08 março 2006

 

A Fiesp e o paradoxo da política monetária
J. Carlos de Assis
08/03/2006

Há uma aparente unanimidade no Brasil contra as altas taxas de juros. Exceto os banqueiros e seus asseclas, todo mundo aponta como um despropósito o nível atual da taxa básica (Selic) e, mais ainda, o nível pornográfico das taxas de aplicação dos bancos. Então, por que os juros não caem?

Como representante do poder econômico, o presidente da Fiesp é um defensor dos interesses das grandes empresas, que são sócias dos bancos, pois partilham com eles os rendimentos diários da “moeda financeira”. Não são tomadoras de recursos. São aplicadoras líquidas, beneficiárias da política fiscal-monetária.

Na pequena e média empresa, contudo, isso em geral não acontece. Suas receitas e despesas correm quase paralelas. Não são aplicadoras líquidas, mas muitas vezes têm que recorrer ao crédito bancário de juros infamantes para girar seus negócios. Isso faz delas vítimas indefesas das altas taxas de juros, já que não têm a compensação das aplicações de saldos de caixa, ou estes não existem em volume suficiente para neutralizar o custo de outros empréstimos. Sua gritaria contra os juros é genuína e autêntica.

Diante dessa contradição de posições entre pequenas e médias empresas, e grandes conglomerados, o que faz o presidente da Fiesp, para não pôr em risco sua representatividade “democrática” na corporação empresarial? Ele finge criticar os juros, de forma a agradar as “bases”, mas move suas baterias pesadas na direção de um outro culpado, o gasto público, de forma a dar uma satisfação ao poder econômico real.

Gasto público é encomenda ao setor privado. Investimento público financiado por déficit é uma forma de reduzir o desemprego e a capacidade ociosa da economia, e estimular o crescimento.

A campanha da Fiesp contra o gasto público é um artifício para evitar um movimento empresarial mais pesado e sério contra a política monetária de juros altos.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?