conseqüências, ou Lula não teria agitado os guarda-costas verbais do PT para silenciar a CPI.

Quem se lembra da "república de Alagoas" -em cuja desmontagem teve audácias excelentes o hoje guarda-costas Aloizio Mercadante- sabe o que pode encobrir-se na denominação "república de Ribeirão Preto".


18 março 2006

 


  • “Conhecido por não professar idéias próprias na área econômica, Alckmin estará mais aberto ao debate e à influência das maiorias.”

    Maílson da Nóbrega

    15/03/2006

17 março 2006

 


  • “Confirmo até morrer.”

    Francenildo Santos Costa
    16/03/2006
    (na CPI dos Bingos, antes de ter o depoimento suspenso por ordem do STF, ao afirmar que o ministro Antonio Palocci era freqüentador habitual da mansão alugada em Brasília para promoção de negócios e festas)

 


  • “Não vou responder”

    Duda Mendonça
    15/03/2006
    (na CPI dos Correios, protegido por habeas corpus do STF)

16 março 2006

 


  • “Alimentam-se de pequenos frutos, e não raro pilham ninhos de outras aves. São sociais, vivendo em pequenos bandos.”

    Novo Dicionário Aurélio

 

“Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias que vêm tarde, já vêm frias
E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela”

”Marília de Dirceu”
Tomás Antônio Gonzaga

 

Hamlet. Eis a questão
Reinaldo Azevedo
27/12/2005

E vocês? Entregariam o poder a Fortinbras num mar de sangue ou prefeririam manter o Reino da Dinamarca? Eis a questão.

PSDB: Chega! Decidi chutar o balde. Como Swift
Reinaldo Azevedo
20/01/2006

Se sou Serra, neste 20 de janeiro de 2006, mesmo tendo o dobro das intenções de voto do segundo colocado, surpreendo todo o partido, chuto o pau da barraca e declaro: “Não sou mais candidato. Ok, vocês perderam. Vocês venceram”. Pronto. E, claro, prefeito, peço-lhe o favor de, nessa hipótese, ser “um soldado” em favor do escolhido.

PSDB: Como ganhar, tentar ganhar e perder
Reinaldo Azevedo
22/01/2006

Confesso que fico impressionado que o PSDB, depois de 12 anos de poder no Estado, tenha tido de recorrer a um presidenciável para disputar a Prefeitura e tenha agora de praticamente criar um nome para disputar o governo. Há algo de errado com a formação de lideranças.

De tucanos e asnos
Reinaldo Azevedo
12/02/2006

Escrevi, não faz tempo, que o PSDB só perderia a eleição presidencial de 2006 se perdesse para si mesmo. Se isso acontecer, sugiro que seus partidários renunciem ao bichinho que os caracteriza. Sai o tucano, entra o asno. Não aquele simpático do Partido Democrata americano, mas um bem manquitola. Por que não o Asno de Buridan? Morreu de fome entre a água e a alfafa porque não conseguiu fazer uma escolha.

Paz, amor e chuchuzinho
Reinaldo Azevedo
20/02/2006

O que mais impressiona é que, com efeito, o PT não precisou mover uma palha para que as oposições entrassem em transe. Elas fizeram isso absolutamente sozinhas. A política brasileira é mesmo um chuchuzinho.

Tucanos: algo vai acontecer
Reinaldo Azevedo
03/03/2006

Zé Simão, na Folha, fez uma brincadeira pertinente. Disse que os tucanos foram acometidos pela gripe aviária. Tomara que não. A ser verdade, já estão mortos, não é? Quem morre na véspera é peru, não tucano. Mas, é fato, tanto num caso como no outro, o PSDB está brincando com a sorte. Não concebo que partidos tenham uma natureza suicida, que é o que está parecendo. O conjunto da obra faz supor que algo vá acontecer.

Algo há de acontecer. Algo que rompa o atual status, cujo resultado é o desastre certo. Os próximos dias vão dizer.

PSDB trincado
Reinaldo Azevedo
12/03/2006

Ao PSDB está faltando mais do que competência para pôr ordem na casa: está faltando juízo. O partido trincou. Há quem possa soldá-lo? Ainda dá tempo de convencer todos os atores que interessam de que a divisão não beneficia ninguém?

