31 julho 2006

 

  • "Só não mandem me matar.
    Então, por favor, sou mãe de família, quero continuar criando os meus filhos."

    Heloísa Helena

    31/07/2006

 

As profissões: 2- Os economistas
João Sayad
31/07/2006

Economistas são os teólogos do capitalismo. Têm uma fé: a origem do Mal -inveja, violência- é a escassez. E a escassez de casa, comida e roupa deve ser solucionada pelo mercado. E uma religião: o mercado é o caminho da salvação que nos tornará "modernos", civilizados e humanos.

Tudo o que incomoda é batizado de "distorção de mercado", análoga ao pecado original dos teólogos cristãos. Desemprego -falta de educação. Violência -falta de punição. A Primeira Guerra -disputas coloniais por matéria-prima. A Segunda Guerra -por causa da Primeira. Dois mil anos de conflito em Jerusalém -petróleo.

Se as drogas fossem liberadas, o preço cairia e o tráfico seria menor. O PCC -falta punição ou gestão. Racismo -cotas para corrigir a distorção. São otimistas, pois o mundo seria mais fácil se fosse povoado apenas por dinheiristas radicais. Poderíamos negociar. Mas há radicais de vários tipos -racistas, fundamentalistas etc.

29 julho 2006

 

Uma teoria sobre as pesquisas eleitorais
Luiz Antonio Magalhães
29/07/2006

O jornalista Reinaldo Azevedo escreveu em seu blog uma interessante teoria sobre as pesquisas eleitorais. Ele acredita que um terço do eleitorado (33%, portanto) vota em Lula mesmo que o candidato chute a padroeira do Brasil, ao vivo, em rede nacional, como fez aquele bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. "Vão dizer que a santa provocou", brinca Azevedo. Outro terço foge de Lula como o diabo da cruz, para seguir na analogia religiosa. E o terço restante seria pendular - pode votar em Lula, como ocorreu em 2002, e pode não votar. Tudo dependeria do cenário político e, é claro, do desempenho dos demais candidatos.

A teoria de Reinaldo é respeitável e será colocada à prova nessas eleições. Esta coluna, humildemente, vê as coisas de outra forma. De fato, as votações do PT até a eleição de Lula estariam a dar razão ao jornalista. Desde então, porém, o quadro parece ter mudado. O presidente ampliou o seu cacife inicial. Hoje, em todas as pesquisas, aparece acima dos 40% do total. É lícito supor que tenha perdido parte daqueles 33% de eleitores cativos em função de sua política econômica conservadora. Os mais radicais deixaram o PT e hoje votam em Heloísa Helena (PSOL), que já chega a 10% nas pesquisas. Restariam a Lula, portanto, 23% de eleitores convictos. Faltam quase 20% para a conta fechar. São os convertidos ao lulismo, em geral gente das classes mais pobres, que antes desconfiava de Lula pelo seu passado operário, "sem diploma e sem experiência", argumentos que não serão mais utilizados, uma vez que ele não é mais operário e tem um diploma importante: o de presidente da República.

Sendo assim, o que esta coluna consegue enxergar é um terço de eleitores que votará contra Lula, qualquer que seja a opção colocada na urna eletrônica para derrotá-lo. Hoje, são os eleitores de Alckmin, que tem justamente 32% nas últimas enquetes. A conta agora está assim: 40% de Lula, 32% de Alckmin e 10% de Heloísa. São 82% dos eleitores. Os 18% restantes vão se dividir entre nulos, brancos e os candidatos nanicos. A taxa histórica de brancos e nulos beira 20%. Portanto, para haver segundo turno, Alckmin tem que torcer para uma das três hipóteses a seguir: que Heloísa e Cristóvam Buarque superem 10% sem roubar um único voto da aliança PSDB-PFL, mas apenas de Lula; que os nanicos tenham um desempenho espetacular; ou que a taxa de brancos e nulos caia consideravelmente. Fora daí, Alckmin teria que tirar votos na seara de Lula, especialmente nas classes D e E, porque nas demais faixas, o jogo está jogado e dificilmente haverá mudanças, salvo alguma bomba de efeitos ainda não conhecidos durante a campanha.

É possível? Sim, é possível, mas é uma tarefa difícil.

28 julho 2006

 

Parindo o novo
Luís Nassif
28/07/2006

E, aí, retorno às analogias com a década de 20. No período, as elites intelectual e empresarial brasileiras davam as costas para o Brasil e tentavam se firmar como elite européia. O deslumbramento era conseqüência do processo de globalização financeira que já entrava em seus estertores.

Nas ruas, havia uma insatisfação generalizada e difusa contra o estado de coisas, mas sem que se soubesse direito o que mudar, o que fazer. A conseqüência era a série de quarteladas que, se de um lado demonstrava falta de rumo, de outro mostrava que o país estava vivo e se mexendo.

É nesse período que se consolida uma rica cultura popular urbana no Rio de Janeiro. Em São Paulo, os filhos da elite rural montam a Semana de 22, com sede e fome de Brasil. Levaria alguns anos a mais para que essa insatisfação se materializasse em mudanças.

