29 maio 2006

 

Da falência das instituições às várias formas do crime organizado
Waldemar Rossi
29/05/2006

A guerra civil está instalada no Brasil. Não se trata de uma “guerra política”, que implique em luta por mudanças radicais no país, com vistas a eliminar as profundas injustiças que crescem sem limites. Seria altamente positivo se a rebelião civil implicasse, em vez do crime organizado, a mobilização popular em favor de um novo Brasil, onde o direito e a justiça social prevalecessem sobre a prática extorsiva, sugadora e destrutiva do neoliberalismo. Trata-se, como podemos claramente identificar, de uma guerra entre facções do crime organizado, instaladas dentro e fora das instituições.


Soberania alimentar requer rompimento com o agronegócio
Ariovaldo Umbelino
29/05/2006

Veja, o grande equívoco dos agricultores brasileiros foi desenvolver aqui a tese de que a agricultura capitalista é capaz de competir no plano mundial, com possibilidade de vencer essa competição capitalista. Isso aconteceu exatamente porque se conseguiu, nesses esquemas de securitização das dívidas, camuflar os subsídios, ou melhor, a sua ausência. No mundo inteiro, a agricultura é subsidiada. George W. Bush, no início de seus dois mandatos, tratou de votar o Farm Bill, que destinava, em quatro anos, algo em torno de US$ 250 bilhões de dólares para a agricultura norte-americana. O Brasil é o único país do mundo onde agricultores e alguns economistas dizem que é possível uma agricultura capitalista que não se insira nesses moldes.

Se olharmos hoje o mercado da soja e sua produtividade – ou seja, a quantidade de soja produzida por hectare -, ela é praticamente a mesma no Brasil, nos Estados Unidos e na Argentina. Nos Estados Unidos, produz-se majoritariamente o milho, não a soja – que é um quinto da produção do milho. Lá, a produtividade do milho está entre 9 e 10 toneladas por hectare. No Brasil, ela está entre 2 e 3 toneladas por hectare. Na realidade, a agricultura brasileira não tem condições de competir no mercado mundial.

Os agricultores brasileiros conseguiram, no entanto, convencer a mídia e uma série de intelectuais de que são competentes do ponto de vista capitalista e que podem disputar esse mercado, criando o mito de que a agricultura e o agronegócio são os responsáveis por boa parte das divisas internacionais do Brasil e que têm uma participação significativa no PIB. Isso é uma grande mentira, porque, se nós tomarmos a participação dos produtos agrícolas no mercado mundial, vamos verificar que a agricultura responde por menos de 10% das exportações mundiais. No caso brasileiro, inseriram no que eles chamam de PIB do agronegócio a parte da indústria e também os supermercados, inflando os dados e o próprio mito. E é esse mito que garante a importância do agronegócio, o combate à reforma agrária e que proporciona uma reivindicação maior de recursos do “fundo público”, como diz Chico de Oliveira.Se olharmos o volume da produção de arroz, feijão e mandioca, que são os três principais alimentos da população pobre desse país, não há nenhum crescimento desde 1992. O preço da âncora verde é, assim, o não-aumento da produção. E se a produção não aumenta, mas a população cresce, temos que recorrer à importação. Hoje, o Brasil é o maior importador de trigo do mundo. Importamos também arroz, feijão, o que é um absurdo total, uma vez que são culturas que o país podia produzir. Se não produz, é por falta de uma política voltada para a proteção à agricultura de pequeno porte. O resultado é que não temos hoje, em pleno século XXI, nem segurança alimentar e nem muito menos soberania.

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