O PT tentando seqüestrar o PSDB
Reinaldo Azevedo
13/03/2006

Uma parte do tucanato evidencia que melhor seria se o símbolo do partido fosse um pato. Está caindo no truque do PT com espantosa facilidade. Os “novos turcos”, por sua vez, que chegam para depor o que consideram a velha guarda do PSDB não querem nem saber. Sua primeira tarefa, clara e explícita, é tomar o aparelho partidário. O resto fica para depois. Aceita o minueto proposto pelo PT.

A decisão de Serra e suas implicações
Reinaldo Azevedo
13/03/2006

Parece-me que Serra evitou as prévias para afastar o gosto da amarga vitória, que é aquela que a gente obtém quando ganha, mas não leva. Certas conquistas são tão demoradas e difíceis, que, como diria Tomás Antônio Gonzaga, quando chegam, já não contam. Ou nas palavras do poeta: “As glórias que vêm tarde já vêm frias”. A vitória que pode não ser tão doce, tudo indica, é de Alckmin.

Alckmin candidato 1 – As circunstâncias
Reinaldo Azevedo
14/03/2006

Pela primeira vez, viu-se um PSDB com alguma coisa parecida com “baixo clero”. O tucanato, cheio de pavões, começou a exibir papagaios aos montes, galinhas-d’angola, pardais, periquitos, uma vasta algaravia ornitológica. Todos queriam ter opinião. Todos exigiam ser consultados. Todos reivindicavam direito de voz e de voto em nome da “democracia interna”.

Não deixa de ser irônico o sentido retroativo que se pode emprestar à fala do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na solenidade em homenagem a Mário Covas, feita há dias. Ele pregou, então, “ousadia”. Eis aí: uma ousadia, ao menos, o PSDB conseguiu cometer: abrir mão de quem tem o dobro para escolher quem tem a metade. Convenha-se: é preciso bastante “coragem” para fazer tal opção.

15 março 2006

 


“De que espécie de bom camarada o senhor é membro ?
Dos Brasis, não é ? Um tucano : bela plumagem e carne ruim.”

O Vigarista
Herman Melville

 

  • “Tudo o mais constante, o PSDB perde a Presidência, o governo de SP e o Senado. Será que o partido é suicida? Acredita-se que não. Os próximos dias dirão.”

    Reinaldo Azevedo
    03/03/2006

 

  • "Vocês acham que o 'establishment', o sistema, a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo ), a Febraban (Federação Brasileira de Bancos ) e a elite vão deixar o Serra ser presidente? Já não deixaram da outra vez e não vão deixar agora."

  • "Serra é muito independente. Eles querem um pau-mandado, um presidente dócil às regras do capital internacional. Eles não querem o Serra presidente muito mais pelas suas virtudes do que pelos defeitos, que são muitos."

José Dirceu
O Globo - 20/12/2005

  • "É meio teimoso."
    Antônio Ermírio de Moraes

  • "O Serra me parece que não tem um diálogo tão fluido quanto o de Alckmin."
    Armando Monteiro (presidente da CNI)

    (em 14/03/2006, sobre José Serra, após a escolha de Geraldo Alckmin como candidato do PSDB a Presidente da República)

 

A banca e Serra
Elio Gaspari
29/01/2006

O Banco Votorantim, onde brilha a caneta do empresário Antônio Ermírio de Moraes, produziu uma análise da situação política. Disseca os candidatos a presidente da República e, entre os seis "pontos vulneráveis" de José Serra, diz o seguinte: "Incerteza sobre ações de eventual governo (passado de esquerda), voluntarioso, independente e com discurso desenvolvimentista".


Desde que os florentinos criaram as casas de crédito, é a primeira vez que um banco tem coragem de dizer que independência é vulnerabilidade. Se o doutor Antônio Ermírio sair pelo país dizendo isso, Serra está eleito.

 

Mercado em festa
Panorama Econômico - Miriam Leitão
O Globo - 15/03/2006

O mercado financeiro avalia a notícia política de ontem como a melhor que poderia ter. Na sua visão, que não necessariamente corresponde à realidade dos fatos, agora é ganhar ou ganhar. Segundo a maioria dos analistas, com a vitória do presidente Lula, seria mais do mesmo; e não há motivos de queixa. A vitória de Geraldo Alckmin seria o fim do risco José Serra.

José Serra era avaliado em vários dos bancos e consultorias como um economista com idéias próprias e intenção de fazer mudanças importantes no modelo econômico. O mercado tem medo de um perfil assim. Considerava que Serra poderia intervir no Banco Central, retirando parte da autonomia que, de fato, o BC demonstrou ter nos últimos anos. Poderia também querer recuperar algumas ferramentas de intervenção governamental na área econômica.

