24 agosto 2006

 

Fora da política não há salvação
Fábio Konder Comparato
24/08/2006

Neste período crescente náusea eleitoral, cometeríamos um erro funesto se virássemos as costas à política para nos dedicarmos unicamente aos nossos afazeres particulares. Esse absenteísmo é a pior forma de fazer política, pois representa o apoio incondicional ao statu quo oligárquico. Mas como vencer o desalento que nos invade?

O advento do capitalismo financeiro, fundado na usura ou em operações de pura especulação, acentuou de modo drástico essa tendência ao reduzir substancialmente as atividades industriais, não só no mundo desenvolvido mas também, precocemente, em grandes países subdesenvolvidos, como o nosso. As únicas exceções subsistentes (por quanto tempo?) estão na Ásia. Escusado dizer que o resultado imediato da desindustrialização é o desemprego em massa, cujos índices médios globais crescem sem cessar.

Só em nosso país, há, atualmente, 8 milhões de trabalhadores sem emprego. Exatamente por isso, hoje, o melhor recurso para ganhar eleições é a política assistencialista.

A política, no dizer de um grande sociólogo brasileiro, ou melhor, essa forma decadente de fazer política, digo eu, se tornou de fato irrelevante. Não esqueçamos que, durante o império, quando a escravidão antes aproximava do que afastava o partido conservador do partido liberal (daí o célebre dito: "Não há nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder"), tivemos a mesma sensação de desimportância da política.

Não há nada mais semelhante à coligação PSDB-PFL no poder do que o PT no governo. Que fazer?

A função eminente dos novos partidos já não será, então, a luta para alcançar o poder, mas, sim, o trabalho de educar e organizar o povo para que ele se ponha de pé e passe a exercer diretamente as funções que ninguém tem o direito de assumir em seu nome: a de decidir o seu destino e o futuro do país.

De outro lado, urge desbloquear e alargar, na ordem jurídica, o uso dos instrumentos de democracia direta e participativa -o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular, os orçamentos participativos-, sem os quais não existe verdadeira soberania popular.

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