08 fevereiro 2006

O alto comando da banca
Elio Gaspari
08/02/2006
Houve uma época em que o Brasil esteve sob a supervisão do alto comando do Exército. Finada a velha praga, apareceu uma nova, semelhante. É o Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central. Como ocorria no alto comando da ditadura, alguns de seus membros extrapolam suas atribuições e ofendem os poderes da República.
O Copom foi criado em 1996, num ato da burocracia interna do Banco Central. Atribuiu-se a tarefa de estabelecer uma taxa para os juros. Essa é uma prerrogativa do Poder Executivo, não de oito profissionais do segundo escalão, dois dos quais, ex-diretores de bancos privados. Deles pode partir uma recomendação, nada mais. A cada três meses, os generais do alto comando preparam uma lista de promoções e ela vai ao presidente da República. Ele a respeita (tem sido assim nos últimos 42 anos), mas não está obrigado a isso.
O governo do "nosso guia" tem duas taxas de juros: a Selic do BC (17,25%) para a freguesia da banca e a TJLP (9%) para a clientela do BNDES. A turma da Selic diz que a taxa da TJLP é coisa de maluco. A da TJLP diz o contrário. Nenhuma das duas turmas denuncia pública e sistematicamente que coisa de maluco é um governo com taxas tão divergentes.
Os generais do alto comando diziam que defendiam a estabilidade política do regime. Amparavam-se num aparelho repressivo cujo núcleo fora financiado pela banca. Os doutores do Copom dizem que defendem a estabilidade da moeda, sempre com o apoio da banca. (Registro devido: o pessoal do BC atua no Estado democrático de Direito, enquanto os generais do alto comando do Exército condecoravam e acobertavam torturadores e assassinos.)