 

Alckmin candidato 3 – Mudar o quê?
Reinaldo Azevedo
14/03/2006

Afinal, uma agência de classificação de risco fez um seminário há uns três meses, em Nova York, e apontou duas coisas:

a) A chance de vitória da oposição no Brasil era de 70% a 30%;
b) A principal fragilidade de Serra era ser muito “pró-indústria”.

Deve ter sido a primeira vez, na história, em que tal vocação, num governante, foi apontada como defeito.

14 março 2006

 

“O Serra é visto por setores do empresariado como uma pessoa que poderia partir para uma visão mais heterodoxa da economia, o que causa insegurança em alguns segmentos empresariais.”

Ricardo Berzoini
Presidente do PT
12/03/2006

“Não se constrói nada em política sem coragem.
Tem de ousar. Há momentos em que se tem que ousar. Não se sabe se vai ganhar ou perder, tem de saber em que lado está e se jogar.”

FHC
07/03/2006

"Finge que funciona"

José Serra
19/01/2005
(em visita a um posto de saúde,
após duas enfermeiras e a própria secretária municipal da Saúde
não conseguirem - em sete minutos de tentativa - medir sua pressão arterial, devido a defeito no equipamento)


12 março 2006

 


  • "PT e PSDB repetem o quadro do Império, quando se dizia: nada mais parecido com um saquarema (conservador) do que um luzia (liberal) no poder.
    São as torres gêmeas da ordem burguesa brasileira."
Luiz Werneck Vianna
12/03/2006

 

Os imperiosos
Jânio de Freitas
12/10/2006

A escolha do candidato do Partido da Social Democracia Brasileira virou uma exibição patética. Não é partidariamente legítima, não é democrática e, com tantos almoços e jantares, só é mesmo social.

 

Os paradoxos da globalização
Mauro Santayana
11/03/2006

A globalização da economia, inventada, como disse Galbraith, para servir à hegemonia americana, fundamentou-se no mercado e desprezou os sentimentos nacionais dos povos a ela submetidos. E, do ponto de vista puramente econômico, rompeu regras antigas e aceitas nas relações internacionais. O que pretendiam que servisse a apenas um centro imperial, passou a estimular o aparecimento de novos rivais. Como o dinheiro (da mesma forma que os peixes) procura sempre o lugar mais confortável e seguro para reproduzir-se, a China se ergueu para lhe oferecer lugar seguro e promissor, mediante o sistema de parceria entre o capitalismo de Estado, majoritário, e os investidores estrangeiros. Se a globalização se mantiver, no mesmo ritmo e normas, dentro de poucos anos os Estados Unidos terão o seu poder econômico (e, com ele, o militar) reduzidos de forma dramática.

É a velha dialética, reabilitada pela História, que não acabou, porque está sempre recomeçando. Mas, enquanto puder, nenhum império sucumbirá sem reagir com toda a violência a fim de preservar o poder. Para eles, todos os meios são válidos, na conquista ou manutenção do domínio sobre outros povos e os seus bens naturais. Uns reclamam o espaço vital, outros, a energia vital.

Podemos ver, em Guantánamo, as sombras de Auschwitz.

11 março 2006

 


  • “Nada paga encontrar meu povo brasileiro,
    esse povo extraordinário que compreende o que temos feito no Brasil”

    Lula
    10/03/2006

 

Democracia de circo na fixação dos juros
J. Carlos de Assis
11/03/2006


Os oito membros do Copom (ou seja, a Diretoria do Banco Central, que assim de auto-denomina quando se reúne para estabelecer a taxa básica de juros) são tecnocratas não eleitos que, supostamente, estão subordinados a um código de ética do servidor público que os obriga a defender o interesse geral. Diferentemente de dirigentes de outros bancos centrais, como o norte-americano, não representam setores econômicos ou sociais específicos. São “neutros”. É talvez um caso único no mundo em que um corpo burocrático decide os destinos do País sem ter que prestar contas a ninguém de suas decisões.

 

Citi terá funcionário do BC
Alex Ribeiro De Brasília
Valor Econômico - 10/3/2006

O chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas do Banco Central (Depep), Marcelo Kfoury Muinhos, deixou o cargo ontem para se tornar, a partir de maio, o novo economista-chefe do Citibank.

