12 julho 2006

Elio Gaspari
12/07/2006
Geraldo Alckmin dá a impressão de reencarnar do sujeito que decorou a letra R da enciclopédia. Com uma diferença: memoriza números. O Estado que governou por cinco anos teve cerca de 50 agentes da ordem assassinados em menos de 90 dias, 1.500 presos foram confinados como bichos num espaço onde caberiam 150 e ele tem o seguinte a dizer: "A fuga no Estado de São Paulo no ano passado foi 0,13. Isso é número europeu".
O índice europeu de fugas dos presídios paulistas tem pouco a ver com o que acontece no Brasil. Muito mais relevante é a indicação de que aqui morrem mais policiais do que em qualquer outro país. Isso numa cultura de segurança que mata mais cidadãos que todas as polícias da Europa somadas. Alckmin sabe que o eixo da discussão é esse. Seu secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu, a quem chamou de "servidor público número um", também sabe. A patuléia não está aí para ser ludibriada com números europeus em conserva.
Alckmin cultiva um mantra de campanha. Seja qual for o tema, diz que Lula é omisso e que no seu governo haverá estudo, firmeza e determinação. No caso da segurança, por mais omisso que seja o Nosso Guia, o pudim paulista é de Geraldo Alckmin. A ruína não começou com ele, mas foi com ele quem cevou um modelo truculento e espalhafatoso que acabou em fracasso. Conseguiu o impossível: tornou-se páreo para Anthony Garotinho.