31 janeiro 2006

 

Depois da cartilha
Roberto Mangabeira Unger
31/01/2006

Nossas elites descobriram que o Brasil, e com ele a maior parte da América latina, vive 25 anos de estagnação, sofrendo declínio lento, porém progressivo e constante, de sua posição relativa no mundo. Uma nação que se destaca pela vitalidade veste camisa-de-força. Esses fatos, universalmente conhecidos, só convenceram quando trazidos como notícias de Davos e registrados na imprensa estrangeira.

E a reação a essa descoberta tardia? A mesma de sempre: precisamos de mais "flexibilidade", menos gasto, mais paciência. Não falta proposta. Só falta eficiência na execução. Interpretam-se as experiências -tão contrastantes com a nossa- da Índia e da China de maneira a resguardar a fé na cartilha. Desconsidera-se o ponto essencial: a libertação de forças de mercado foi combinada na China com a mobilização maciça de recursos nacionais, na Índia, com a formação de milhões de técnicos e cientistas e em ambos aqueles países com ousadia despreconceituosa na maneira de organizar a economia de mercado e de associar o poder público com a iniciativa privada.


Nossos privilegiados não mudarão de idéia. Morrerão convencidos de que fizeram tudo certo; culparão o país. A confiar no que se diz e se pensa entre eles, será preciso esperar que a geração seguinte traga das universidades estrangeiras a notícia de que lá ninguém mais leva a sério as idéias por que nos pautamos aqui. Não dá para aguardar esse desdobramento: o Brasil terá continuado ladeira abaixo, desperdiçando milhões de vidas e de talentos.

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