07 dezembro 2005
Controlar a inflação praticando as taxas de juros mais altas do mundo não é mérito para ninguém
André de Melo Modenesi
07/12/2005
Não há dúvida de que elevações na taxa Selic contribuem para a estabilidade de preços. No entanto, a inflação brasileira tem se mostrado pouco sensível à taxa de juros: uma pequena redução da inflação requer uma elevação significativa da taxa Selic. Não se pode considerar bem-sucedida uma política monetária que, para manter a inflação em torno de 5,5%, requer uma taxa de juros real de 14% ao ano. Dito de outra forma, controlar a inflação praticando as taxas de juros mais altas do mundo não é mérito para ninguém.
Há um motivo fundamental para explicar a baixa sensibilidade da inflação à taxa de juros: a alta participação dos preços administrados (ou controlados pelo governo) no IPCA, cerca de 30%. O elevado peso dos preços administrados na composição do IPCA faz com que os preços livres tenham de ser mantidos excessivamente reprimidos - pela manutenção da Selic em níveis muito elevados - para que a média da variação dos dois grupos de preços (ou o IPCA) permaneça em níveis compatíveis com as metas de inflação.
Outros motivos também explicam a baixa sensibilidade da inflação à taxa de juros. A existência de pressões inflacionárias pelo lado dos custos tem sido negligenciada. E as elevações da Selic - ainda que reduzam o potencial de repasse dos custos para preços - não atacam as causas de pressões inflacionárias com origem nos custos.
Outra razão é o fato de um dos principais canais de transmissão da política monetária, o do crédito, ser pouco relevante na economia brasileira. O que se deve à reduzida importância do crédito no país: a relação crédito/PIB é de apenas 30%, ao passo que em economias desenvolvidas passa de 100%.
Enquanto essas questões não forem resolvidas, as amarras da política econômica não poderão ser removidas sem que a inflação recrudesça e, portanto, a promessa do "espetáculo do crescimento" não deixará de ser mera retórica política. Enfim, no Brasil, a política econômica não pode se reduzir ao tripé metas de inflação-câmbio flutuante-equilíbrio fiscal.
André de Melo Modenesi
07/12/2005
Não há dúvida de que elevações na taxa Selic contribuem para a estabilidade de preços. No entanto, a inflação brasileira tem se mostrado pouco sensível à taxa de juros: uma pequena redução da inflação requer uma elevação significativa da taxa Selic. Não se pode considerar bem-sucedida uma política monetária que, para manter a inflação em torno de 5,5%, requer uma taxa de juros real de 14% ao ano. Dito de outra forma, controlar a inflação praticando as taxas de juros mais altas do mundo não é mérito para ninguém.
Há um motivo fundamental para explicar a baixa sensibilidade da inflação à taxa de juros: a alta participação dos preços administrados (ou controlados pelo governo) no IPCA, cerca de 30%. O elevado peso dos preços administrados na composição do IPCA faz com que os preços livres tenham de ser mantidos excessivamente reprimidos - pela manutenção da Selic em níveis muito elevados - para que a média da variação dos dois grupos de preços (ou o IPCA) permaneça em níveis compatíveis com as metas de inflação.
Outros motivos também explicam a baixa sensibilidade da inflação à taxa de juros. A existência de pressões inflacionárias pelo lado dos custos tem sido negligenciada. E as elevações da Selic - ainda que reduzam o potencial de repasse dos custos para preços - não atacam as causas de pressões inflacionárias com origem nos custos.
Outra razão é o fato de um dos principais canais de transmissão da política monetária, o do crédito, ser pouco relevante na economia brasileira. O que se deve à reduzida importância do crédito no país: a relação crédito/PIB é de apenas 30%, ao passo que em economias desenvolvidas passa de 100%.
Enquanto essas questões não forem resolvidas, as amarras da política econômica não poderão ser removidas sem que a inflação recrudesça e, portanto, a promessa do "espetáculo do crescimento" não deixará de ser mera retórica política. Enfim, no Brasil, a política econômica não pode se reduzir ao tripé metas de inflação-câmbio flutuante-equilíbrio fiscal.