17 agosto 2006

 

A depravação financeira por trás do lucro bancário
J. Carlos de Assis
16/08/2006

No momento em que a taxa de desemprego volta a subir e a taxa de subemprego continua em níveis recordes, é patético tomar conhecimento de que o lucro médio dos bancos brasileiros ficou em 24,7% no primeiro semestre. Em quatro anos, nossos bancos dobram seu capital. É um negócio não produtivo melhor do que petróleo. Contudo, não haveria muito o que reclamar dentro de estritas regras capitalistas, não fosse o lucro bancário brasileiro diretamente proporcional à contração imposta na economia pela política monetária e fiscal.

O lucro bancário brasileiro tem duas fontes principais: taxas de juros básicos sobre a dívida pública, seja esta detida diretamente ou intermediada por eles, e a taxa de juros de empréstimos aos setores privado e público. Ambas as taxas são escandalosos.

Do ponto de vista do funcionamento da economia, porém, o grande inibidor do desenvolvimento brasileiro é a política monetária expressa em taxas básicas de juros extremamente elevadas. A professora Maria da Conceição Tavares e eu apelidamos a base do sistema monetário brasileiro de “moeda financeira” ou de “moeda remunerada”. Não tem paralelo no mundo. A dívida pública é virtualmente líquida, mas rende juros. Isso é uma contradição. O que deve render juros é poupança financeira. Depósito à vista não poderia render juros, a não ser juros simbólicos.
No Brasil, é o próprio Estado que garante liquidez diária aos títulos públicos, independentemente do prazo nominal do papel. Isso é um contra-senso. O juro é o prêmio cobrado para deixar indisponível o capital por determinado tempo. Esse tempo é contado da data do empréstimo para o futuro. Com a “moeda financeira”, ocorre o oposto. Conta-se o prazo para trás. O dinheiro está sempre disponível para seu dono. E quem toma emprestado, que é o Estado, se obriga a devolvê-lo em qualquer tempo, pagando a taxa de juros pelo prazo decorrido.

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