19 dezembro 2005
Por quê ?
Luiz Carlos Bresser-Pereira
19/12/2005
Confirma-se o óbvio: com um nível de taxa de juros real básica como o que temos, o desenvolvimento é tão inviável como o era com a alta inflação que enfrentamos entre 1980 e 1994. Naquela época, quando eu viajava para o exterior e dizia a meus interlocutores que nossa inflação girava em torno de 10% a 20% ao mês, eles ficavam abismados. Agora, quando digo que nossa taxa de juros real básica (do Banco Central) é de 14%, quando a taxa correspondente nos países ricos (e na grande maioria dos países em desenvolvimento) está entre 0% e 1%, ficam igualmente surpreendidos. Aquilo que para muitos brasileiros parece "natural" para eles é inconcebível.
Em um plano mais concreto, porque há três grupos poderosos interessados na manutenção da política de juros do Banco Central (que se confunde com a política de metas de inflação). Em primeiro lugar, temos os rentistas, aqueles que vivem de juros. Em segundo lugar, temos o setor financeiro. O que vemos é também um apoio muito forte do Tesouro americano, do FMI, do Banco Mundial e dos representantes das empresas multinacionais à política de juros do governo brasileiro.
Mas por que o governo Lula, que se beneficiou de toda a crítica consistente que desde 2002 (não antes) vem sendo feita ao nível da taxa de juros do Banco Central, não mudou essa política? Por que não a mudou, embora tenha prometido fazê-lo até o último dia da campanha eleitoral? Afinal, esses três grupos são poderosos, mas, em uma democracia, mais poderoso é o povo que o elegeu, ou, pelo menos, a sociedade civil que detém o poder político.
E por que aceitamos tais argumentos? Porque os próprios grupos interessados aqui e lá fora mantêm a hegemonia ideológica sobre o país, contando com o aval do "pensamento superior" dos países ricos.
Luiz Carlos Bresser-Pereira
19/12/2005
Confirma-se o óbvio: com um nível de taxa de juros real básica como o que temos, o desenvolvimento é tão inviável como o era com a alta inflação que enfrentamos entre 1980 e 1994. Naquela época, quando eu viajava para o exterior e dizia a meus interlocutores que nossa inflação girava em torno de 10% a 20% ao mês, eles ficavam abismados. Agora, quando digo que nossa taxa de juros real básica (do Banco Central) é de 14%, quando a taxa correspondente nos países ricos (e na grande maioria dos países em desenvolvimento) está entre 0% e 1%, ficam igualmente surpreendidos. Aquilo que para muitos brasileiros parece "natural" para eles é inconcebível.
Em um plano mais concreto, porque há três grupos poderosos interessados na manutenção da política de juros do Banco Central (que se confunde com a política de metas de inflação). Em primeiro lugar, temos os rentistas, aqueles que vivem de juros. Em segundo lugar, temos o setor financeiro. O que vemos é também um apoio muito forte do Tesouro americano, do FMI, do Banco Mundial e dos representantes das empresas multinacionais à política de juros do governo brasileiro.
Mas por que o governo Lula, que se beneficiou de toda a crítica consistente que desde 2002 (não antes) vem sendo feita ao nível da taxa de juros do Banco Central, não mudou essa política? Por que não a mudou, embora tenha prometido fazê-lo até o último dia da campanha eleitoral? Afinal, esses três grupos são poderosos, mas, em uma democracia, mais poderoso é o povo que o elegeu, ou, pelo menos, a sociedade civil que detém o poder político.
E por que aceitamos tais argumentos? Porque os próprios grupos interessados aqui e lá fora mantêm a hegemonia ideológica sobre o país, contando com o aval do "pensamento superior" dos países ricos.