16 dezembro 2005

 

Um país fora da curva
Ricardo Carneiro
16/12/2005

A explicação para essa performance não é trivial, mas certamente supõe a superação do paradigma liberal para o qual a garantia da estabilidade e as reformas microeconômicas, entendidas como a criação de uma ambiente mais apropriado para a operação do mercado, seriam suficientes para assegurar o crescimento sustentado. Nos últimos 20 anos, a América Latina e o Brasil foram palco de experimentos variados de política econômica de inspiração liberal centrados, de um lado, no primado da estabilidade e, de outro, na desregulação, fundada na eliminação de políticas verticais ou seletivas e acompanhadas de mudanças profundas na estrutura da propriedade via desnacionalização ou privatização. E é forçoso reconhecer, os resultados foram pífios.


Essas considerações sugerem que a tarefa de retomar o desenvolvimento sustentado é dupla. Ela supõe a implantação de um novo modelo através de políticas de desenvolvimento de corte seletivo, capazes de construir uma nova relação Estado-mercado e cujo efeito seria o estabelecimento de um horizonte de longo prazo para as decisões privadas, sobretudo as de investimento, reduzindo a excessiva influência das flutuações de curto prazo. Por sua vez, é necessário rejeitar o ultraconservadorismo da política macroeconômica posta em prática no atual governo, o que implica, sobretudo, encarar a estabilidade com maior flexibilidade. Em síntese, o caráter anticíclico da política macroeconômica não pode ser sacrificado por metas de inflação ou de dívida pública rígidas e irrealistas.

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