Em tudo o momento atual lembra os anos 20, com algumas diferenças. Em vez de quarteladas, tem CPIs e escândalos na mídia -não poupando ninguém, de Collor e Fernando Henrique a Lula. Essa insatisfação não é estéril, embora os cultivadores do escândalo, em sua maioria, o sejam.

Nos anos 20, enquanto os intelectuais falavam do fim do país, de sua falta de expressão cultural, estava sendo moldada uma cultura popular extraordinariamente rica que traria desdobramentos na música erudita, na literatura.

No século 21, esse novo Brasil está pronto. E nada como testemunhar o casamento da ancestral Academia com os sambistas da Mangueira para acreditar que, independentemente de eleições, dos escândalos reais e dos fabricados, o país caminha. Já tem massa crítica para o salto, para o surgimento, em um ponto qualquer do futuro, do estadista que o recoloque no rumo.

 


"La garantía soy yo"
Fernando Barros e Silva
28/07/2006

Ofuscada pelos sanguessugas, passou quase despercebida a fala do presidente na inauguração do seu comitê eleitoral, na última terça à noite, em Brasília. Em meia hora de discurso improvisado, Lula soltou diante de 2000 acólitos que o ouviam as seguintes confissões: "Banqueiro não tinha por que estar contra o governo, porque os bancos ganharam dinheiro". Em seguida: "As empresas brasileiras ganharam dinheiro como poucas vezes na história. Em 2004 foi a primeira vez que as maiores empresas ganharam mais que os bancos. Não tinham porque estar com tanta raiva e preconceito".

Mais revelador, porém, é o pressuposto não explicitado do que disse Lula: "Banqueiros, donos do capital, uni-vos em torno de mim! Eu sou a ordem, o fiador da vossa farra e da vossa segurança!". Talvez seja isso o que defina historicamente a atual presidência: numa ponta, abana os ricos, na outra, expande o sopão dos miseráveis e mantém sob certo controle, na base da embromação, a panela de pressão dos movimentos sociais, já alquebrados pelo curso do mundo.

27 julho 2006

 

Ilusões perdidas
Paulo Nogueira Baptista Jr.
27/07/2006

Seria o caso até de indagar se não estaria havendo um erro de posicionamento do Brasil, isto é, uma ênfase exagerada na busca de espaço para a agricultura exportadora em troca da abertura dos nossos setores industriais e de serviços. Será que essa estratégia negociadora é compatível com a estrutura da economia e da sociedade brasileiras?

O Brasil é, há muito tempo, um país essencialmente urbano-industrial. A agricultura não voltará a ser o centro dinâmico da economia, como foi até a década de 1930. É justificável usar os talentos e as energias dos nossos negociadores para tentar obter a abertura de mercados agrícolas?

Parece duvidoso, sobretudo quando se considera que os desenvolvidos já vêm dando, há vários anos, indicações claras de que não se moverão muito em termos de liberalização agrícola.

 

A nova lei cambial
Luís Nassif
27/07/2006

Na verdade, entre setores da área econômica já se dá como certa a redução dos juros. O máximo que o BC poderá fazer é retardar um pouco o momento. O grande desafio será o que fazer com o excedente que será gerado pela redução. Analistas minuciosos das contas fiscais estimam que a derrubada da taxa de juros para 10% permitirá uma economia de juros equivalente a três pontos percentuais do PIB ao ano. Se o dinheiro for aplicado em investimentos essenciais e na redução da dívida, há espaço para vislumbrar potencial de crescimento nos próximos anos.

24 julho 2006

 



“A formação do PT foi algo muito específico. E é importante não esquecer que aconteceu simultâneo a um movimento de democratização muito importante. Foi dentro desse movimento que o PT nasceu. Esse conjunto é irrepetível. Não tem a conjuntura e a estrutura de forças que fizeram o PT. O movimento sindical, tal como o conhecemos, e tal como ele formou a pauta social e política dos anos 70, não existe mais. Aquele tipo de movimento sindical não existe mais e não existirá. O PSOL está, portanto, em busca de uma miragem.”

Francisco de Oliveira
24/07/2006

 

“Tomem a última declaração de bens de Lula. A metade de seu patrimônio está em aplicações financeiras. O paradoxo é que ele está à testa de um governo que endivida o país, e essa dívida é parte do seu patrimônio. É a cobra mordendo o próprio rabo. É apenas emblemático. Onde ele aplica? Como não é um especulador da bolsa, provavelmente em títulos da dívida pública. Ele aumenta o patrimônio graças ao endividamento do governo que preside.”

Francisco de Oliveira
24/07/2006


23 julho 2006

 

  • “O processo de privatizações levado adiante pelo governo Fernando Henrique foi criminoso. Basta lembrar que a Vale do Rio Doce, a maior mineradora do mundo, foi vendida por R$ 3 bilhões. O lucro líquido da empresa, no ano passado, foi de R$ 12 bilhões. Eu defendo que a economia brasileira precisa reconstituir um núcleo endógeno de desenvolvimento, centrado em conglomerados estratégicos de base nacional. E adoraria reestatizar a Vale, mas não posso prometer o que não posso entregar. Não sei como fazer. Mas com certeza haverá auditorias e reavaliações."

