01 dezembro 2005
Razão de causalidade entre a dívida e o PIB
J. Carlos de Assis
01/12/2005
Para que a dívida pública seja paga, os donos dos títulos públicos têm que querer vendê-los de volta para o Governo. O que farão com o dinheiro recebido? Se estamos com baixo crescimento econômico e renda do trabalho estagnada, não se vai esperar que invistam. Consumo nem se fala, são bilhões, além do que o consumo dos ricos (e os donos da dívida pública são ricos, por definição) está saturado. Não podem emprestar esse dinheiro para outros empresários do setor privado pela mesma razão de que não há demanda para um aumento da produção.
Em conseqüência, haverá uma pressão por parte dos donos da dívida pública no sentido de reaplicar seus recursos na própria dívida pública. Contabilmente, o que acontece é o seguinte: o Governo "paga" o título com superávit primário; o dono de título vendido pega o dinheiro correspondente e põe num fundo no banco; a liquidez no sistema bancário aumenta, e pressiona a queda da taxa de juros no over (CDI); o Banco Central então entra no jogo, oferecendo títulos de sua carteira no over/open, para evitar a queda da taxa de juros, que ele quer manter alta por razões antiinflacionárias e cambiais.
Assim, se o Governo insistir em pagar a dívida, numa situação em que a economia estiver estagnada, o que provavelmente ocorrerá será uma substituição de dívida nominalmente do Tesouro por dívida nominalmente do Banco Central. Em ambos os casos, trata-se de dívida pública – num caso para fazer política fiscal restritiva, noutro para fazer política monetária restritiva. A dívida ficará no mesmo lugar, ou crescerá no ritmo da taxa real de juros. Em síntese, a forma clássica de pagar a dívida pública é com o crescimento do PIB. Palocci viu as curvas de crescimento do PIB e de decrescimento da dívida e inverteu a razão de causalidade: pensa que para o PIB crescer é preciso reduzir a dívida, quando a redução da dívida é uma conseqüência do crescimento do PIB.
J. Carlos de Assis
01/12/2005
Para que a dívida pública seja paga, os donos dos títulos públicos têm que querer vendê-los de volta para o Governo. O que farão com o dinheiro recebido? Se estamos com baixo crescimento econômico e renda do trabalho estagnada, não se vai esperar que invistam. Consumo nem se fala, são bilhões, além do que o consumo dos ricos (e os donos da dívida pública são ricos, por definição) está saturado. Não podem emprestar esse dinheiro para outros empresários do setor privado pela mesma razão de que não há demanda para um aumento da produção.
Em conseqüência, haverá uma pressão por parte dos donos da dívida pública no sentido de reaplicar seus recursos na própria dívida pública. Contabilmente, o que acontece é o seguinte: o Governo "paga" o título com superávit primário; o dono de título vendido pega o dinheiro correspondente e põe num fundo no banco; a liquidez no sistema bancário aumenta, e pressiona a queda da taxa de juros no over (CDI); o Banco Central então entra no jogo, oferecendo títulos de sua carteira no over/open, para evitar a queda da taxa de juros, que ele quer manter alta por razões antiinflacionárias e cambiais.
Assim, se o Governo insistir em pagar a dívida, numa situação em que a economia estiver estagnada, o que provavelmente ocorrerá será uma substituição de dívida nominalmente do Tesouro por dívida nominalmente do Banco Central. Em ambos os casos, trata-se de dívida pública – num caso para fazer política fiscal restritiva, noutro para fazer política monetária restritiva. A dívida ficará no mesmo lugar, ou crescerá no ritmo da taxa real de juros. Em síntese, a forma clássica de pagar a dívida pública é com o crescimento do PIB. Palocci viu as curvas de crescimento do PIB e de decrescimento da dívida e inverteu a razão de causalidade: pensa que para o PIB crescer é preciso reduzir a dívida, quando a redução da dívida é uma conseqüência do crescimento do PIB.