21 agosto 2006
Cartel, juros e "spreads" bancários
21/08/2006
Marcos Cintra
A ficha caiu! Finalmente, economistas, consultores, jornalistas e técnicos do governo se convenceram de que o setor bancário é um cartel.
Há três anos, a falta de competição de preços entre os bancos não era tida como fator determinante dos escorchantes juros cobrados dos tomadores de crédito no Brasil. O problema era atribuído quase que exclusivamente aos altos patamares da taxa Selic. Em 2 de julho de 2003 o jornal "O Estado de S.Paulo" publicou o artigo "It's the spread, stupid", em que afirmei que a Selic era uma faceta importante, mas o aspecto fundamental para explicar os altos juros no Brasil residia no "spread" bancário.
A intenção daquele artigo foi destacar a atuação oligopólica dos bancos no país como geradora do "spread" superior a dez vezes a média dos praticados em outras economias emergentes.
É inadmissível que o setor continue captando recursos a 15% ao ano e cobrando juros que na média chegam a 38% no desconto de duplicatas, 51% no "hot money", 32% no capital de giro, 62% no crédito pessoal e 145% no cheque especial. Aplicando os maiores "spreads" do planeta e cobrando tarifas exorbitantes que cobrem 130% de suas folhas de pagamentos, os bancos no Brasil registram, de acordo com o consultor financeiro Carlos Coradi, lucratividade média de 24,7%, um pouco menos que os 26,9% dos eficientes bancos suíços. Vale lembrar que os dois maiores bancos privados brasileiros tiveram no ano passado rentabilidade superior a 30%.
O poder dos bancos precisa ser enfrentado. Uma forma do governo fazê-lo é não permitir que a CEF e o Banco do Brasil sejam peças do cartel, tornando-os um referencial para a concorrência no setor. Ademais, há que extirpar a promiscuidade que reina entre o setor bancário e o Banco Central, além de rever a legislação antitruste e o papel do Cade na preservação da concorrência no segmento financeiro.
Revisitando a questão do "spread" bancário
Gustavo Loyola
21/08/2006
Não resta dúvida que o "spread" bancário médio no Brasil é elevado tanto em termos absolutos quanto comparativamente a outros países emergentes.
A pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos, como comparar rentabilidade média
O que se deve evitar é que tais comparações deságüem em conclusões apressadas, tais como as que ignoram o papel negativo desempenhado pela existência de direcionamento obrigatório de crédito (financiamentos habitacionais e crédito rural, por exemplo) e as que superestimam o problema da "inexistência" de competição no mercado bancário brasileiro.
Aliás, a pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos tais como a comparação nua e crua entre as rentabilidades médias sobre o patrimônio líquido obtidas por instituições bancárias de países, cujos bancos centrais praticam taxas de juros básicas distintas
No Brasil, por exemplo, os bancos auferiram uma rentabilidade de 4,67% ao ano sobre a taxa Selic, enquanto nos EUA os bancos ganharam em média 8,96% ao ano sobre a taxa dos "FED funds".
21/08/2006
Marcos Cintra
A ficha caiu! Finalmente, economistas, consultores, jornalistas e técnicos do governo se convenceram de que o setor bancário é um cartel.
Há três anos, a falta de competição de preços entre os bancos não era tida como fator determinante dos escorchantes juros cobrados dos tomadores de crédito no Brasil. O problema era atribuído quase que exclusivamente aos altos patamares da taxa Selic. Em 2 de julho de 2003 o jornal "O Estado de S.Paulo" publicou o artigo "It's the spread, stupid", em que afirmei que a Selic era uma faceta importante, mas o aspecto fundamental para explicar os altos juros no Brasil residia no "spread" bancário.
A intenção daquele artigo foi destacar a atuação oligopólica dos bancos no país como geradora do "spread" superior a dez vezes a média dos praticados em outras economias emergentes.
É inadmissível que o setor continue captando recursos a 15% ao ano e cobrando juros que na média chegam a 38% no desconto de duplicatas, 51% no "hot money", 32% no capital de giro, 62% no crédito pessoal e 145% no cheque especial. Aplicando os maiores "spreads" do planeta e cobrando tarifas exorbitantes que cobrem 130% de suas folhas de pagamentos, os bancos no Brasil registram, de acordo com o consultor financeiro Carlos Coradi, lucratividade média de 24,7%, um pouco menos que os 26,9% dos eficientes bancos suíços. Vale lembrar que os dois maiores bancos privados brasileiros tiveram no ano passado rentabilidade superior a 30%.
O poder dos bancos precisa ser enfrentado. Uma forma do governo fazê-lo é não permitir que a CEF e o Banco do Brasil sejam peças do cartel, tornando-os um referencial para a concorrência no setor. Ademais, há que extirpar a promiscuidade que reina entre o setor bancário e o Banco Central, além de rever a legislação antitruste e o papel do Cade na preservação da concorrência no segmento financeiro.
Revisitando a questão do "spread" bancário
Gustavo Loyola
21/08/2006
Não resta dúvida que o "spread" bancário médio no Brasil é elevado tanto em termos absolutos quanto comparativamente a outros países emergentes.
A pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos, como comparar rentabilidade média
O que se deve evitar é que tais comparações deságüem em conclusões apressadas, tais como as que ignoram o papel negativo desempenhado pela existência de direcionamento obrigatório de crédito (financiamentos habitacionais e crédito rural, por exemplo) e as que superestimam o problema da "inexistência" de competição no mercado bancário brasileiro.
Aliás, a pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos tais como a comparação nua e crua entre as rentabilidades médias sobre o patrimônio líquido obtidas por instituições bancárias de países, cujos bancos centrais praticam taxas de juros básicas distintas
No Brasil, por exemplo, os bancos auferiram uma rentabilidade de 4,67% ao ano sobre a taxa Selic, enquanto nos EUA os bancos ganharam em média 8,96% ao ano sobre a taxa dos "FED funds".