    César Benjamin

    23/07/2006

21 julho 2006

 

Pois é, pra quê?
Luís Nassif
21/07/2006

Há anos o Brasil luta para se tornar um "investment grade" -isto é, um país com uma classificação de risco ótima. Com esse selo, Tesouro e empresas nacionais conseguirão captar no mercado internacional a um custo mais baixo.

Ser "investment grade" não significa muita coisa, em termos de avaliação da qualidade intrínseca da economia. Como lembra o consultor Igor Cornelsen, Botsuana é AAA (o mais alto grau de avaliação), não por ser uma nação virtuosa e desenvolvida, mas porque não tem dívida externa. "Dizem que o Brasil só pode ser "investment grade" quando a dívida pública interna tiver 50% dos seus títulos prefixados e com um prazo médio de rolagem bem superior ao atual. Bobagem. A dívida externa pode se tornar "investment grade" em poucas semanas, independentemente da interna." O Brasil tem mais reservas do que dívida externa. Bastaria liquidar a dívida externa remanescente.

A questão é: para quê?

20 julho 2006

 

Um fato, enfim
Jânio de Freitas
20/07/2006

Só com a demonstração de que tem potencial para provocar o segundo turno na disputa pela Presidência, a senadora Heloísa Helena já causou no círculo de Lula um abalo que a deixa vingada da violência totalitária que a excluiu do PT. A inquietação planaltina, portanto, é efeito de outra obra política de José Dirceu e José Genoino, esta sem suscitar dúvida sobre a participação de Lula, que fez bem mais do que abençoar a exclusão dos que não renegaram o programa do PT e os compromissos eleitorais do próprio Lula.

A primeira dedução refere-se ao teor e à linguagem do programa de campanha que apresentará. Tanto pode ter o propósito de pregação ideológica, com atração eleitoral mais do que duvidosa, ou trazer o sonho para perto do chão dos eleitores frustrados. Neste caso, com provável efeito eleitoral. O programa está incumbido ao vice da chapa, Cesar Benjamin, que é muito qualificado.

18 julho 2006

 




Síntese
João Sayad
17/07/2006

O Banco Central pratica uma violência ao fixar os juros mais altos do mundo. Gasta R$ 150 bilhões por ano, mais do que todo o país gasta em educação. A decisão de reduzir os juros mais rapidamente depende das glândulas e do sistema límbico do Banco Central, as partes do cérebro responsáveis pelo medo. Mas, quando e se reduzirem os juros, a decisão será apresentada como solução de três equações processadas pelo córtex frontal.

O córtex frontal está localizado na parte da cabeça protegida pela testa. Como a testa larga e generosa de Zidane, que atingiu em cheio o italiano que o ofendeu. Usou a cabeça como arma, o córtex frontal que controla os impulsos como instrumento do impulso, a caixa da razão como martelo de violência, um gesto síntese de civilização, exemplar, praticado à frente do mundo inteiro. Naquele segundo, por mimese, vários brasileiros secretaram litros dos hormônios que retesam os músculos requeridos para uma boa cabeçada nas testas estreitas dos responsáveis pelos juros altos. Frustrados, continuaremos com as dores da gastrite, comuns em pessoas que pensam que, por serem civilizadas, não podem ter o prazer de dar murros ou uma cabeçada.

 

Passem mal no inferno!
Fausto Wolff
18/07/2006

A situação no Rio e em São Paulo está tão braba que milionários resolveram comprar pit-bulls (guarda-costas) para proteger suas propriedades. O amigo de um deles foi visitá-lo e o cachorro não o deixou entrar. Gritou do lado de fora: "Teu cachorro não me deixa entrar". E o dono do cachorro: "E a mim não deixa sair". Cria cuervos que te comerán los ojos.

17 julho 2006

 

A refundação do Estado
Mauro Santayana
17/07/2006

Estamos hoje entre dois candidatos, ambos animados pela ambição pessoal de poder, e ambos delegados do mais rico dos Estados brasileiros. E, mais ainda, segundo a recente declaração de Lula, nenhum deles é de esquerda, nem nacionalista. Nesse caso, ambos são neoliberais e, além de usar de todas as prerrogativas de que encontra investido, em favor dessa opção ideológica, o presidente a ser eleito este ano estará exercendo, por delegação, o predomínio político de São Paulo sobre o resto do país.

16 julho 2006

 


A escalada
Jânio de Freitas
16/07/2006

A lógica brasileira de administração pública, portanto, ainda não teve motivo para incluir a insegurança urbana nas suas preocupações prioritárias. Tal como ocorre com o saneamento, o déficit habitacional, a saúde e o ensino públicos, a aposentadoria e o horror chamado INSS, a reforma agrária, o emprego. E tudo o mais que só diz respeito aos que elegem, mas não influenciam. Inclusive a favelização e o encarceramento. Não por acaso, o sórdido encarceramento à brasileira e as condições subumanas da favela têm muito em comum: um como versão extremada da outra.

