30 abril 2006
A democracia e a água do banho
Gilberto Dupas
24/04/2006
Alguns intelectuais utilizam certa dose de arrogância na avaliação da democracia e de seus resultados. Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano de Washington, saiu-se com essa: "Os eleitores peruanos têm um talento especial para escolher mal seus presidentes, e estão prestes a fazer isso novamente". Apostando que uma vitória de Humala criará um outro Chávez, Hakim só agora descobriu que "sucesso macroeconômico" não basta se a miséria e a exclusão social crescem.
A questão central é como algumas elites sonham a sua democracia. Essa grande utopia política, magnífico arranjo que pretende governabilidade com cidadania, incorporou-se aos valores ocidentais de modo radical; e compõe, com o de livre mercado, o grande bordão do atual discurso hegemônico. Mas ambos os conceitos são utilizados com grande ambigüidade, visando preservar privilégios: o do livre mercado, pretende-se que seja praticado integralmente somente pelos mais pobres; e o de democracia, só merece elogios se as urnas consagram candidatos que agradam as elites econômicas.
Quando a prática democrática unge Chávez, Evo Morales ou Humala, essas mesmas elites tendem a desqualificar o regime; ou tentam melar o jogo. Na "democracia" imposta à bala no Iraque, Condoleezza Rice reclamou que o primeiro-ministro eleito em meio a poças de sangue é fraco demais. Muita gente lembrou, com ironia, que Saddam Hussein talvez fosse o candidato forte "ideal".
Gilberto Dupas
24/04/2006
Alguns intelectuais utilizam certa dose de arrogância na avaliação da democracia e de seus resultados. Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano de Washington, saiu-se com essa: "Os eleitores peruanos têm um talento especial para escolher mal seus presidentes, e estão prestes a fazer isso novamente". Apostando que uma vitória de Humala criará um outro Chávez, Hakim só agora descobriu que "sucesso macroeconômico" não basta se a miséria e a exclusão social crescem.
A questão central é como algumas elites sonham a sua democracia. Essa grande utopia política, magnífico arranjo que pretende governabilidade com cidadania, incorporou-se aos valores ocidentais de modo radical; e compõe, com o de livre mercado, o grande bordão do atual discurso hegemônico. Mas ambos os conceitos são utilizados com grande ambigüidade, visando preservar privilégios: o do livre mercado, pretende-se que seja praticado integralmente somente pelos mais pobres; e o de democracia, só merece elogios se as urnas consagram candidatos que agradam as elites econômicas.
Quando a prática democrática unge Chávez, Evo Morales ou Humala, essas mesmas elites tendem a desqualificar o regime; ou tentam melar o jogo. Na "democracia" imposta à bala no Iraque, Condoleezza Rice reclamou que o primeiro-ministro eleito em meio a poças de sangue é fraco demais. Muita gente lembrou, com ironia, que Saddam Hussein talvez fosse o candidato forte "ideal".