29 julho 2006
Uma teoria sobre as pesquisas eleitorais
Luiz Antonio Magalhães
29/07/2006
O jornalista Reinaldo Azevedo escreveu em seu blog uma interessante teoria sobre as pesquisas eleitorais. Ele acredita que um terço do eleitorado (33%, portanto) vota em Lula mesmo que o candidato chute a padroeira do Brasil, ao vivo, em rede nacional, como fez aquele bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. "Vão dizer que a santa provocou", brinca Azevedo. Outro terço foge de Lula como o diabo da cruz, para seguir na analogia religiosa. E o terço restante seria pendular - pode votar em Lula, como ocorreu em 2002, e pode não votar. Tudo dependeria do cenário político e, é claro, do desempenho dos demais candidatos.
A teoria de Reinaldo é respeitável e será colocada à prova nessas eleições. Esta coluna, humildemente, vê as coisas de outra forma. De fato, as votações do PT até a eleição de Lula estariam a dar razão ao jornalista. Desde então, porém, o quadro parece ter mudado. O presidente ampliou o seu cacife inicial. Hoje, em todas as pesquisas, aparece acima dos 40% do total. É lícito supor que tenha perdido parte daqueles 33% de eleitores cativos em função de sua política econômica conservadora. Os mais radicais deixaram o PT e hoje votam em Heloísa Helena (PSOL), que já chega a 10% nas pesquisas. Restariam a Lula, portanto, 23% de eleitores convictos. Faltam quase 20% para a conta fechar. São os convertidos ao lulismo, em geral gente das classes mais pobres, que antes desconfiava de Lula pelo seu passado operário, "sem diploma e sem experiência", argumentos que não serão mais utilizados, uma vez que ele não é mais operário e tem um diploma importante: o de presidente da República.
Sendo assim, o que esta coluna consegue enxergar é um terço de eleitores que votará contra Lula, qualquer que seja a opção colocada na urna eletrônica para derrotá-lo. Hoje, são os eleitores de Alckmin, que tem justamente 32% nas últimas enquetes. A conta agora está assim: 40% de Lula, 32% de Alckmin e 10% de Heloísa. São 82% dos eleitores. Os 18% restantes vão se dividir entre nulos, brancos e os candidatos nanicos. A taxa histórica de brancos e nulos beira 20%. Portanto, para haver segundo turno, Alckmin tem que torcer para uma das três hipóteses a seguir: que Heloísa e Cristóvam Buarque superem 10% sem roubar um único voto da aliança PSDB-PFL, mas apenas de Lula; que os nanicos tenham um desempenho espetacular; ou que a taxa de brancos e nulos caia consideravelmente. Fora daí, Alckmin teria que tirar votos na seara de Lula, especialmente nas classes D e E, porque nas demais faixas, o jogo está jogado e dificilmente haverá mudanças, salvo alguma bomba de efeitos ainda não conhecidos durante a campanha.
É possível? Sim, é possível, mas é uma tarefa difícil.
Luiz Antonio Magalhães
29/07/2006
O jornalista Reinaldo Azevedo escreveu em seu blog uma interessante teoria sobre as pesquisas eleitorais. Ele acredita que um terço do eleitorado (33%, portanto) vota em Lula mesmo que o candidato chute a padroeira do Brasil, ao vivo, em rede nacional, como fez aquele bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. "Vão dizer que a santa provocou", brinca Azevedo. Outro terço foge de Lula como o diabo da cruz, para seguir na analogia religiosa. E o terço restante seria pendular - pode votar em Lula, como ocorreu em 2002, e pode não votar. Tudo dependeria do cenário político e, é claro, do desempenho dos demais candidatos.
A teoria de Reinaldo é respeitável e será colocada à prova nessas eleições. Esta coluna, humildemente, vê as coisas de outra forma. De fato, as votações do PT até a eleição de Lula estariam a dar razão ao jornalista. Desde então, porém, o quadro parece ter mudado. O presidente ampliou o seu cacife inicial. Hoje, em todas as pesquisas, aparece acima dos 40% do total. É lícito supor que tenha perdido parte daqueles 33% de eleitores cativos em função de sua política econômica conservadora. Os mais radicais deixaram o PT e hoje votam em Heloísa Helena (PSOL), que já chega a 10% nas pesquisas. Restariam a Lula, portanto, 23% de eleitores convictos. Faltam quase 20% para a conta fechar. São os convertidos ao lulismo, em geral gente das classes mais pobres, que antes desconfiava de Lula pelo seu passado operário, "sem diploma e sem experiência", argumentos que não serão mais utilizados, uma vez que ele não é mais operário e tem um diploma importante: o de presidente da República.
Sendo assim, o que esta coluna consegue enxergar é um terço de eleitores que votará contra Lula, qualquer que seja a opção colocada na urna eletrônica para derrotá-lo. Hoje, são os eleitores de Alckmin, que tem justamente 32% nas últimas enquetes. A conta agora está assim: 40% de Lula, 32% de Alckmin e 10% de Heloísa. São 82% dos eleitores. Os 18% restantes vão se dividir entre nulos, brancos e os candidatos nanicos. A taxa histórica de brancos e nulos beira 20%. Portanto, para haver segundo turno, Alckmin tem que torcer para uma das três hipóteses a seguir: que Heloísa e Cristóvam Buarque superem 10% sem roubar um único voto da aliança PSDB-PFL, mas apenas de Lula; que os nanicos tenham um desempenho espetacular; ou que a taxa de brancos e nulos caia consideravelmente. Fora daí, Alckmin teria que tirar votos na seara de Lula, especialmente nas classes D e E, porque nas demais faixas, o jogo está jogado e dificilmente haverá mudanças, salvo alguma bomba de efeitos ainda não conhecidos durante a campanha.
É possível? Sim, é possível, mas é uma tarefa difícil.