Como solução, constroem-se mais presídios. E prendem-se cada vez mais criminosos. Duas progressões que não se resolvem. Só com os 126 mil já encarcerados, São Paulo e suas 93 mil vagas prisionais continuam acumulando um preso e meio onde só caberia um. Se cumpridos os milhares de mandados de prisão esperados pelo Judiciário, as várias modalidades de cadeia explodiriam, todas, sob a pressão dos corpos comprimidos. Seria a consagração do sistema carcerário praticado no Brasil.

O PCC realçou em São Paulo um cenário que não é só paulista. A política da repressão que se basta é nacional e histórica. Sempre se satisfez em prender, sem se interessar pelo que leva a essa necessidade crescente, nem pelo que sucede depois da prisão. Nas palavras com que o secretário de Segurança de São Paulo presta conta da ação governamental como resposta ao tumulto criminoso de maio: "Nestes dois meses prendemos 300".

15 julho 2006

 

Sem novidades no front
Fausto Wolff
15/07/2006

A outra candidata é Heloísa Helena, do PSOL, que tem um plano de governo que abrange toda a nação brasileira.

Sua meta é o socialismo, que deverá responsabilizar-se pela educação, cultura, saúde, emprego, salários decentes, habitação e terra para todos. Tomem nota do que digo: ela chegará ao segundo turno, pois Lula pode enganar o povo mais miserável – aquele que da árvore da vida só recebeu os frutos podres. Alckmim pode enganar a burguesia ascendente. Mas ninguém conseguirá enganar a classe média que está descendo sob cascudos a escada escorregadia que leva ao inferno do proletariado.

14 julho 2006

 


Ainda o futebol!
Luiz Carlos Mendonça de Barros
14/07/2006

O sucesso da seleção criou uma esperança entre os brasileiros e mascarou problemas que já existiam no time e que apareceram na Copa. E muitos no mercado financeiro fazem agora o papel de parte da mídia esportiva no caso da seleção.

O objetivo maior da política econômica de um país é o de promover um crescimento forte e sustentável da atividade econômica. É por meio do crescimento que a sociedade se desenvolve, melhorando de forma sadia as condições de vida de seus cidadãos. O crescimento do emprego e dos salários de forma sustentável é a medida mais importante do sucesso de um país ainda pobre, como é o caso do Brasil. E hoje não estamos crescendo na velocidade necessária.

Portanto, se quisermos avaliar as condições de uma economia de mercado em função de um só indicador, eu escolheria o mercado de trabalho.

Em 1998, os trabalhadores que ganhavam mais de cinco salários mínimos representavam mais de um quarto do total; hoje, são menos que um sétimo.

A renda real média do trabalho, ponderada pelo número de trabalhadores por faixa de renda, está abaixo do nível de 2001.

 

Lembo no reino dos espertos
Luís Nassif
14/07/2006

O governador Cláudio Lembo é dotado da boa-fé dos justos, quase até o limite da ingenuidade. Quando ocorreu a primeira invasão do PCC, percebeu logo de cara que tinha sido vítima de uma esperteza de seu antecessor, Geraldo Alckmin, que deixou estourar no seu colo a bomba da transferência para presídio de alta segurança das lideranças do PCC.

Hoje, livre da batata quente, o ex-governador Alckmin continua criando máximas clássicas, como a de que a melhor maneira de combater o controle do PCC sobre os presídios é "atuar com inteligência, persistência e prender as lideranças do crime"... que controlam os presídios justamente por já estarem presas.

13 julho 2006

 

Profissão: economista
Valor Econômico
13/07/2006

"Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo", dizia o poeta que andava descrente da filosofia ou, quem sabe, desiludido com o debate sobre a origem dos bebês. A teoria da reprodução afirmava que um bebê era resultado da relação sexual. Em defesa de hipótese heterodoxa, cientistas documentaram milhares de casos de relação sem reprodução. Depois comprovaram - cientificamente - a existência das cegonhas. Encontraram uma forte correlação positiva entre o número das aves e o dos nascimentos. Usaram gráficos para mostrar que, na Holanda, ambos os números estavam em queda. E, assim, proclamaram a vitória da teoria da cegonha e enterraram a hipótese rival.

12 julho 2006

 



O PCC e o ovo da serpente
Luís Nassif
12/07/2006

O PCC , maior organização criminosa já organizada em São Paulo, estruturou-se e se fortaleceu no interior dos presídios paulistas. Essa é a parte mais fantástica da história. Fica-se nessa operação selvagem mata-bandido, mas toda a organização opera a partir de lideranças que já estão presas. Esse diagnóstico consta do trabalho "O Ovo da Serpente", de Edmar de Oliveira Cicliati, juiz de Direito em Tupã.

 

Governar é construir presídios
Vinicius Mota
10/07/2006

Balbinos, pacata cidade na região central do Estado de São Paulo, encerrou 2005 com 1.339 habitantes. A inauguração de duas penitenciárias, em 3 de março deste ano, deu início a uma nova era na cidadezinha. As cifras mais atualizadas dão conta de que o município já abriga 1.758 presos -mais gente atrás das grades do que livre.

As penitenciárias lotadas representam para os bandidos o que as fábricas abarrotadas significaram para os trabalhadores no início da industrialização: um convite natural à organização. A diferença é que o movimento dos operários civilizou o capitalismo, enquanto a nave do PCC está na rota da barbárie.

