21 junho 2006

 


Os Reféns pedem socorro!
Fausto Wolff
11/06/2006

Nunca pensei que escreveria isto: o Brasil e seu povo são reféns do governo. Não estivemos nesta situação nem nos anos da ditadura, pois, como ela era ilegal, tínhamos com quem brigar, não lhe dávamos as costas e sonhávamos com a reconstrução da esquerda. Hoje somos reféns porque não apitamos. Se tentarmos apitar, nos matam, vamos para a cadeia, nos despedem ou , na melhor das hipóteses, nos aplicam uma multa.

Pensando bem, Lula trabalhou bem e é mesmo capaz de ganhar no primeiro turno. Em 2002, encontrou uma classe média (cuja ideologia é galgar os degraus que levam à alta burguesia e fazer qualquer negócio para não descer ao inferno do proletariado) entre o fogo e a frigideira. Se por um lado não queria perder o pouco que tinha votando num candidato comunista (é, a classe média achava que Lula era comunista), não podia permitir que os neoliberais de FHC continuassem a estreitar seu pescoço com o garrote vil do congelamento.

Pressentindo isso, Lula e sua gangue adoçaram o discurso para torná-lo palatável à classe média. Era tudo que a classe média queria. O excelente ator pernambucano tinha o voto dos petistas e da esquerda enganada. A classe média, porém, foi fundamental para a vitória.

Pois quando a quadrilha foi descoberta, Lula não se abalou. Continuou viajando e dizendo bobagens. Sabia que a oposição iria criticá-lo, pedir sua cabeça - e havia motivos de sobra para seu impedimento - mas tinha certeza de que ela só iria até certo ponto.

Antônio Carlos Magalhães, Agripino Maia, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes silenciariam quando notassem que todas as pistas conduziriam à gangue FHC e o que ela fez para legalizar seu segundo mandato. Sabia que se tentassem atingi-lo pessoalmente acabaraiam atingindo FH com quem aprendera o entreguismo ordenado pelo neoliberalismo global.

De certa forma - Lula deve ter pensado - foi até bom ter se livrado dos garotos dissidentes que acreditaram no seu socialismo. Melhora inda foi ter se livrado de Dirceu e de Palocci, que, como numa farsa de Molière, queriam crescer demais. Lula tinha seu trunfo: o povo pobre, miserável, faminto. Para tanto, era preciso fazê-lo sem sofrer: nem saúde, nem empregos, nem escolas. No máximo a humilhação da bolsa-comida, comida pelos prefeitos.

O povo que não lê jornais está se lixando para a quadrilha do Dirceu; identifica-se com Lula, que fala como ele, conta as mesmas piadas, bebe cachaça e engole buchada, tem a língua presa e se não faz mais é porque os ricos não deixam. Para o povo, a classe média são os ricos.

Foi inteligente da parte de Lula não fazer nada pelo povo. Ignorante, ele lhe garantirá as eleições.

Por isso comecei dizendo que somos reféns da polícia e dos ladrões, dos políticos da situação e da oposição, dos juízes, e do guarda da esquina. O Brasil me lembra o sino que batia sem fazer som algum do filme de Kavalerowicz, Madre Joana dos Anjos. A Polônia pedia socorro, mas a Europa não ouvia. Hoje quem pede socorro é o Brasil. Pessoalmente, vou pedir ajuda à Santa Heloísa Helena para não ter de anular meu voto.

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