25 maio 2006

 

Aguardando o próximo soluço
Luís Nassif
25/05/2006

Quando se entra em processo continuado de apreciação do real, a reação do investidor é a seguinte:

1) Suponha um investidor que traga US$ 10 milhões com o câmbio a R$ 2,40. Em reais, serão R$ 24 milhões.
2) Nos EUA, ele receberia uma remuneração de 5,5% ao ano. Ao final de 12 meses, seu saldo seria de US$ 10,55 milhões. No Brasil, a remuneração da Selic seria de 15,5%. Ao final de 12 meses, teria um saldo de R$ 27,6 milhões.
3) O lucro dependerá do movimento do câmbio. Se o câmbio continuar em R$ 2,40, o ganho do investimento no Brasil será 9% superior ao americano.
4) Se o real se apreciar 10%, o ganho do investidor americano seria de 21,1% sobre a aplicação nos EUA.

É essa expectativa que produz um aumento do fluxo de dólares para o país assim que se delineia um quadro de apreciação da moeda, sem que o governo intervenha.


Estouro da boiada?
Paulo Nogueira Batista Júnior
25/05/2006

Se tivesse se preparado melhor, o Brasil poderia tirar de letra esse surto de instabilidade externa. Não precisaríamos ter praticado juros tão extravagantes, tão mais altos do que os do resto do mundo. Poderíamos ter reservas mais altas do que os atuais US$ 64 bilhões. A China (exclusive Hong Kong) tem US$ 875 bilhões. A Índia, US$ 154 bilhões. A Rússia, US$ 226 bilhões. A Coréia do Sul, US$ 223 bilhões. O México, US$ 76 bilhões. Poderíamos ter introduzido um sistema de controles preventivos dos fluxos de capitais.

Em vez disso, o governo Lula deu seqüência às medidas de liberalização do período Collor-FHC. A conta de capitais permanece, portanto, potencialmente volátil. O BC tenderá a responder a uma eventual saída de capitais com "parcimônia" na diminuição dos juros e, se a coisa ficar preta, poderá até aumentá-los outra vez. O mínimo que se poderia fazer, neste momento, seria arquivar as novas medidas de liberalização cambial em discussão no governo. O pior de tudo foi a sobrevalorização do real nos últimos anos, uma retomada inacreditável das práticas daquele Napoleão de hospício que dirigia a política cambial no primeiro mandato de FHC. O real forte vem atingindo de maneira cada vez mais nítida a agricultura, a indústria, os setores exportadores e aqueles que competem com importações.

Bem dizia Nelson Rodrigues: "Já fizeram o elogio da loucura e ninguém se lembrou ainda de fazer o elogio, muito mais procedente, da burrice. Ninguém observou o óbvio: a burrice influi muito mais no comportamento humano do que o fator sexual, ou econômico ou outro qualquer".

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