Kfoury, funcionário de carreira do BC há 13 anos e que chefiava há três anos e meio o Depep, pediu licença não remunerada. Quem assume é o atual chefe-adjunto do Depep, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo. O Depep é um dos mais importantes departamentos do BC, responsável por elaborar e rodar os modelos de projeção que servem de matéria-prima para as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Embora não tenha direito a voto, o chefe do Depep é o único funcionário do BC presente no segundo dia de reunião do Copom, quando são tomadas as decisões sobre juros. Não há regra que obrigue chefes de departamento do BC a cumprirem períodos de quarentena. Mas, na prática, Kfoury ficará afastado por quase seis meses das reuniões do Copom, até começar a trabalhar no Citibank.


10 março 2006

 


"Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair"

“Brasil”
Cazuza

 

Uma lição a aprender
Luiz Carlos Mendonça de Barros
10/03/2006

Essa nova situação de crescimento econômico mundial acelerado com inflação baixa mudou a cara da nossa economia. Em um primeiro momento, pelo crescimento vigoroso de nossas exportações; depois, pela redução do chamado risco Brasil, que ocorreu de forma concomitante com o alongamento dos prazos das operações de crédito no mercado interno. Por exemplo, pela primeira vez na nossa história o consumidor pode comprar um carro e pagar em 72 prestações fixas.

Mas essa lufada de vento externo tem sido muito mal utilizada, porque mal compreendida, pelo governo Lula. Para usar uma linguagem náutica, a equipe econômica, em vez de ajustar as velas no barco Brasil para ganhar velocidade com esses novos ventos, decidiu posicioná-las de modo a manter a baixa velocidade dos últimos 12 anos. Os timoneiros do Copom olharam para trás, anularam os efeitos do vento externo e mantiveram a economia crescendo na mesma velocidade de antes. O restante do governo tampouco serviu de bússola, pois operou a política fiscal e as iniciativas regulatórias no mercado creditício de forma inconsistente com o que deveria ser o objetivo principal: acabar com a anomalia que são os juros reais de 10% ao ano.

Há a falsa impressão de austeridade fiscal a partir de um superávit primário elevado obtido pelo aumento de impostos, que, no entanto, não é suficiente para pagar as crescentes despesas de juros. Estamos, mais uma vez, usando o estímulo externo para financiar o consumo em detrimento dos investimentos.

09 março 2006

 

Duas rainhas da Inglaterra
Paulo Nogueira Baptista Jr.
09/03/2006


Não por acaso, o real foi, de longe, a moeda que mais se valorizou em relação ao dólar nos últimos 12 meses, considerando um conjunto de 35 moedas dos principais países desenvolvidos e mercados emergentes. Na verdade, nesse período a grande maioria das moedas registrou desvalorização em relação ao dólar. Só duas valorizaram-se mais do que 10%: a do Chile (11,9%) e a do Brasil (19%). Em termos efetivos, portanto, a apreciação do real é ainda maior do que sugere a simples observação da taxa bilateral com o dólar.

A Funcex alertou para o fato de que a valorização do real vem reduzindo gradualmente o universo de produtos ainda capazes de obter boa rentabilidade com a atividade exportadora. Entre janeiro de 2005 e janeiro de 2006, por exemplo, apenas três produtos (petróleo, minério de ferro e soja) responderam por 47% do crescimento total das exportações brasileiras.

Em alguns setores, a erosão da competitividade tem levado ao fechamento de unidades de produção e a demissões de trabalhadores. Empresas importantes, inclusive de capital nacional, estão transferindo atividades produtivas para outros países, em resposta às perdas provocadas pelo fortalecimento do real.


08 março 2006

 


Frei Betto
"A Mosca Azul"

"De repente, dei-me conta de que navegávamos para oeste, quando todos os planos orientavam-nos a leste. Não me restava alternativa: prosseguir no barco ou atirar-me no rio. Livrei-me da roupa e da bagagem e, abraçado a um cacho de valores, mergulhei. Nadei até a terceira margem do rio, esgueirei-me das piranhas e dos jacarés em busca de mim mesmo.”

 

A Fiesp e o paradoxo da política monetária
J. Carlos de Assis
08/03/2006

Há uma aparente unanimidade no Brasil contra as altas taxas de juros. Exceto os banqueiros e seus asseclas, todo mundo aponta como um despropósito o nível atual da taxa básica (Selic) e, mais ainda, o nível pornográfico das taxas de aplicação dos bancos. Então, por que os juros não caem?

