18 dezembro 2005

César Benjamin
27/08/2005
"Você tem as forças de natureza supranacional, representantes dos credores brasileiros, que ocupam o Banco Central e o Ministério da Fazenda. Esse é lugar cativo. A partir desta posição controlam a política monetária, cambial e fiscal e a execução do orçamento. O Ministério da Fazenda apequena e subordina os demais ministérios e com isso as forças supranacionais controlam o estado brasileiro. As demandas de natureza subnacional, algumas legítimas, dos estados, outras de lobbies, se expressam no Legislativo. Este Executivo que é controlado pelos credores estabelece negociações nas margens com as forças subnacionais. Para o povo pobre se faz algumas políticas sociais. No caso do Lula, basicamente o Bolsa-Família. Repare que neste arranjo ninguém cuida da nação."
"O Lula assume e encontra este sistema de poder já pronto. Não é ele que inaugura. Mas era o dever político e moral dele alterar este sistema. Foi eleito para isso. O que ele fez foi radicalizar este sistema de poder: o seu presidente do Banco Central é mais vinculado ao sistema financeiro internacional que os anteriores, as negociações no Congresso foram mais fisiológicas que as anteriores e a política social é a área que ele cuide mais para que ande, o Bolsa Família. Assumiu dentro do seu governo uma forma de organização do poder que é essencialmente conservadora. E isso reproduz uma coisa muito perversa na política brasileira que vem desde o Collor. A aliança dos mais ricos com os mais pobres. Os mais ricos são atendidos pelo Banco Central e o Ministério da Fazenda. E os mais pobres pelo Bolsa Família."
"A elite precisa reinventar esta aliança a cada quatro anos. A partir da Constituição de 1988, que dá direito a voto aos analfabetos, são os mais pobres que decidem a eleição. Esta é a tragédia do Brasil contemporâneo: a capacidade que os mais ricos tem de reciclar a aliança com os mais pobres a cada quatro anos."