05 dezembro 2005

 

Calma
João Sayad
05/12/2005


Na semana passada, sentimos a vida como uma pasta de dente que há sessenta anos vem sendo espremida. Depois de tanto trabalho, discussão e torcida, fomos expelidos para fora do tubo, brancos e assustados, para descobrir que:

1) O número de pobres diminuiu (se um pobre ganhar um real a mais acima de R$ 120 mensais, deixa de ser pobre);
2) a renda dos ricos diminuiu (é rico quem ganha em média R$ 9.000 por mês);
3) em decorrência de 1 e 2, a distribuição de renda melhorou. Antes tivesse piorado;
4) a renda per capita parou de cair depois de dez anos de queda ininterrupta. Um anticlímax;
5) o produto nacional caiu 1,2 % no último trimestre com relação ao trimestre anterior.

O Banco Central não acredita nos dados e pede calma. Calma, pois a esperança de vida dos brasileiros aumentou, e quem chegou aos 60 anos tem a esperança de mais vinte anos de vida pela frente. Podem ser vinte anos de vida numa Terra mais quente e com a Amazônia seca. É possível ainda que vejamos um presidente eleito com apoio dos traficantes. Com certeza, viveremos num país pobre, perigoso, sujo, com estradas esburacadas e inflação muito baixa. A natureza é sábia e nos protegerá: estaremos surdos e não conseguiremos mais ler os jornais.


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