18 agosto 2006
'É preciso repensar valores do capitalismo'
Valor Econômico
17/08/2006
O economista André Lara Resende está convencido de que é fundamental "repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa". "Acredito que este é o grande impasse de nosso tempo: a incompatibilidade entre o sistema mais eficiente na geração de riqueza e a valorização da vida pública e da cidadania, indispensáveis para dar sentido à riqueza material", disse Resende no discurso de agradecimento ao prêmio Economista do Ano, em cerimônia realizada na noite de terça-feira.
Hoje, porém, sua visão é outra: "Constato que a superação da inflação crônica não é condição de suficiência para a retomada do crescimento, e também já não tenho certeza de que o mero crescimento seja condição para a superação do subdesenvolvimento."
O que espanta, segundo ele, é que esse progresso material não foi acompanhado por uma "percepção de melhora na qualidade de vida" - pelo contrário, como indicariam a crise da segurança, a superpopulação dos grandes centros urbanos e o descrédito da política.
Para explicar esses problemas, que não são exclusivamente brasileiros - México e Argentina também vivem situação semelhante -, Resende passou a analisar o moderno capitalismo de massa e sua incompatibilidade com a vida pública e a cidadania. Segundo ele, "o moderno capitalismo de massa revelou-se imbatível como sistema de produção de riqueza. Sua superioridade foi de tal forma esmagadora que não parece haver, hoje, alternativa para a organização da economia", disse. O problema é que o sistema não é capaz de resolver "de forma automática a questão das desigualdades e da exclusão social", o que dependeria "essencialmente da vida pública, da política e da cidadania".
A questão é que a desvalorização da política tem "raízes profundas" na própria modernidade, devido a características como a valorização do trabalho e da vida privada: "Se não existe alternativa à altura do capitalismo para a criação de riqueza, se este capitalismo é incapaz de sanar a questão da desigualdade, que depende essencialmente da valorização da dívida pública, e a desvalorização da política tem suas raízes justamente no desenvolvimento da mentalidade capitalista moderna, estamos diante de um desafio monumental." Nesse cenário, superar essa incompatibilidade é decisivo para superar o subdesenvolvimento e transformar os países em "sociedades mais democráticas e equânimes." O imperativo, então, "é repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa".
Valor Econômico
17/08/2006
O economista André Lara Resende está convencido de que é fundamental "repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa". "Acredito que este é o grande impasse de nosso tempo: a incompatibilidade entre o sistema mais eficiente na geração de riqueza e a valorização da vida pública e da cidadania, indispensáveis para dar sentido à riqueza material", disse Resende no discurso de agradecimento ao prêmio Economista do Ano, em cerimônia realizada na noite de terça-feira.
Hoje, porém, sua visão é outra: "Constato que a superação da inflação crônica não é condição de suficiência para a retomada do crescimento, e também já não tenho certeza de que o mero crescimento seja condição para a superação do subdesenvolvimento."
O que espanta, segundo ele, é que esse progresso material não foi acompanhado por uma "percepção de melhora na qualidade de vida" - pelo contrário, como indicariam a crise da segurança, a superpopulação dos grandes centros urbanos e o descrédito da política.
Para explicar esses problemas, que não são exclusivamente brasileiros - México e Argentina também vivem situação semelhante -, Resende passou a analisar o moderno capitalismo de massa e sua incompatibilidade com a vida pública e a cidadania. Segundo ele, "o moderno capitalismo de massa revelou-se imbatível como sistema de produção de riqueza. Sua superioridade foi de tal forma esmagadora que não parece haver, hoje, alternativa para a organização da economia", disse. O problema é que o sistema não é capaz de resolver "de forma automática a questão das desigualdades e da exclusão social", o que dependeria "essencialmente da vida pública, da política e da cidadania".
A questão é que a desvalorização da política tem "raízes profundas" na própria modernidade, devido a características como a valorização do trabalho e da vida privada: "Se não existe alternativa à altura do capitalismo para a criação de riqueza, se este capitalismo é incapaz de sanar a questão da desigualdade, que depende essencialmente da valorização da dívida pública, e a desvalorização da política tem suas raízes justamente no desenvolvimento da mentalidade capitalista moderna, estamos diante de um desafio monumental." Nesse cenário, superar essa incompatibilidade é decisivo para superar o subdesenvolvimento e transformar os países em "sociedades mais democráticas e equânimes." O imperativo, então, "é repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa".