25 maio 2006
O indizível
Demétrio Magnoli
25/05/2006
Os custos incalculáveis da "guerra às drogas" são pagos pelos cidadãos dos países produtores e consumidores, sob as formas de expansão concomitante da criminalidade e dos sistemas policial e carcerário, mas, sobretudo, do apodrecimento das instituições de Estado e da degeneração geral do tecido social. A droga clandestina serve, eventualmente, às operações especiais. Na administração Reagan, a distribuição de crack entre jovens pobres das cidades americanas financiou, diretamente, a guerrilha anti-sandinista dos "contras". As rendas do tráfico corrompem as polícias e a política, no Afeganistão, na Colômbia, na África do Sul ou no Brasil. "Elite da Tropa", o livro indispensável de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, conta a história da dissolução das fronteiras entre o Estado e o crime no Rio de Janeiro. Lembo e Lula, em dobradinha sofística improvável, rimaram crime e pobreza. O destampatório do preconceito desvia os olhares da matança, primeiro de policiais, depois dos eternos suspeitos. O dinheiro da droga, devidamente lavado, irrigará campanhas eleitorais. Candidatos proporão erguer presídios em profusão. Ninguém, nem o ministro Gil, levanta a voz para propor o indizível.
Demétrio Magnoli
25/05/2006
Os custos incalculáveis da "guerra às drogas" são pagos pelos cidadãos dos países produtores e consumidores, sob as formas de expansão concomitante da criminalidade e dos sistemas policial e carcerário, mas, sobretudo, do apodrecimento das instituições de Estado e da degeneração geral do tecido social. A droga clandestina serve, eventualmente, às operações especiais. Na administração Reagan, a distribuição de crack entre jovens pobres das cidades americanas financiou, diretamente, a guerrilha anti-sandinista dos "contras". As rendas do tráfico corrompem as polícias e a política, no Afeganistão, na Colômbia, na África do Sul ou no Brasil. "Elite da Tropa", o livro indispensável de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, conta a história da dissolução das fronteiras entre o Estado e o crime no Rio de Janeiro. Lembo e Lula, em dobradinha sofística improvável, rimaram crime e pobreza. O destampatório do preconceito desvia os olhares da matança, primeiro de policiais, depois dos eternos suspeitos. O dinheiro da droga, devidamente lavado, irrigará campanhas eleitorais. Candidatos proporão erguer presídios em profusão. Ninguém, nem o ministro Gil, levanta a voz para propor o indizível.