 

Geraldo Alckmin precisa ouvir o Bussunda
Elio Gaspari
12/07/2006

Geraldo Alckmin dá a impressão de reencarnar do sujeito que decorou a letra R da enciclopédia. Com uma diferença: memoriza números. O Estado que governou por cinco anos teve cerca de 50 agentes da ordem assassinados em menos de 90 dias, 1.500 presos foram confinados como bichos num espaço onde caberiam 150 e ele tem o seguinte a dizer: "A fuga no Estado de São Paulo no ano passado foi 0,13. Isso é número europeu".

O índice europeu de fugas dos presídios paulistas tem pouco a ver com o que acontece no Brasil. Muito mais relevante é a indicação de que aqui morrem mais policiais do que em qualquer outro país. Isso numa cultura de segurança que mata mais cidadãos que todas as polícias da Europa somadas. Alckmin sabe que o eixo da discussão é esse. Seu secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu, a quem chamou de "servidor público número um", também sabe. A patuléia não está aí para ser ludibriada com números europeus em conserva.

Alckmin cultiva um mantra de campanha. Seja qual for o tema, diz que Lula é omisso e que no seu governo haverá estudo, firmeza e determinação. No caso da segurança, por mais omisso que seja o Nosso Guia, o pudim paulista é de Geraldo Alckmin. A ruína não começou com ele, mas foi com ele quem cevou um modelo truculento e espalhafatoso que acabou em fracasso. Conseguiu o impossível: tornou-se páreo para Anthony Garotinho.

11 julho 2006

 

Erro e obscenidade
Clóvis Rossi
11/07/2006

Agora, um estudo do economista Marcio Pochmann, que é petista e, portanto, insuspeito de participar da suposta conspiração contra o governo Lula, prova que os 10% mais ricos do país e que têm dinheiro aplicado a juros obtiveram um rendimento médio financeiro real (acima da inflação) de 65,8% entre 2001 e 2004, ao passo que os 20% mais pobres (que vivem da renda do trabalho) tiveram um aumento nos ganhos de 19,2%.

Ou, posto de outra forma: a renda dos ricos cresceu três vezes mais que a renda dos pobres. Não há hipótese, nas circunstâncias apontadas, de que se reduza de fato a desigualdade. Não se trata de interesse meramente acadêmico. O brasileiro tolerou tempo demais uma desigualdade obscena. Supor, equivocadamente, que ela está caindo, mesmo microscopicamente, só reforçaria a tolerância. E a obscenidade.

10 julho 2006

 

A ilha
João Sayad
10/07/2006

Era uma vez uma ilha onde viviam cem pessoas -32 crianças, 32 trabalhadores e 32 aposentados. Mais três economistas: um vermelho, um verde e um branco. E um presidente que era sempre reeleito.

Catavam cocos que vendiam a um dólar cada. O PIB era de US$ 100 por ano e de um dólar por habitante. O salário dos adultos era de US$ 3,13 por ano. Gastavam um dólar com a educação da criançada; outro dólar para pagar os velhos e o terceiro para comprar cocos. Os treze centavos que sobravam iam para os economistas e o presidente.

A Ilha, apesar de ilha, foi globalizada. Tem um Mc Donald's e a molecada usa Nike. Investiram em máquinas de catar coco. A produtividade dobrou: o PIB passou para 200 cocos por ano. O mercado de cocos só absorvia 175 cocos. Quatro adultos perderam o emprego.

A saúde melhorou e os velhos vivem mais. Passaram a ser 36 velhos, 24 adultos empregados e quatro desempregados. A ilha virou um paraíso com câmbio flutuante, metas de inflação e dois problemas: desemprego e déficit da Previdência.

O economista vermelho disse que o problema vinha da distribuição de renda. Propôs um imposto sobre as máquinas para financiar a aposentadoria dos quatro velhos e o seguro-desemprego dos quatro desempregados. Impossível: com o imposto, os empresários levariam as máquinas embora. O economista verde propôs que todos trabalhassem menos para que os velhos e os desempregados pudessem trabalhar. Virou assunto de piada. O economista branco propôs produzir cocada para criar mais empregos. O verde foi contra porque o doce provocaria cáries e poluição. Um economista de outra ilha disse que o problema macro -desemprego- tinha origem micro -o déficit da Previdência. Corrigido o déficit, acabaria o desemprego. Que os velhos se aposentassem mais tarde e os empregados pagassem mais para a Previdência. Todas as ilhas do mundo queriam fazer a mesma coisa. E não faziam. O presidente se convenceu e implementou a reforma.

O desemprego aumentou, com oito desempregados a mais: quatro aposentados obrigados a voltar ao trabalho, mais quatro que foram demitidos, pois as contribuições de previdência maiores diminuíram os salários e a demanda de cocos. A Previdência não tem mais déficit.

A seleção da Ilha tinha onze craques, onze campeões do ponto de vista micro. O conjunto macro era um time de pernas de pau. Perderam a Copa da Micronésia. Moral da história: é melhor resolver a macro antes da micro. Com o efeito estufa, a Ilha foi coberta pelo mar e não existe mais.

