25 agosto 2006
Plano para pôr o Brasil a serviço da Fiesp
J. Carlos de Assis
25/08/2006
O plano da Fiesp, entregue a Lula, repete a cantilena que vem sendo pregada dogmaticamente por Delfim Netto há tempos, e que contém uma dose cavalar de regressividade sob a capa progressista. O elemento simpático é a proposta de uma redução da taxa básica real de juros para 3%. Nisso estamos todos de acordo. Para se chegar a isso, porém, o caminho da Fiesp é o da preservação de um alto superávit primário para redução da dívida pública. A taxa básica não seria uma opção discricionária do Banco Central. Será o resultado da queda da dívida!
É difícil saber a quem a Fiesp quer enganar, se a Lula, se ao povo ou se a si mesma. A taxa básica de juros é uma decisão discricionária do Banco Central. Se fosse o resultado de forças de mercado, não era necessário existir banco central, pois praticamente sua única função atual nas economias capitalistas é fixar a taxa básica de juros. Claro, o BC pode levar em conta outros fatores, como, principalmente, a situação cambial para fixar a taxa básica de juros. Isso, porém, nada tem a ver com nível absoluto ou relativo da dívida pública.
Essa idéia de vincular a taxa básica de juros à dívida pública é um fetiche oriundo de uma teoria totalmente desmoralizada em seu próprio pais de origem, os Estados Unidos, e que aqui nossos formuladores insistem em levar a sério. Essa teoria diz que o sujeito que tem uma fortuna em dinheiro líquido não investe em títulos públicos se a dívida ultrapassar determinada relação com o PIB – a qual nunca é claramente especificada. Na Europa, essa relação foi fixada, pelo Tratado de Maastricht, em 60% do PIB. No nosso caso, como somos negros e mulatos, é menos.
Na verdade, nem há muito a descobrir. O instrumento para reduzir a relação dívida/PIB e promover o déficit nominal zero é o corte de gastos públicos não financeiros. Nos últimos dez anos, esses gastos têm oscilado não mais que um ponto percentual para cima e para baixo, em torno de 17% do PIB. A rigor, não há o que cortar, na medida em que os serviços públicos do País estão em total descalabro, e os salários dos servidores só foram revistos no governo Lula. Assim mesmo, a Fiesp insiste nessa banalidade, que não resiste a sequer uma vista superficial no orçamento.
Isso não é um plano para o Brasil. É um plano para a Avenida Paulista.
J. Carlos de Assis
25/08/2006
O plano da Fiesp, entregue a Lula, repete a cantilena que vem sendo pregada dogmaticamente por Delfim Netto há tempos, e que contém uma dose cavalar de regressividade sob a capa progressista. O elemento simpático é a proposta de uma redução da taxa básica real de juros para 3%. Nisso estamos todos de acordo. Para se chegar a isso, porém, o caminho da Fiesp é o da preservação de um alto superávit primário para redução da dívida pública. A taxa básica não seria uma opção discricionária do Banco Central. Será o resultado da queda da dívida!
É difícil saber a quem a Fiesp quer enganar, se a Lula, se ao povo ou se a si mesma. A taxa básica de juros é uma decisão discricionária do Banco Central. Se fosse o resultado de forças de mercado, não era necessário existir banco central, pois praticamente sua única função atual nas economias capitalistas é fixar a taxa básica de juros. Claro, o BC pode levar em conta outros fatores, como, principalmente, a situação cambial para fixar a taxa básica de juros. Isso, porém, nada tem a ver com nível absoluto ou relativo da dívida pública.
Essa idéia de vincular a taxa básica de juros à dívida pública é um fetiche oriundo de uma teoria totalmente desmoralizada em seu próprio pais de origem, os Estados Unidos, e que aqui nossos formuladores insistem em levar a sério. Essa teoria diz que o sujeito que tem uma fortuna em dinheiro líquido não investe em títulos públicos se a dívida ultrapassar determinada relação com o PIB – a qual nunca é claramente especificada. Na Europa, essa relação foi fixada, pelo Tratado de Maastricht, em 60% do PIB. No nosso caso, como somos negros e mulatos, é menos.
Na verdade, nem há muito a descobrir. O instrumento para reduzir a relação dívida/PIB e promover o déficit nominal zero é o corte de gastos públicos não financeiros. Nos últimos dez anos, esses gastos têm oscilado não mais que um ponto percentual para cima e para baixo, em torno de 17% do PIB. A rigor, não há o que cortar, na medida em que os serviços públicos do País estão em total descalabro, e os salários dos servidores só foram revistos no governo Lula. Assim mesmo, a Fiesp insiste nessa banalidade, que não resiste a sequer uma vista superficial no orçamento.
Isso não é um plano para o Brasil. É um plano para a Avenida Paulista.