22 maio 2006

 


Danos colaterais
Mauro Santayana
22/05/2006

Se, entre os prováveis inocentes tombados sob os tiros da polícia, em São Paulo, houvesse algum morador dos Jardins, outra seria a reação de nossas bravas elites. Disse José Serra, em artigo publicado pela Folha de São Paulo, que o inimigo é a criminalidade, e não devemos especular pelas causas sociológicas dos delitos, mas sim concentrar o combate aos bandidos. Se o ex-prefeito de São Paulo, e candidato ao governo do Estado, houvesse recomendado com o mesmo rigor o combate aos representantes das elites econômicas que, no exercício do poder político, roubaram do povo, enviaram dinheiro para o exterior, em todos os governos – e nunca foram devidamente punidos pelos crimes cometidos – perderia muitos de seus eleitores ricos.

As maiores vítimas de qualquer guerra são sempre as mesmas:aquelas que se encontram longe das trincheiras. E quando a guerra é social, por mais não queiram os tucanos aceitar essa evidência, as maiores vítimas da matança são os pobres. Com exceção da Polícia Federal, que vale a pena ser registrada, a polícia não invade o reduto dos afortunados, a fim de algemar os respeitáveis burgueses e seus representantes parlamentares. Os policiais vão ás favelas, para matar a esmo, como as repetidas chacinas comprovam. Sitiam e abatem meninos e meninas, que dormem nas ruas, como fizeram na chacina da Candelária.


À sombra do medo em flor
Fausto Wolff
22/05/2006

Em seguida, os políticos pedem “responsabilidade criminal aos 16 anos”. Logo pedirão responsabilidade aos 15, 14 e cosi via. Cosi via significa que aumentará o número de crianças assassinadas ao nascer; aceitação literal da loucura religiosa de que o homem já nasce pecador. Claro que essa lei só valera para crianças pobres.

Como vejo a coisa hoje ? Dêem a chefia da portaria de um edifício ao mais dócil dos empregados e logo ele se tornará um tirano para agradar ao poder imediatamente acima dele. O poder ama a si mesmo e aos poderosos. É tão implacável na sua injustiça que consegue convencer 100 milhões de brasileiros adultos de que devem escolher entre o algoz da esquerda e o da direita.

O mito de Fausto
Mauro Santayana
21/05/2006

A civilização contemporânea lembra o convênio entre o Doktor Faustus, de Frankfurt, e o grande ministro do Inferno, como o descreveram Marlowe e Goethe. Não sabemos se os homens serão capazes de fugir ao contrato, ou se ouvirão sempre o anjo infernal que aconselhava Fausto a pensar apenas na glória e na riqueza – até que o mundo seja entregue definitivamente ao demônio em corpo e alma.

O que vem acontecendo em São Paulo exige mais do que as providências repressivas que a população está exigindo do Estado. Exige profundo exame de consciência da sociedade. De nada adiantam aos banqueiros os lucros imensos, obtidos com voracidade, e que custam o suor e o sangue dos pobres, se não podem caminhar nas rias de seu próprio pais, sem guarda-costas e sem medo. De nada adianta às famílias de classe média o conforto pessoal, sem caminham nas ruas sem ver no outro o próximo, o seu semelhante, com o qual possam compartilhar a alegria de viver – mas, sim,o provável seqüestrador, o possível trombadinha, o eventual assassino.

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