09 julho 2006

 


No ano que vem Nosso Guia vira milionário
Elio Gaspari
09/07/2006

A apoteose patrimonial de Lula, cujo ervanário passou de R$ 423 mil em 2002 para R$ 839 mil (um crescimento de 98%), é um monumento ao privilégio, à gulodice e à soberba. Reeleito, Lula se transformará num declarado milionário lá pelo segundo semestre do ano que vem. Nosso Guia enriqueceu em 2003, quando decidiu acumular a pensão de R$ 3.862 do Bolsa-Ditadura que recebe desde 1996, com o salário de presidente da República (R$ 6.830 líquidos).
A apoteose patrimonial de Lula sugere uma pergunta: Por que aceitou que Paulo Okamotto, tesoureiro de suas campanhas em 1994 e 1998, pagasse com dinheiro próprio uma dívida de R$ 29.436 cobrada pelo PT, no cumprimento da Lei Eleitoral? O doador universal não estava tão abonado assim. Dividiu a fatura em quatro prestações, entre dezembro de 2003 e março de 2004. Nessa época Lula tinha uns R$ 150 mil na banca.

 

Uma fábula do capitalismo
Mauro Santayana
09/07/2006

Ao comentar a agressividade do grupo Mittal e a resistência dos executivos da européia Arcelor (que tem pequena participação de capitais estatais franceses, espanhóis e, é claro, belgas e luxemburgueses) o jornal Le Monde, em editorial de sexta-feira, mostra o problema crucial destes tempos modernos: os Estados nacionais, a fim de preservar empregos e tributos, tornaram-se reféns dos conglomerados privados. Eles decidem onde e como devem atuar, e determinam, pelas pressões, pela chantagem e pelo suborno, as ações do poder executivos e a aprovação parlamentar de leis em seu benefício. O resultado já se sabe: os cidadãos, que os governos representam, já não são senhores de seus recursos e de seu território. Pior, ainda: não tem como assegurar a soberania na escolha do próprio destino.

08 julho 2006

 

O capitalismo das elites
Wladimir Pomar
08/07/2006

Mas supor que se pode construir uma nova sociedade com Alckmin, aí já é acreditar que a elite brasileira pode se transformar em seu oposto. Quando falo em elite brasileira, não falo de uma elite capitalista nativa, desejosa de desenvolver o sistema de forma autônoma e soberana, como fizeram as elites capitalistas de outros paises. Falo de uma elite colonizada e submissa, obediente aos padrões imperiais. Uma elite sempre pronta a latir grosso, e a morder os pobres e fracos (daqui e de outros países), mas a miar baixo e rastejar diante dos ricos e poderosos (daqui e das potências industriais).

 

As “feras do Saldanha”
Léo Lince
08/07/2006

O fracasso da seleção brasileira na copa da Alemanha foi contundente e revelador. Muitas opiniões críticas, na forma do jogral multitudinário que invadiu a seção dos leitores de todos os jornais, cuidaram de tratar o sucedido como expressão concentrada do atual momento brasileiro. Faz sentido.

Recolho, destas páginas pouco lidas, algumas pérolas da voz anônima das ruas. Houve quem dissesse, por exemplo, que: “a apatia da nossa seleção é o reflexo da apatia da sociedade brasileira com a situação atual do país”. E sugere que está na hora de acordar e mudar “a atual seleção de políticos que hoje nos representa”.
Em outra carta se diz: “Brasil, um país de todos. Todos os carentes de educação e saúde, de emprego. País dos pobres-fáceis-de-governar. Do futebol fantasma destes milionários sem pátria, esquecidos da sua própria história, sem compromisso”. Mais uma: “essa seleção é coerente com a época em que o país vive. Tem bons recursos humanos, um técnico bom de discurso, sem tática, estratégia (...) igual ao governo”. Ou esta, que sumariza: “a seleção dos comerciais não conseguiu jogar ao vivo”.

07 julho 2006

 


Alckmin, Lula e as formigas da Guiana
Elio Gaspari
07/07/2006

Na noite em que chegou a 45 o número de policiais e agentes penitenciários assassinados em São Paulo em menos de dois meses, o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse que enfrentará a crise da segurança criando um conselho. Mais um. Logo Alckmin, legatário do mingau em que se transformou a segurança dos agentes da ordem pública no Estado que governou por cinco anos. Para se ter uma idéia do que significam 45 mortos em 60 dias, em toda a década de 1920, quando o crime organizado parecia controlar Nova York, morreram 57 policiais. Número inédito, nunca igualado. (O "choque de gestão" de Alckmin arrisca derrubar essa marca antes de outubro.)

Outro dia o "Jornal Nacional" mostrou a família de um agente penitenciário abandonando uma casa pobre, de poucos móveis, porque a bandidagem deu-lhe um prazo, ao fim do qual iria matá-la. Causou a mesma perplexidade que a desclassificação da Arábia Saudita. Não ocorre ao andar de cima mobilizar-se para mostrar aos bandidos que nunca mais uma família de um agente da ordem será desestruturada por falta de apoio. De quem? Das guildas patronais que gastam os tubos em pesquisas eleitorais, dos bancos que fazem obras sociais nos espaços nobres da publicidade, dos magnatas que andam com o papagaio do Estado mínimo no ombro. Enfim, de quem achar que não lhe fica bem ajeitar o meião quando Zidane centra para Henry.


