10 abril 2006

 


Pobres e ricos
Mauro Santayana
10/04/2006

Fernando Henrique Cardoso, talvez se considerando homem rico, disse, em programa noturno de televisão, que os pobres quando chegam ao poder perdem o sentido do que são. Vale a pena transcrever a frase, tal como a divulgaram os jornais deste fim de semana: ''Você não pode mudar o seu jeitão quando chega ao poder. Pobre, quando chega lá em cima, pensa que é outra coisa''.

Deslumbrar-se com o poder não é maldição dos pobres. Quem não se recorda do fascínio que as pompas e glórias do cargo exerceram sobre o príncipe sociólogo? Em seu caso, sempre houve o desdém sobre o resto dos brasileiros. O próprio Jô Soares, que o entrevistou na semana passada, abriu um de seus programas vestido jocosamente como roceiro e usando chapéu de palha, porque o presidente dissera, horas antes, que os brasileiros são todos caipiras.

O ex-presidente governou o país como se estivesse sentado no mais alto trono do mundo, e isso faz lembrar cáustica frase de Montaigne sobre a anatomia e a arrogância do poder. Estava ausente de nossas dificuldades, preocupado em brilhar nas cortes européias e nos jardins de Harvard e Oxford. Mas não deveria ter dito o que disse. Como escreveu, em uma de suas crônicas, o inexcedível Rubem Braga, os pobres são muito orgulhosos. Devem ter anotado a ofensa.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?