Como representante do poder econômico, o presidente da Fiesp é um defensor dos interesses das grandes empresas, que são sócias dos bancos, pois partilham com eles os rendimentos diários da “moeda financeira”. Não são tomadoras de recursos. São aplicadoras líquidas, beneficiárias da política fiscal-monetária.

Na pequena e média empresa, contudo, isso em geral não acontece. Suas receitas e despesas correm quase paralelas. Não são aplicadoras líquidas, mas muitas vezes têm que recorrer ao crédito bancário de juros infamantes para girar seus negócios. Isso faz delas vítimas indefesas das altas taxas de juros, já que não têm a compensação das aplicações de saldos de caixa, ou estes não existem em volume suficiente para neutralizar o custo de outros empréstimos. Sua gritaria contra os juros é genuína e autêntica.

Diante dessa contradição de posições entre pequenas e médias empresas, e grandes conglomerados, o que faz o presidente da Fiesp, para não pôr em risco sua representatividade “democrática” na corporação empresarial? Ele finge criticar os juros, de forma a agradar as “bases”, mas move suas baterias pesadas na direção de um outro culpado, o gasto público, de forma a dar uma satisfação ao poder econômico real.

Gasto público é encomenda ao setor privado. Investimento público financiado por déficit é uma forma de reduzir o desemprego e a capacidade ociosa da economia, e estimular o crescimento.

A campanha da Fiesp contra o gasto público é um artifício para evitar um movimento empresarial mais pesado e sério contra a política monetária de juros altos.

07 março 2006

 

Marco Aurélio Garcia
"No olho do furacão: militantes de esquerda discutem a crise política brasileira”

Hilary Wainwright e Sue Branford

“O equilíbrio fiscal, em princípio, não é um mal. Apenas se converte em algo ruim quando se transforma no principal objetivo do governo. Iniciou-se um debate no governo e, inclusive, no partido sobre a natureza do período que ia se abrir. Minha opinião, igual à de muitos outros no governo, era de que este deveria ser um período de transição. Mas não dispúnhamos das informações necessárias para saber quanto tempo duraria essa transição. Propúnhamos que deveríamos fazer deste período uma transição até um modelo de desenvolvimento acelerado, baseado na distribuição de renda.”

“Na medida em que este período se alargava, deixou-se de intentar explicar que era somente um período de transição. Ao contrário, a equipe econômica se expressou em termos conservadores e impôs as políticas conservadoras... As pessoas que tomam as decisões do dia-a-dia sobre as questões econômicas são quase exclusivamente conservadoras. Elas têm vínculos históricos com os círculos financeiros, com o aparato econômico dos governos anteriores. Poucos economistas de esquerda entraram no governo, de modo que era difícil gerar essa pressão dentro do governo”.

“O grande problema é que o partido foi incapaz de manter uma atitude correta e crítica diante do seu governo. A crítica não é necessariamente de oposição, mas sim uma postura de crítica construtiva. Assim, o partido, em lugar de exercer uma pressão política sobre o governo, converteu-se numa correia de transmissão do governo”.


“Ele [o PT] se afastou dos movimentos sociais. Isto não ocorreu porque ele se burocratizou. Ao contrário, ele se burocratizou porque se alijou dos movimentos sociais.”

 

A blindagem ideológica do controle de capitais
J. Carlos de Assis
07/03/2006


O que se deve controlar? Deve-se simplesmente negar cobertura cambial pelo Banco Central à especulação monetária e financeira no exterior, seja por bancos, seja por particulares através dos bancos. E não é por razões morais, embora as haja. É pelo simples fato de que, sem isto, não se poderá reduzir significativamente a taxa básica de juros. De fato, cerca de um trilhão de reais em giro no over, na forma de lucro e reservas bancárias e de saldos de caixa de grandes empresas, pode resolver tomar o caminho do exterior em busca de rentabilidade em dólar, e nos mergulhar numa crise cambial.

Em verdade, a situação atual corresponde ao ágio que toda a economia paga para ter livre movimento de capitais sem crise financeira. A taxa de juros interna é tão alta que não há incentivo financeiro para os aplicadores do over partir para aplicações no exterior. Além disso, aqui eles têm rentabilidade alta e liquidez diária, o que é uma especialidade muito suculenta oferecida pelo nosso Banco Central. Mal acostumados como estão, é muito provável que uma parte significativa deles, se for contrariada por uma queda da taxa de juros, resolva ir lá para fora. É para evitar isso que o controle de capitais é essencial.