O que falta em matéria de segurança é raça. Alguém que diga: a família do agente penitenciário que foi obrigada a deixar sua casa recebeu um apartamento e nele viverá o tempo que for necessário. Mais: as famílias de servidores públicos mortos pelos bandidos terão suas dívidas imobiliárias quitadas e seus filhos receberão bolsas de estudo até o último ano do curso superior.

06 julho 2006

 



Legião estrangeira
Paulo Nogueira Baptista Jr.
06/04/2006

Com isso, volto ao Brasil. O nosso problema, já sabemos, é a tradição colonial, que sobrevive mais ou menos intacta, como uma espécie de lodo inerte, no fundo do nosso subconsciente. Por isso, dizia Nelson Rodrigues, brasileiro não pode viajar. Quando desembarca na Europa ou nos Estados Unidos, cai de quatro e não levanta mais. Declara-se colônia, imediatamente. Ora, os titulares da seleção brasileira de 2006 eram todos expatriados, pertencentes a times europeus.

Logo depois do jogo contra a França, Armando Nogueira bradou indignado: "A seleção brasileira jogou com a frieza e a indiferença dos apátridas". Perfeito. Não era uma seleção nacional, mas uma legião estrangeira. Um grupo de estrelas "globalizadas", sem heroísmo, sem espírito de luta. Houve algumas exceções importantes, principalmente na defesa, mas predominaram o deslumbramento, a apatia e a inércia.

Em certo sentido, esses astros do futebol são a imagem perfeita das elites brasileiras, "globalizadas" e antinacionais, a imagem dos "brasileiros estrangeiros" que vêm desgovernando o Brasil há tanto tempo, especialmente na área econômico-financeira. Nas mãos desse tipo de gente, que joga para o empate, ou para ganhar de pouco, nem a seleção nem o país passam das quartas-de-final. A economia brasileira não passa nem das eliminatórias.

Um talento como o técnico Carlos Alberto Parreira não pode ser desperdiçado. Agora que ele ficou sem emprego, quem sabe não seria o caso de nomeá-lo para a diretoria do Banco Central? Lá também temos uma "legião estrangeira", bem menos talentosa do que a seleção de futebol, que joga feio, na retranca, bate uma bola superquadrada e está sempre afundando as esperanças do país.

 

O jogo de mitos na Copa e na economia
J. Carlos de Assis
06/07/2006

A mediocridade evidente da seleção de Parreira não é diferente da fragilidade dos fundamentos “sólidos” da economia de Palocci. Entretanto, a maioria da imprensa esportiva falava em “time de estrelas” e em “Fenômeno”, com a mesma cegueira com que a imprensa econômica não consegue perceber que, na América Latina, o Brasil só não perde do Haiti.

O sucesso econômico brasileiro é tão falso quanto o “time de estrelas”. Sendo ambos criações da mídia, suas debilidades ficam invisíveis por força do massacre de informações distorcidas com que leitores, ouvintes e telespectadores são bombardeados diariamente.

Ronaldo “Fenômeno” é uma invenção contábil, ancorado em milionários contratos publicitários. Depois dele, esta deveria ser a Copa de Ronaldinho, segundo a unânime previsão da mídia e dos publicistas. Cafu deveria bater recordes em copas, assim como Roberto Carlos. A impressão que dá é que os veteranos entraram em campo para defender suas biografias, e não para jogar como um time.

Na economia, temos também veteranos demais. Os conservadores e pseudo-ortodoxos estão nos arrastando ladeira abaixo, obrigando a sociedade a pagar aos agiotas institucionalizados os juros mais altos do mundo (R$ 180 bilhões este ano), sem qualquer contrapartida de investimento produtivo. É uma tragédia bem maior que perder a Copa.

04 julho 2006

 


Os cabeças de chuteira
Luís Nassif
04/07/2006
Há semelhanças claras entre Parreira e o comando da política econômica, inclusive na tentativa retórica de teorizar sobre aspectos comezinhos da vida, para racionalizar a própria falta de coragem de tomar atitudes.

A primeira característica comum -em Parreira e em sucessivas equipes econômicas- é a incapacidade de adaptar seus princípios táticos à realidade.

A segunda, prima-irmã da primeira, é o predomínio da inércia, o receio de correr o risco da mudança.

Para acentuar a segunda característica, tem a terceira: a pressão dos patrocinadores e/ou futuros empregadores, os fabricantes de artigos esportivos e o mercado, incutindo dose adicional de inércia ao jogo. Não está claro qual o "hedge" de que se vale uma Nike contra o risco da não-escalação de seus patrocinados. Mas que tem, tem.

A quarta característica é se valer de pequenas vitórias irrelevantes para justificar a manutenção do modelo. Uma vitória apertada contra adversários sem expressão assim como qualquer melhora irrelevante nos indicadores do PIB são pretextos para a não-ação.

