06 julho 2006

Legião estrangeira
Paulo Nogueira Baptista Jr.
06/04/2006
Com isso, volto ao Brasil. O nosso problema, já sabemos, é a tradição colonial, que sobrevive mais ou menos intacta, como uma espécie de lodo inerte, no fundo do nosso subconsciente. Por isso, dizia Nelson Rodrigues, brasileiro não pode viajar. Quando desembarca na Europa ou nos Estados Unidos, cai de quatro e não levanta mais. Declara-se colônia, imediatamente. Ora, os titulares da seleção brasileira de 2006 eram todos expatriados, pertencentes a times europeus.
Logo depois do jogo contra a França, Armando Nogueira bradou indignado: "A seleção brasileira jogou com a frieza e a indiferença dos apátridas". Perfeito. Não era uma seleção nacional, mas uma legião estrangeira. Um grupo de estrelas "globalizadas", sem heroísmo, sem espírito de luta. Houve algumas exceções importantes, principalmente na defesa, mas predominaram o deslumbramento, a apatia e a inércia.
Em certo sentido, esses astros do futebol são a imagem perfeita das elites brasileiras, "globalizadas" e antinacionais, a imagem dos "brasileiros estrangeiros" que vêm desgovernando o Brasil há tanto tempo, especialmente na área econômico-financeira. Nas mãos desse tipo de gente, que joga para o empate, ou para ganhar de pouco, nem a seleção nem o país passam das quartas-de-final. A economia brasileira não passa nem das eliminatórias.
Um talento como o técnico Carlos Alberto Parreira não pode ser desperdiçado. Agora que ele ficou sem emprego, quem sabe não seria o caso de nomeá-lo para a diretoria do Banco Central? Lá também temos uma "legião estrangeira", bem menos talentosa do que a seleção de futebol, que joga feio, na retranca, bate uma bola superquadrada e está sempre afundando as esperanças do país.