05 março 2006

 

Ao trabalhador não podem restar dúvidas
Waldemar Rossi
25/02/2006


Com isso, a imprensa, sempre a serviço do capital, vai afunilando o processo para nos dizer que podemos escolher entre um petista ou um tucano, qualquer um deles péssimos para a nação, principalmente para o povo trabalhador. Ótimos, porém, para os interesses do capital.

E o trabalhador, surrupiado em seu dinheiro e em suas esperanças de justiça social, precisa aceitar esse jogo viciado e ilegítimo? Por que se vê obrigado a escolher entre o ruim e o pior? Precisa se submeter à escolha de quem os irá trair na próxima gestão? Não está na hora de romper com essa lógica da submissão? Não está chegada a hora de dizer um sonoro “NÃO” a toda essa farsa? O trabalhador não pode ter mais ilusões nem dúvidas quanto aos caçadores de votos, que mentem em busca do poder a qualquer preço e que o colocam a serviço dos ricos financiadores de suas campanhas milionárias.


 

“os responsáveis pela desigualdade precisam ser acuados”
Chico Whitaker
25/02/2006

Pessoalmente, acredito que as ações do governo foram ínfimas perto da necessidade existente. Em relação aos movimentos sociais, tanto da parte do governo como dos próprios movimentos, houve uma espécie de paralisia. A sociedade falhou e o governo falhou. Este último tinha capital moral pra fazer muito mais do que fez, e a sociedade deixou prevalecer a inação. Houve medo de ir contra o governo, que era portador da esperança de todos.
O governo faz muito mais uma política compensatória, de nível precário, do que uma política efetivamente transformadora. Lula promoveu algumas melhorias. Praticou, porém, uma distribuição de tipo compensatório, não fez nenhuma mudança substancial. Continuou a manter o povo na dependência. Não houve ruptura estrutural.

 


Os irmãos eram melhores
Jânio de Freitas
05/03/2006

Mais ainda, se sair candidato, Serra volta ao problema que o sufocou na disputa com Lula, quando era gritante a ansiedade do eleitorado por uma política econômica ativa e positiva, e Serra fugiu ao tema por seu compromisso com Fernando Henrique. Caso seja agora o "escolhido" de Jereissati e Fernando Henrique, estará diante da mesma ansiedade do eleitorado e do mesmo comprometimento com seu indicador Fernando Henrique, que já determina a corrupção como mote do candidato peessedebista. O que e como Serra poderá fazer na campanha, eis outra de suas questões indigestas.


De tudo, fica uma evidência. Há pelo menos dois anos, o atual cenário político e eleitoral podia ser vislumbrado, e nem se presumia a sociedade do comando petista/governista com Marcos Valério & cia. Os expoentes do PSDB não o viram. Seu entupimento atual foi plantado àquela altura e agora é apenas agravado com requintes de inabilidade política incomparável. E que não será atenuada por possível decisão de Serra pela candidatura, porque ninguém sabe o que Alckmin diz, exatamente, com os repetidos avisos de que a decisão de Serra não o afasta da disputa, como pensam os eleitores exclusivos Fernando Henrique, Jereissati e Aécio Neves.

Os irmãos Marx também eram três, mas faziam pastelão inteligente.


 

O risco Brasil e o Brasil em risco
J. Carlos de Assis
03/03/2006

Sim, o risco Brasil caiu.

Obviamente, isso não tem nada a ver com o comportamento do PIB, que desabou para menos da metade em relação a 2004 e estacionou na média medíocre de 2,3% de crescimento, como nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso.

É possível também que o risco Brasil tenha caído em razão do aumento do desemprego para 9,2% em janeiro. Desemprego alto significa salário baixo, salário baixo significa lucro alto, e lucro alto significa menos risco para o capital.

Mas quem sabe o risco Brasil caiu porque continuamos para numa taxa global de desemprego e subemprego de 25% da força de trabalho?

Ou porque 27% dos jovens entre 15 e 24 anos de nossas metrópoles não trabalham nem estudam?

Ou porque do total dos desempregados, 47% são jovens nessa faixa etária?

Ou talvez porque, no ano passado, registraram-se nas grandes metrópoles, com o Grande Rio, mais de 300 mil crimes, de assaltos a mão armada a seqüestros e agressões – algo com quase 900 por dia?