A quinta característica é a falta do agente político, capaz de estimular o "espírito animal" -no caso da política econômica, dos empresários em investir; no caso de Parreira, dos jogadores em jogar. Felipão para presidente!

 

A mentira dos com-juros
Clóvis Rossi
04/07/2006

Segundo dado sobre pobreza/desigualdade registrado pela Folha, o que efetivamente reduz a pobreza no Brasil é o pagamento de aposentadorias e pensões, muito mais que as bolsas-esmola.


Então vamos combinar o seguinte: bolsa-esmola é necessária, deve até aumentar (o valor e o número de beneficiados), mas está longe de ser suficiente, seja para combater a pobreza, seja para reduzir a desigualdade, que, aliás, ninguém sabe de verdade se diminuiu, ficou igual ou até aumentou, dada a "subdeclaração" dos com-juros. O resto é propaganda.

 

Democracia e alternativa
Roberto Mangabeira Unger
04/07/2006

A resposta não é substituir o presidencialismo que copiamos dos americanos por parlamentarismo que copiaríamos dos europeus. E que, instituído precocemente, tornaria a política ainda mais controlável pelos interesses dominantes ao privar a nação dessa alavanca sem par que é a eleição direta de presidente.

O caminho, por enquanto, é consertar o regime que temos, dotando-o de mecanismos para a superação pronta dos impasses, por meio de eleições antecipadas ou de plebiscitos abrangentes, introduzindo nele elementos de democracia direta e participativa e revolucionando nossa cultura política graças ao financiamento público das campanhas, à adoção de Orçamento transparente e impositivo e à supressão da vasta maioria dos cargos públicos sujeitos a indicação política.

E reforçar ao mesmo tempo, sob resguardo do Judiciário, as garantias das oposições e das minorias. Democracia de alta energia, organizada para deixar que o povo brasileiro respire, resista, ouse e inove.

02 julho 2006

 


  • "Quando eu era pequeno, ia à escola das 8h às 17h, e minha mãe não me deixava descer para jogar. Eles [os brasileiros] jogam das 8h às 18h!".

    Thierry Henry
    01/07/2006

 

Cai o pano, cai a máscara
Francisco de Oliveira
02/07/2006

A política tornou-se uma brincadeira, custosa é verdade, e o Estado, uma ficção. Ou melhor: é um Estado de exceção, na acepção rigorosa do termo. Bolsa-Família por um lado, o limite da sobrevivência quase como em Auschwitz, e PCC pelo outro.

Lembrava-me antigo e brilhante aluno como era o Império Romano, segundo Gibbon: 50% de escravos empurrando a elite republicana ou imperial, contra 50% de cidadãos, estes imprensados entre os escravos -os 50% do informal- e os "bárbaros" -PCC e similares- que num movimento de pinças estraçalharam Roma. Perguntava-se Gibbon: em que vai dar isso? No desastre. Com que se parece?

01 julho 2006

 

A Varig e o caso Caio
Luís Nassif
30/06/2006


Hoje, em São Paulo, há 2.500 novos ônibus correndo com carrocerias da marca Caio. Trata-se de uma empresa falida. Sua falência, aliás, ocorreu antes da promulgação da nova Lei das Falências e foi a pedido dos próprios controladores. O que fez o juiz Ítalo Morelli? Já tinha presenciado outras falências em que as empresas eram fechadas, as instalações, lacradas, e, pouco tempo depois, depredadas, saqueadas, perdendo-se tudo.


Morelli resolveu ousar. Não tinha instrumentos na Lei de Falências anterior, mas tinha bom senso, coragem e o apoio do artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, que reza que o juiz deve ter sempre norte dentro dos fins sociais a que ela se destina. Fechar a empresa significaria jogar fora 500 empregos, marcas, instalações e qualquer possibilidade de ressarcir os credores.

Decidiu, então, alugar a fábrica: máquinas, marca e empresa funcionando. Mais que isso, se fosse adotar processos convencionais de licitação, como o mercado é dinâmico, a empresa perderia market
share. O juiz decidiu, então, arrendá-la por prazo determinado a um grupo idôneo.

Hoje em dia, de 500, a Caio passou a ter 2.500 funcionários. Agora, a empresa vai ser colocada à venda, em leilão, valendo muito mais do que na época da decretação da falência.



 

A raça dos pobres
Mauro Santayana
30/06/2006

A primeira reação à política de cotas parte da ciência: não existem raças humanas, existe ba espécie humana. Quando admitimos raças, estamos aceitando diferenças biológicas, e onde há diferenças (era o que pensavam Gobineau e Chamberlain), há superioridade e inferioridade. Do ponto de vista ético – e a ele que se deve subordinar a política – todos os grupos humanos revelam, historicamente, as mesmas virtudes e os mesmos pecados.

Sem esquecer os propósitos sombrios dos imperial thinkers da Fundação Ford, que pretendem dividir os homens em raças, para melhor domina-los, é melhor não pensar que não há brancos, nem negros. Há pobres e ricos, e disso sabe Pelé, que foi menino pobre. Como resumiu o escritor mineiro João Alphonsus, em Eis a Noite, coitados do negros, coitados dos brancos, coitados dos pobres.

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