04 janeiro 2006

 

A curva fora do ponto
J. Carlos de Assis

Tenho sustentado há anos que, na institucionalidade fiscal-monetária brasileira, não é possível prever com razoável exatidão o comportamento do PIB a curto e médio prazos. Há longo prazo, sim, é possível prever: fica em torno de um crescimento anual médio de 2%, um pouco acima do crescimento da população. Dessa maneira, ninguém espere que a economia vá mergulhar de vez numa depressão. A mesma institucionalidade que impede crescimento a altas taxas, impede também quedas exageradas.

De fato, no Brasil, pobre ganha à vista e gasta a prazo, pagando juros exorbitantes; enquanto rico ganha juros de forma permanente no over, e gasta à vista. O efeito riqueza, entre nós, não é, pois, resultado de poupança; é acumulação de receita financeira sobre saldos diários de caixa dos endinheirados, no over. Esta distorção não está identificada em nenhum livro texto de economia. É a contribuição singular do Brasil, e especificamente de seu Banco Central, na construção do mais perverso mecanismo jamais conhecido de transferência de renda e de riqueza de pobre para rico na história do capitalismo.

Nossa institucionalidade fiscal-monetária não tem similar no mundo. É a reconstituição do sistema oligárquico colonial, sob controle do estamento bancário e financeiro. Este sistema trata como idênticos moeda corrente e poupança, atribuindo juros a moeda corrente e atribuindo liquidez à vista à poupança. A taxa do over, que em qualquer economia organizada é um instrumento de regulação de reservas bancárias, no curtíssimo prazo, aqui remunera quase a totalidade dos títulos públicos, independentemente de prazos de maturação.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?