04 março 2006

 


De como o over dá vida fácil aos bancos
J.Carlos de Assis
03/03/2006

Banqueiros são pessoas que vivem em permanente stress em face do dinheiro que entra e que sai de seus caixas. Uma pessoa de coração mole pode até achar que isso é justificativa suficiente para que ganhem mais dinheiro que os demais capitalistas, mas nós somos pessoas objetivas e não vamos exagerar. No fim de um dinheiro de trabalho, o banqueiro faz o balanço de entradas (depósitos) e saídas (pagamentos), e se vê com dinheiro sobrando ou com falta dele.

Alguém pode pensar que a situação na qual, no fim de um dia, o banqueiro se vê com dinheiro sobrando é relaxante. Ledo engano. Dinheiro sem aplicação imediata arde nas mãos do banqueiro. Aquele dinheiro tem um custo, mesmo quando se trata de depósito à vista não remunerado. Se o banqueiro o deixar parado, mesmo que seja por um dia, arrisca-se a ter prejuízo. Na outra ponta, algum banqueiro pode ter dinheiro de menos, isto é, ficou devedor no fim do dia. Ali é a falta de dinheiro que queima nas mãos.

Ambos vão ao mercado interbancário. É o mercado em que os bancos que têm sobra de caixa a emprestam por um dia (overnight) para os que têm falta dela. Numa primeira instância, essa operação dispensa a intermediação do Banco Central. Fica entre os próprios bancos privados. É em segunda instância, quando os bancos privados não conseguem zerar as posições, ficando ilíquidos ou supra-líquidos, que ele entra com as chamadas operações de financiamento do mercado, tendo por base a taxa Selic.

É necessário explicar por que bancos têm acesso a uma remuneração pelo Governo de seus saldos de caixa, enquanto famílias e outras empresas não têm. A razão constitui a própria essência da política monetária: como dinheiro em excesso queima na mão do banqueiro, sua tendência seria de emprestá-lo de qualquer jeito, a qualquer taxa, para não ficar com ele parado. Na prática, isso seria muito difícil. Para emprestar ao público, o banqueiro tem que montar cadastro do cliente, examinar risco, verificar a concorrência.

Evidentemente que isso é impraticável de um dia para outro. Por outro lado, o próprio BC pode querer baixar a disponibilidade de crédito no sistema por causa da inflação. Para isso, toma emprestado, pagando a taxa básica de juros (Selic), o dinheiro que os bancos têm sobrando de um dia para outro. Paralelamente, empresta a uma taxa ligeiramente maior aos outros bancos que têm insuficiência de recursos. Tudo isso é lastreado em títulos públicos liquidáveis à vista – ou seja, os bancos simulam compras e vendas de títulos públicos nas operações com o BC.

Isto é o over. Sua função na economia, tecnicamente, é para regular a disponibilidade de recursos bancários para empréstimos. No Brasil, porém, ele se transformou num monstrengo, na medida em que a taxa básica do BC remunera praticamente toda a dívida pública, e os títulos públicos, qualquer que seja seu prazo nominal de maturação, têm liquidez diária garantida pelo governo. Além disso, por ser alta demais, a taxa básica por um dia é mais elevada que as taxas de juros de médio e longo prazo, num total contra-senso. Isso ninguém é capaz de explicar. Ou talvez não interessa ao sistema ser entendido!?

03 março 2006

 

As lições do PIB de 2005
Luiz Carlos Mendonça de Barros
03/03/2006

O que mais chama a atenção, além da perda geral de dinamismo, é o descompasso entre crescimento do consumo e dos investimentos. Esse é para mim o pior sinal que os números nos trazem. No que se refere ao consumo, o crescimento é de má qualidade, pois está relacionado mais a uma queda significativa no valor das prestações dos bens comprados a prazo do que ao crescimento de renda do trabalho. Isso ocorreu, apesar do aumento dos juros administrado pelo Banco Central, em virtude de prazos maiores nos empréstimos bancários. Esse movimento deve continuar em 2006, em decorrência da incrível melhora nos índices de risco associados à nossa economia e da entrada de investidores internacionais no mercado local de títulos em reais. A diferença em 2006 é que a demanda dos consumidores, com o real valorizado a R$ 2,00 por dólar, será atendida cada vez mais pelos produtos importados.

 

"No Brasil, não estamos com a pressa de fazer a economia decolar"

Lula
03/03/2006

(entrevista à revista "The Economist")

“Não existe na história um governo tão submisso às condições impostas pelos credores do que esse governo.”

D. Geraldo Majella - Cardeal Primaz do Brasil
03/03/2006

“O paraíso financeiro é o Brasil.”

Dom Odilo Pedro Scherer - Secretário-Geral da CNBB

02/02/2006


 

A segunda onda cambial
Luís Nassif
03/03/2006

Pela mera leitura dos jornais diários, percebe-se em marcha acelerada o seguinte processo, com sinais evidentes do início da segunda grande onda, em dez anos, de concentração de empresas e de desmonte de cadeias produtivas:

1. Algumas grandes empresas já começam a desmontar a cadeia interna de fornecedores e a importar insumos. Outras resistem por algum tempo, esperando que o câmbio se recomponha. A cada dia sem expectativa de mudança, mais cadeias produtivas serão desorganizadas.

2. Numa segunda etapa, as grandes empresas passam a transferir cada vez mais produção para o exterior. Ou terceirizando -o que significa, mais uma vez, tirar mercado e emprego do Brasil- ou instalando subsidiárias no exterior e transferindo cada vez mais a produção para elas. A partir de certo momento, transfere-se a própria empresa, como foi o caso da AmBev.

3. Algumas falam em reorientar a produção exportada para o mercado interno. Mas cadê mercado com esse modelo, que, em sua dinâmica, destrói empregos e produção, transfere para o exterior a produção de produtos de baixo valor agregado, sem que se consiga produzir internamente produtos com conteúdo tecnológico?

4. Sem câmbio, em breve o Brasil perderá espaço mesmo em setores em que teria toda a possibilidade de se tornar competitivo, como o siderúrgico.

02 março 2006

 

Os 20 anos do Cruzado
Luís Nassif
02/03/2006

O pior do Cruzado não foram os erros cometidos. Foram as lições não assimiladas e, pior, a mitificação dos planos econômicos, a idéia de que ele falhou devido à falta de vontade dos políticos, e não a erros de concepção.

Obtiveram a estabilidade, mas à custa da criação de passivos públicos gigantescos, da volta dos desequilíbrios externos, em função de uma apreciação do Real do qual o maior defensor foi Edmar Bacha -e que nunca foi suficientemente explicada nas entrevistas e artigos por eles escritos.

Para muitos, foi um erro intencional para transformar o dólar em ativo escasso, permitindo assim o enriquecimento fácil por meio dos mecanismos de arbitragem.

 

Valor adicionado
Paulo Nogueira Batista Jr.
02/03/2006

A política de juros foi a causa central do pífio crescimento, não só porque restringiu diretamente o consumo e o investimento privados, mas também porque contribuiu para produzir a apreciação cambial e para induzir o governo a aumentar o superávit fiscal primário.

Em resumo, com políticas desnecessariamente apertadas, a equipe econômica, especialmente o Banco Central, retraiu a demanda agregada e gerou mais um ano de estagnação. No final das contas, o governo Lula não apresentará resultados muito diferentes dos do governo FHC em termos de crescimento econômico. Equipes econômicas semelhantes, políticas semelhantes, resultados semelhantes.

O brasileiro já tentou se livrar desse tipo de pessoa em 2002. Conseguirá nas eleições deste ano?

01 março 2006

 



Fernando Inácio Cardoso da Silva
Elio Gaspari
01/03/2006

A estagnação econômica do Brasil é suprapartidária, produto de uma ekipekonômica que muda de cara sem mudar de idéia e de governantes que mudam de idéia sem mudar de cara. Em maio de 2003 Lula prometeu o "espetáculo do crescimento" . Em março de 2000, FFHH prometera que "daqui por diante é desenvolvimento, bem-estar e prosperidade". Eram apenas animadores políticos. Têm hábitos diferentes, mas são a mesma coisa. Petistas que praguejaram contra FFHH e tucanos que praguejam contra Lula estão iludidos ou querem iludir os outros. Trabalham pelo predomínio da banca sobre a fábrica.

O crescimento médio da economia nos três anos de Lula foi de 2,6%. É semelhante aos 2,3% dos oito anos de FFHH. A estagnação brasileira perdeu dois bondes de prosperidade mundial, mas pagou o preço de duas crises. Durante 11 anos do mandarinato da ekipekonômica, os postos de trabalho, a renda e os direitos dos trabalhadores brasileiros foram sistematicamente corroídos. Até os patrões perderam. Na Grande São Paulo um empregador levava R$ 4.514 mensais para casa em 1995. Ao final do ano passado levava R$ 2.723. Indo ao outro extremo, o assalariado autônomo que presta serviços a uma empresa, entrou no jogo com uma renda média de R$ 1.644 e está com R$ 845, pouco mais que a metade.

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